quinta-feira, 1 de novembro de 2018

TELONA QUENTE 260


Roberto Rillo Bíscaro

Fã de slasher films, a franquia Terror no Pântano passou-me totalmente despercebida. Eu sequer lembrara de haver assistido ao primeiro filme, de 2006. De bobeira, outro dia, deu ganas de ver uma matançazinha do bem e botei Hatchet pra rodar. Nas primeiras cenas, recordei que o vira, apenas não dera sequência à série de 4 filmes.
O diretor Adam Green é fãnzaço do subgênero. Já teve banda de rock chamada Haddonfield (a cidade de Michael Myers) e participou do videojogo de Sexta-Feira 13, lançado ano passado. Quando percebi Robert Englund morrendo logo na cena de abertura do primeiro Terror no Pântano (TnP), foi que me dei conta de já tê-lo visto. Acha que eu teria perdido filme com um dos ícones do slasher clássico oitentista?
Hatchet – em seu título original – é como Sexta-Feira III e o pouco conhecido The Burning (1981, Chamas da Morte, em português) turbinados pelo exagero da era asiática pós-Jogos Mortais. Tripas arrancadas, cabeças partidas ao meio, litros de sangue jorrando tão espalhafatosamente que nem chega a dar medo ou nojo. É fake pra rir.
Nos pântanos da Louisianna, vive o deformado Victor Crowley – a cara do Cropsy, de The Burning – que mata todo mundo que se atreve a invadir seu pedaço de floresta, onde vaga eternamente á procura do pai (Jason Voorhees era edipiano). Usando toda sorte de implementos agrícolas – surgidos do nada – e aparecendo em sequências totalmente ilógicas (com um roteiro desses, quem pode exigir lógica?), Victor estraçalha grupo de turistas encalhados em um barco fluvial.
Ao contrário dos slashers de outrora, TnP não traz bando de tens intragáveis pra gente não se importar quando morram. Tem alguns até simpáticos, mas continua a associação do sexo com morte e o negro como alivio cômico. Essa é a vibe de Hatchet, brincar com as convenções slasher, vide o fim, que inverte o término do primeiro Sexta-Feira 13. 
O segundo capítulo saiu em 2010, e, ainda tem mais em comum com a franquia de Jason Voorhees, que chega a ser citado, quando a mitologia de Victor Crowley é explicada ao grupo de antipáticos caçadores, dispostos a capturá-lo.
Os eventos se passam imediatamente após aos do primeiro filme. Marybeth quer voltar ao pântano pra resgatar os corpos de sua família lá descoberta. Não fossem decisões estúpidas, inexistiria a maior parte dos filmes de terror! A personagem é a mesma no dia sequente ao massacre da primeira parte, mas a atriz é outra - como não amar?
Com a “ajuda” dum pai de voodoo, ou seja lá o nome que recebem, um grupo de mercenários é reunido pra ir à caça de Victor Crowley. Sem personalidades distintivas a não ser algum aspecto repulsivo, essa gente claramente está na tela pra morrer, não é pra se importar com elas. E uma cena explicita a convenção do sexo punido com morte. Quer mais slasher que isso?
Até a estrutura é clássica: uma morte no começo, daí longo hiato de encheção de linguiça, até a montanha-russa de esquartejamentos final, aliás, apropriadamente aberto à continuação. 


Terror no Pântano é tão Sexta-Feira 13, que o ator interpretando Victor Crowley foi Jason Voorhees em 4 filmes da franquia. Kane Hodder mita nos círculos slasher: também já encarnou Leatherface, de Massacre da Serra Elétrica e foi a mão enluvada de Freddy Krueger, em Jason Goes to Hell: The Final Friday. O gigantão sexagenário tem credenciais.
Com tantos elos entre Hatchet e Friday the 13th, a terceira parcela daquele, de 2013, não poderia abrir de modo mais familiar a qualquer fã de Crystal Lake. Imediatamente após aos eventos da parte 2, Marybeth surge atordoada e coberta de sangue em uma delegacia. Detalhe: a atriz do primeiro filme topara voltar, então a protagonista tem ainda outra cara!
Detida por suspeita de homicídios em massa, em vão a moça tenta explicar que o assassino era Victor Crowley. Até que a equipe forense encontra seus restos e os leva a um trailer. Bem ao estilo Jason, Victor escapole da sacola mortuária e a diversão massacrante começa.
Mas, Terror no Pântano 3 já apresenta trechos daqueles filmes mais comandos em ação, porque é um bando de fuzileiros querendo pegar Crowley. Então, há aqueles momentos de rajadas intermináveis de metralhadoras e não a fórmula slasher tão gostosa de teens maconheiros e sexualmente ativos sendo trucidados.
Não é ruim, continua seu jorro de exageros, mas preferi os anteriores (mesmo que também não tenham tido adolescentes, a rigor).


Nos Sextas-Feiras 13 jamais se explicou como Jason revive a cada sequência. O segredo de Victor Crowley sabemos: ele é tipo aqueles computadores programados pra não guardarem nenhuma alteração entre ligada e outra. A cada noite, o grandalhão deformado tem que procurar o pai até encontrar. Não importa o bagaço que tenham transformado seu corpo, ele volta.
Só não se sabe como então ficou uma década inativo até ressurgir bem à moda Voorhees, no recente Victor Crowley (2018). Depois de 3 filmes passados em trinca de dias, Adam Green trouxe seu assassino pro 2016 farto de smartphones e autorreferências supostamente irônicas e autoconscientes. Pena que é o mais tedioso da franquia.
Pelo jeito, Marybeth faleceu, porque o único sobrevivente é o engraçado Asian-American de Hatchet III. Desde o massacre no pântano, ele vive faturando em cima de sua subnotoriedade. Quando é convidado pra voltar ao charco, juntamente com uma equipe de filmagens, Voctor revive e começa a matança. Só que não muito.
O problema de Victor Crowley, o filme, é tentar ser por demais paródico e “crítico” do hedonismo da era da celebridade fácil e não sobrar tempo pro que qualquer fã de slasher quer: mortes, mortes, mortes! E nas poucas que há, o intrometido tom cômico agua a diversão. As cenas são intermináveis, porque cheias de diálogos metidos a espertinhos, mas que já foram feitos melhor em qualquer dos trocentos filmes que fingem detonar a era a qual tanto amam.
Não recomendo como introdução à franquia e, pra falar a verdade, nem de forma alguma.

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