quinta-feira, 18 de outubro de 2018

TELONA QUENTE 258


Roberto Rillo Bíscaro

Desde pelo menos Carrie, a Estranha (1976), que menininhas abusadas exercem terríveis vinganças, usando seus até então desconhecidos e indomados poderes de telecinesia. Variação importante são os humilhados que descontam seus revezes, incendiando tudo com sua pirocinese, como em Chamas da Vingança (1984).
Em 2013, a diretora/roteirista Marina de Van adicionou importante entrada a essa lista, com Dark Touch (O Lado Sombrio, por aqui, parece). A coprodução Irlanda/França/Suécia centra-se na perturbada garota Niamh (a ótima Missy Keating), cuja família é brutalmente assassinada no interior da Irlanda. Sem pista ou rastro que ajude a polícia a desvendar o mistério, o crime permanece sem solução e a garota passa a viver com um casal e seus dois filhos.
Traumatizada, Niamh é compreensivelmente distante e assustadiça, dada a períodos de torpor, expressos à perfeição pelos olhares mortiços da atriz. Como nos terrores mais eficazes, a força de Dark Touch reside no fato de que o sobrenatural e o gore são modos de ficcionalizar o que lemos nos jornais diariamente: gente que extravasa seu ódio/pavor/trauma/recalque acabando com a munição de metralhadoras em quem não teve nada a ver com a situação.  
Porque Niamh foi extremamente machucada física e psicologicamente pela família, é uma dessas pessoas com a metralhadora, em seu caso, traduzida em poderes psíquicos.
Ainda que meio tresloucado, o desfecho não é edificante, redentor bonito ou agradável.
Dark Touch não virará clássico, mas perturba, porque reconhecemos na garota vingadora, o arquétipo pra nossos próprios medos. Não é pra quem curte horror modinha ou divertidinho, onde no fim tudo dá certinho ou fica espacinho aberto pra conitinuaçãozinha.

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