Roberto Rillo Bíscaro
Privacidade torna-se coisa do passado. Pras gerações bem
jovens, anonimato pode ser tão alienígena quanto papel carbono. O debate sobre o fim da privacidade acontece
há anos, devido a fenômenos como mineração de dados, reconhecimento facial, uso
de perfis em redes sociais, vigilância cibernética, hiperconexão, rastreamento
geográfico, cyberbullying e também a
ubiquidade de câmeras de segurança. Em séries policiais, é comum caçar
criminosos traçando o uso que faz do cartão de crédito e rastreando celulares.
O roteirista e diretor neozelandês Andrew Niccol imaginou
futuro não tão distante, em que todo mundo estará catalogado e nossa mente
funcionará como eterna internet/rede social/banco de dados. Todas as memórias
poderão ser acessadas e ao se andar pelas ruas, legendas descreverão pessoas e
objetos. Essa é a premissa de Anon (2018), produção britânica que a Netflix
anexou a seu catálogo.
Numa cinzenta, modorrenta e semideserta Nova York (há um
galerista do Upper East Side, isso é Grande Maçã), um(a) hacker está acessando o ponto de vista de indefesas vítimas, que
acabam assassinadas com balaço no meio dos olhos. A principal suspeita é uma
jovem hacker, experta em apagar experiências
indesejáveis do CV memorial e insertar outras, mais palatáveis ou socialmente
aceitas. Além disso, Anon é capaz de construir cenas e inseri-las com maestria
no fluxo da memória, além de saber manipular até as imagens que alguém estão
vendo no presente, desde que consiga acessar o cérebro da pessoa.
Complicado superconceito de ficção-científica, que
necessita de muita explicação/exposição, a fim de erigir e solidificar a
mitologia. O preço pago é lentidão e uma história policial que jamais decola e
tem desfecho morno. O esforço está quase todo canalizado em
apresentar/compreender o mundo ficcional de Anon, tanto por parte do
realizador, quanto do espectador.
Aparentemente, a vontade era fazer uma espécie de cybernoir. Sal Frieland é o policial
deprimido e cansado, que se encanta pela misteriosa antagonista.
Quieto e escuro, Anon não é indicado pra fãs de thrillers eletrizados, mas nerds, geeks, fãs de sci fi
cabeça e toda uma nova geração enamorada desses temas por causa de Black Mirror, poderão ficar grudados na tela pra absorver o conceito.
Eu fiquei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário