sexta-feira, 16 de novembro de 2018

PAPIRO VIRTUAL 129



Roberto Rillo Bíscaro

Desde o fim do ano passado, voltou minha monomania sobre os anos 1950: além de rever filmes de ficção-científica, li sobre a histeria dos discos-voadores, cinema, bossa-nova, enfim, coisas gerais sobre os anos dourados (pra quantos?).
Após pausa pra ler livros escritos por ex-alunos (Desamparo e Nunca Mais Olhei Para Trás), retomei minha pesquisa, conferindo a dissertação de mestrado Filmes do Fim do Mundo: Ficção-Científica e Guerra-Fria (1951/1964), defendida por Igor Carastan Noboa, em 2010, na faculdade de História, da Universidade de São Paulo. 
O historiador escolheu os filmes O Dia em que a Terra Parou (1951), Vampiros de almas (1956), A Bolha (1958) e Limite de Segurança (1964) pra discutir como representavam o contexto da Guerra-Fria, que trazia a possibilidade real de aniquilamento planetário, mediante guerra nuclear entre EUA e URSS.
A correlação entre a produção sci-fi da década e as ansiedades sociais proliferantes é fartamente conhecida, desde talvez o ensaio de Susan Sontag sobre os filmes de monstros, ainda nos anos 1960. Noboa não inova nesse sentido, mas suas análises são pertinentes e desvelam possibilidades de leituras em cada filme, além de fornecer dados históricos úteis ao entendimento e justificativa das leituras.
Duas escolhas resultariam em pedidos de explicação, caso eu tivesse sido da banca examinadora. Em cada um dos filmes, ele seleciona uma sequência, que diz analisará quadro a quadro para corroborar suas interpretações. Não percebi direito qual a importância disso para o mais interessante, que são as possibilidades de leitura dos filmes. Além disso, Noboa mais descreve as cenas, do que as analisa.
Embora os 4 filmes realmente possam ser linkados com as ansiedades sobre energia atômica e tecnologia em geral, na conclusão, o autor rebolou pra achar pontos em comum entre os quatro filmes, especialmente, porque Limite de Segurança pertence a esfera ligeiramente distinta dos demais. Até sua linhagem diretorial é mais “nobre”, afinal é um Sidney Lumet (e um de meus prediletos de ficção-científica nuclear). Outra coisa que Noboa poderia ter se atentado é que a suposta equação de igualdade de perdas, proposta pelo presidente norte-americano na crise dos mísseis, em Limite de Segurança, não é tão equitativa assim. A imolação de Moscou e Nova York não é a mesma coisa: A URSS perderia todo seu governo central, os EUA, não, e isso faz bastante diferença, não apenas simbólica.   
Filmes do Fim do Mundo: Ficção-Científica e Guerra-Fria (1951/1964) é uma boa fonte em nosso idioma pra quem quer começar a se aventurar pelas relações cinquentistas entre cinema de ficção-científica e Guerra-Fria. Dá pra baixar e ler grátis.


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