Roberto Rillo Bíscaro
Dobradinha de séries frustrantes, do catálogo da Netflix, portanto, totalmente acessíveis pra você evitar!
Dobradinha de séries frustrantes, do catálogo da Netflix, portanto, totalmente acessíveis pra você evitar!
Em fevereiro, a Netflix discretamente adicionou minissérie
japonesa ao catálogo. Como jamais vira uma, os capítulos são curtinhos (média
de 25 minutos) e prometia suspense, dei chance a Re:Mind (2017).
O título é brincadeira vocabular pós-modernete. Re: é
usado como diminutivo de regarding
to/referring to, permitindo uma tradução meio como Sobre a Mente. Mas,
também é o verbo remind, uma das
formas de se dizer lembrar. Supus que seria divertido thriller psicológico teen
e isso atraiu também. Mesmo que tivesse pesquisado antes e descoberto que as
garotas são dum grupo pop japa, teria assistido. Porque amo menininha cantando
J-Pop (embora não fosse isso que esperasse) e porque tava a fim d’emoções
baratas.
Re:Mind atiça, há que admitir. Na véspera da formatura do
ensino médio, 11 garotas acordam encapuzadas, ao redor duma mesa solenemente
posta, numa sala decorada ao exagero. Descobrem que têm os pés presos num
alçapão. Do teto, de vez em quando caem bichos escrotos (calma, ratinhos e
sapinhos; é suspense migucho, gentchy!) e líquido gosmento, eew! Logo os
segredos e podres começam a emergir e a cada lembrança de bullying ou fascistice, as luzes se apagam e uma menina some.
A produção conjunta da TV Tokyo e da Netflix não deve ter
saído muito caro, porque é quase toda filmada no interior escuro do misterioso
e elegante cativeiro. Na tradição dos suspenses de sala-de-estar e nada alienígena
pra quem aguenta falação de Big Bosta.
Os capítulos conseguem manter a curiosidade, porque
queremos saber quem as sequestrou, como fazia pra que desaparecessem num piscar
de lâmpadas. Também seguram bem a tensão, com música incidental boa e as revelações
dos pecados das gurias, que envolvem grupo justiceiro no Twitter, escândalos
sexuais e afins.
A frustração de Re:Mind vem na resolução, que não
responde a diversas perguntas, nem mesmo às mais óbvias, levantadas neste
texto. Aprendemos quem raptou, mas é pífio e de nada ajuda um capítulo
ridículo, o 13º, que pretende contextualizar uma história que já dava pra
entender. O que queríamos saber eram detalhes técnicos, tipo onde as gurias
estavam, como se passavam as coisas, enfim, na época em que mágicos explicaram
todos os segredos por trás de suas ilusões, queremos conhecer a mecânica das
coisas. Não gostamos muito mais de dúvidas, afinal, investimos tempo nos
capítulos e queremos a conclusão da história.
Se quiser experiência incompleta, arrisque-se com
Re:Wind. Pra mim, não valeu a pena. Ah, e as japinhas trabalham mal pra burro! Isso
eu perdoaria se a trama fosse (bem) concluída.
Dois fatores levaram-me a ver os 6 episódios de White
Gold (2017), da BBC, disponibilizados na Netflix:
a)
A série se passa em 1983. Há um marcador Anos
80, neste blog, então, percebe-se meu fanatismo por aquele decênio.
b)
James Buckley e Joe Thomas, respectivamente o
Jay e o Simon de The Inbetweeners, estão no elenco. E amo demais a escatologia
daquela série.
Situada na Inglaterra mergulhada de cabeça no
neoliberalismo de Thatcher, White Gold pretende-se como sátira do suposto
capitalismo selvagem dos anos 80, década dos yuppies, da extravagância, de tudo
grande, em resposta à recessão pós-Crise do Petróleo.
Os programas habitacionais da Dama de Ferro permitiram
que a classe-média baixa e nem tanto realizasse o sonho da casa própria a
preços módicos. Pra turbinar as moradas havia centenas de empresas amigas
lançando todo tipo de produtos, um deles janelas isolantes, feitas de um novo
tipo de plástico, o Ouro Branco do título. Eram essas marcas de status que
realmente endividavam os “babacas”, nos termos de Vincent Swan, vendedor-mor
duma revendedora de janelas, que caracteristicamente jamais se dá conta que é
tão babaca em termos de fome por aparência, como os de que zomba.
Vincent Swan parece saído de Glengarry Glen Ross (Sucesso
a Qualquer Preço), de David Mamet. Vestido e gingando pra parecer cool, é a Lei de Gerson oitentista:
trapaceia os companheiros, trai a esposa, enfim, um vigarista sem coração.
Brian (Buckley) e Martin (Thomas) são seus colegas de trabalho, versões
“adultas” de seus personagens bem mais divertidos de The Inbetweeners.
White Gold esquece de detalhe muito importante numa
sitcom: é desprovido de graça de qualquer tipo, seja pastelônica, seja irônica.
Sai-se bem em caracterizar a suposta cupidez oitentista, mas não causa risadas
ou sorrisos. Também não é drama, porque é realizado em chave supostamente
cômica. O resultado são histórias até interessantezinhas, mas que vemos com
cara de nada.
Outro problema mal-equacionado é o protagonista
antipático, uma das coisas mais difíceis de resolver, porque é pedir pra
audiência empatizar com um canalha. Quando bem-escritos e atuados, criam-se
personagens memoráveis. Pra ficar nos 80’s, mas em chave dramática, como
esquecer de JR Ewing e Alexis Morrel Carrington Colby Dexter Rowan,
respectivamente de DALLAS e Dynasty (ambos mencionados em White Gold)? Mas,
eles tinham carisma, sorriso arrasador, vestuário mirabolante, enfim, como se
dizia na época: eram gente que “amávamos odiar” (sempre amei amá-los!). Mas,
tem mais: esses vilões sempre caíam, - quando caíam – de pé; praticamente
tinham superpoderes. Lembram-se da mais recente Victoria Grayson, que só
realmente se ferrou lá pro final?
Em White Gold, Vincent Swan não passa duma salafrário de
classe-média que quer se dar bem, mas em última instância se ferra quase tanto
quanto os demais, embora mantenha a pose. É comédia, alegarão, mas daí,
sobrepõe-se o problema anterior: como o tom cômico azedou e não dá nem pra rir
dele, Vincent Swan não resulta mais do que um sujeito apenas terrivelmente
antipático. E de nada ajudam as tiradas direcionadas ao telespectador, ao
estilo do outrora interessante House Of Cards norte-americano (a versão britânica é outro naipe, sorry, Mr. Underwood). Enfim, Swan não tem nada de
especial ou divertido pra eu pelo menos tolerá-lo; é um zé-ruela pretensioso. E
por que eu gostaria de ver segunda temporada disso? A BBC prometera, mas daí, Ed Westwick (o Vincent!) foi acusado de assédio sexual e a emissora suspendeu a produção. Não me importa.
A salvação de White Gold é
a trilha-sonora, repleta de Duran Duran, Police, Ultravox, Culture Club, The
Cure, Haircut 100 e tanta coisa mais. Mas daí, compensa montar playlist em
algum serviço de streaming e ouvir só as canções, sem aguentar aquela cara de
fuinha do Vincent.
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