Roberto Rillo Bíscaro
Fã de slasher films,
a franquia Terror no Pântano passou-me totalmente despercebida. Eu sequer
lembrara de haver assistido ao primeiro filme, de 2006. De bobeira, outro dia,
deu ganas de ver uma matançazinha do bem e botei Hatchet pra rodar. Nas
primeiras cenas, recordei que o vira, apenas não dera sequência à série de 4
filmes.
O diretor Adam Green é fãnzaço do subgênero. Já teve
banda de rock chamada Haddonfield (a cidade de Michael Myers) e participou do videojogo
de Sexta-Feira 13, lançado ano passado. Quando percebi Robert Englund morrendo
logo na cena de abertura do primeiro Terror no Pântano (TnP), foi que me dei
conta de já tê-lo visto. Acha que eu teria perdido filme com um dos ícones do slasher clássico oitentista?
Hatchet – em seu título original – é como Sexta-Feira III
e o pouco conhecido The Burning (1981, Chamas da Morte, em português)
turbinados pelo exagero da era asiática pós-Jogos Mortais. Tripas arrancadas,
cabeças partidas ao meio, litros de sangue jorrando tão espalhafatosamente que
nem chega a dar medo ou nojo. É fake
pra rir.
Nos pântanos da Louisianna, vive o deformado Victor
Crowley – a cara do Cropsy, de The Burning – que mata todo mundo que se atreve
a invadir seu pedaço de floresta, onde vaga eternamente á procura do pai (Jason
Voorhees era edipiano). Usando toda sorte de implementos agrícolas – surgidos
do nada – e aparecendo em sequências totalmente ilógicas (com um roteiro desses,
quem pode exigir lógica?), Victor estraçalha grupo de turistas encalhados em um
barco fluvial.
Ao contrário dos slashers de outrora, TnP não traz bando
de tens intragáveis pra gente não se importar quando morram. Tem alguns até
simpáticos, mas continua a associação do sexo com morte e o negro como alivio
cômico. Essa é a vibe de Hatchet,
brincar com as convenções slasher,
vide o fim, que inverte o término do primeiro Sexta-Feira 13.
O segundo capítulo saiu em 2010, e, ainda tem mais em
comum com a franquia de Jason Voorhees, que chega a ser citado, quando a
mitologia de Victor Crowley é explicada ao grupo de antipáticos caçadores,
dispostos a capturá-lo.
Os eventos se passam imediatamente após aos do primeiro
filme. Marybeth quer voltar ao pântano pra resgatar os corpos de sua família lá
descoberta. Não fossem decisões estúpidas, inexistiria a maior parte dos filmes
de terror! A personagem é a mesma no dia sequente ao massacre da primeira
parte, mas a atriz é outra - como não amar?
Com a “ajuda” dum pai de voodoo, ou seja lá o nome que recebem, um grupo de mercenários é
reunido pra ir à caça de Victor Crowley. Sem personalidades distintivas a não
ser algum aspecto repulsivo, essa gente claramente está na tela pra morrer, não
é pra se importar com elas. E uma cena explicita a convenção do sexo punido com
morte. Quer mais slasher que isso?
Até a estrutura é clássica:
uma morte no começo, daí longo hiato de encheção de linguiça, até a
montanha-russa de esquartejamentos final, aliás, apropriadamente aberto à
continuação.
Terror no Pântano é tão Sexta-Feira 13, que o ator
interpretando Victor Crowley foi Jason Voorhees em 4 filmes da franquia. Kane
Hodder mita nos círculos slasher:
também já encarnou Leatherface, de Massacre da Serra Elétrica e foi a mão
enluvada de Freddy Krueger, em Jason Goes to Hell: The Final Friday. O gigantão
sexagenário tem credenciais.
Com tantos elos entre Hatchet e Friday the 13th, a
terceira parcela daquele, de 2013, não poderia abrir de modo mais familiar a
qualquer fã de Crystal Lake. Imediatamente após aos eventos da parte 2,
Marybeth surge atordoada e coberta de sangue em uma delegacia. Detalhe: a atriz
do primeiro filme topara voltar, então a protagonista tem ainda outra cara!
Detida por suspeita de homicídios em massa, em vão a moça
tenta explicar que o assassino era Victor Crowley. Até que a equipe forense
encontra seus restos e os leva a um trailer. Bem ao estilo Jason, Victor
escapole da sacola mortuária e a diversão massacrante começa.
Mas, Terror no Pântano 3 já apresenta trechos daqueles
filmes mais comandos em ação, porque é um bando de fuzileiros querendo pegar
Crowley. Então, há aqueles momentos de rajadas intermináveis de metralhadoras e
não a fórmula slasher tão gostosa de teens maconheiros e sexualmente ativos
sendo trucidados.
Não é ruim, continua seu
jorro de exageros, mas preferi os anteriores (mesmo que também não tenham tido
adolescentes, a rigor).
Nos Sextas-Feiras 13 jamais se explicou como Jason revive
a cada sequência. O segredo de Victor Crowley sabemos: ele é tipo aqueles
computadores programados pra não guardarem nenhuma alteração entre ligada e
outra. A cada noite, o grandalhão deformado tem que procurar o pai até
encontrar. Não importa o bagaço que tenham transformado seu corpo, ele volta.
Só não se sabe como então ficou uma década inativo até
ressurgir bem à moda Voorhees, no recente Victor Crowley (2018). Depois de 3
filmes passados em trinca de dias, Adam Green trouxe seu assassino pro 2016
farto de smartphones e autorreferências
supostamente irônicas e autoconscientes. Pena que é o mais tedioso da franquia.
Pelo jeito, Marybeth faleceu, porque o único sobrevivente
é o engraçado Asian-American de
Hatchet III. Desde o massacre no pântano, ele vive faturando em cima de sua
subnotoriedade. Quando é convidado pra voltar ao charco, juntamente com uma
equipe de filmagens, Voctor revive e começa a matança. Só que não muito.
O problema de Victor Crowley, o filme, é tentar ser por
demais paródico e “crítico” do hedonismo da era da celebridade fácil e não
sobrar tempo pro que qualquer fã de slasher
quer: mortes, mortes, mortes! E nas poucas que há, o intrometido tom cômico
agua a diversão. As cenas são intermináveis, porque cheias de diálogos metidos
a espertinhos, mas que já foram feitos melhor em qualquer dos trocentos filmes
que fingem detonar a era a qual tanto amam.
Não recomendo como
introdução à franquia e, pra falar a verdade, nem de forma alguma.
sim
ResponderExcluir