Desde que Annie Haslam e Michael Dunford revitalizaram o
Renaissance, em 2009, a banda não parou mais de fazer shows. O falecimento de
Dunford não deteve a veterAnnie, que até lançou material inédito de estúdio, em
2014, resenhado no blog.
Ano passado, os britânicos excursionaram pelo norte dos
EUA e em diversos espetáculos tocaram com a Renaissance Chamber Orchestra.
Mediante crowdfunding – termo cybercorporativo
pra vaquinha – entre fãs, conseguiram verba pra financiar que uma das
performances fosse filmada e lançada em CD duplo e DVD.
Assim, há algumas semanas saiu A Symphonic Journey,
registro da apresentação no Keswick Theater, na cidade de Glenside, na
Pennsylvania, dia 27 de outubro, de 2017. Este texto trata do CD duplo; não
tenho mais saco há anos pra ver show em DVD, streaming, o que seja.
Com carreira de décadas e repertório imenso, ficam
lacunas, como a ausência de Northern Lights, única canção a arranhar o fundinho
do Top Ten de sua terra natal. Talvez pudesse estar no lugar de Island.
O Renaissance é o protótipo da banda de rock progressivo,
que serve de alvo perfeito pra detratores que sempre se queixaram da ausência
de rock na fórmula. De fato, o único momento mais roqueirinho é a derradeira
Ashes Are Burning e mesmo assim, porque é a hora em que cada músico tem seus
segundos individuais pra brilhar, então há uma guitarra mais proeminente. Mas,
o piano é jazz e o predomínio, claro, é orquestral.
E fãs do lado estritamente sinfônico não terão do que
reclamar. A instrumentação é suiçamente precisa e a voz da setentona Annie
Haslam impressiona pela manutenção do alcance e cristalinidade. A folky At The Harbour, com seu delicado
arranjo, destaca à perfeição essa voz. Pra quem gosta de virtuosismo aqui e
acolá, Haslam ainda tem fôlego, como no apoteótico final de Mother Russia.
Essas canções foram feitas com pretensões orquestrais, então os oboés e cordas
caem perfeitamente. Mother está imperial, assim como A Song For All Seasons,
Prologue e A Trip To The Fair, esta última também alvo perfeito pros acusadores
das letras do prog sinfônico não passarem de desculpa pra variações
instrumentais. Que seja, mas é lindo.
Felizmente, foram incluídas faixas do renascimento desse
milênio e que se encaixam muito bem aos clássicos sinfônicos dos 70’s. A longa
e variada Symphony Of Light e a maviosa Grandine Il Vento demonstram que o
Renaissance deveria lançar mais material inédito de estúdio. Sem se preocupar
em ser “acessível”. Os fãs que restaram esperamos outro Scheherazade &
Other Stories!
Até porque já tentaram ser mais concisamente pop e de
nada adiantou em termos de vendagens e paradas de sucesso. Há quarenta anos, um
par de álbuns trouxe umas coisas mais tocáveis em rádio, tentativas que A
Symphonic Journey não esquece, porque produziu gostosuras folk como Carpet Of
The Sun, com sua cornetinha que prenunciava em 7 anos o tema de abertura de
Dynasty (!) e Kalynda, delicada balada pescada do desnorteado Azure d’Or
(1979), no qual o Renaissance buscava em vão um novo rumo, após o terremoto disco music e o tsunami punk.
Ainda é muito prazeroso
jornadear com o Renaissance.
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