segunda-feira, 26 de novembro de 2018

CAIXA DE MÚSICA 341


Roberto Rillo Bíscaro

Depois da explosão do punk e da disco music, as coisas para o rock progressivo ficaram feias. Nos anos 80, só se sobressaíram as bandas que popearam, como Genesis e Yes. Nos 90’s, houve ressurgência do subgênero, com o King Crimson como fonte de muita influência.
Foram duas bandas que ecoaram o lado mais místico e melódico do prog setentista, porém, que se destacaram em vendas: a norte-americana Spock’s Beard, do Neal Morse e a sueca Flower Kings, do Roine Stolt. Um dos ataques ao rock sinfônico era que faltava o primeiro elemento, em detrimento de excesso do segundo. A geração 90’s conseguiu balancear todas as características do symphonic prog com pegada mais rock, mas só de vez em quando, nada de soar metal ou mesmo muito agressivo.
O Flower Kings semeou florada pujante de projetos paralelos; parece que todo (ex-) membro tem outra(s) banda(s). O baixista Jonas Reingold fundou o Karmakanic, em 2002 e seu trabalho mais recente é o álbum DOT, de 2016, seu quinto de estúdio.
Embora sueco, o Karmakanic faz como quase qualquer banda prog: batiza e canta tudo em inglês. DOT significa ponto e referencia a afirmação do astrônomo Carl Sagan a partir de uma fotografia enviada pela nave Voyager, em 1990. Nosso planeta tão metido a se achar o suprassumo, não passava de poeirinha cósmica, fotografado a tatos bilhões de quilômetros de distância.
Com formação de sexteto e convidados para sax, vocalizações corais e outros instrumentos, DOT tem meia dúzia de faixas perfazendo mais de 50 minutos, mais da metade dos quais é ocupada pelo épico God The Universe And Everything Else No One Really Cares About.
Dividida em duas partes, que abrem e encerram DOT, a parte inicial é o filé mignon. Seus quase 25 minutos são introduzidos por estática eletro-espacial. Manso piano, baixo meio jazz – subgênero referenciado em mais de um momento – encorpam-se aos poucos até vibrarem como energético rock, mas jamais metaliza e os momentos semi-barulhentos são até poucos. Com grandes vocais, inclusive com pedaço com coro infanto-feminino, todos os instrumentos têm chance de brilhar, porque lindas linhas melódicas se sucedem, com tempo suficiente para se desenvolverem e transformarem-se em outras. Fãs da linha prog mais tecladeira espetacularizada, à ELP, sentirão falta de firulas exibicionistas numa faixa que tem teclados, claro, mas tem mais solos lindos reservados à guitarra. Com letra que reconhece a pequenez humana, embora não nos relegue à condição de “nada” (we are all, yet nothing), já valeria a audição do álbum; nada que vem depois alcança tal magnitude.
Os seis minutos da parte 2 de God... começam com grande trabalho de baixo e teclado meio ambient, contrapontuando com percussão em ritmo de marcha. Lá pela metade, o clima cambia pro de guitarra plangente, teclado meio eclesiástico ao fundo e piano delicado. Demora um pouco pra engatar; talvez se estivesse integrada à grande parte 1 ficasse melhor. Encerra bem o álbum, mas...
Higher Ground é o segundo ponto alto, garantindo 35 minutos de excelente prog sinfônico num álbum de 50; tá ótimo! Com letra sobre a infância de Reingold numa medíocre cidadezinha sueca, a canção abre até meio pop, mas se adensa e a segunda metade atinge zênite sinfônico.
O momento mais comercial é o AOR, de Steer By The Stars, que teria feito bonito nos anos 80. Traveling Minds tem baixo jazzy com guitarra plangente, meio hino pra show. Boa, mas não se destaca no mar de canções do estilo.
DOT é irregular em seu padrão total de qualidade, mas nos momentos em que é bom, brilha.

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