Roberto Rillo Bíscaro
Não cultuo Winston Churchill e acho sacais as
representações do relacionamento dele com a esposa, sempre a paciente estoica,
que o coloca na linha, quando necessário, na vibe “atrás de um grande homem”. Metido a entender de tudo, de
política a pintura e literatura, o estadista é reverenciado frequentemente como
o britânico mais importante de todos os tempos e é compreensível pelo papel que
teve como líder durante os duros anos da Segunda Guerra.
Meio como Lear ou Hamlet, a personagem Churchill tem sido
objeto de desejo de diversos atores. Amados
mios, como John LIthgow e Albert Finney interpretaram o charutudo. Quando
soube que Brian Cox o fez em Churchill (2017), tive que vê-lo. Não me
arrependo: pra quem curte dramas históricos bem dialogados, padrão britânico
pra exportação, o filme acerta em cheio. Se havia samba-exaltação, deveria
haver a categoria filme-exaltação e Churchill é desse tipo.
O título é bem pouco criativo e representativo, porém.
Passa a impressão de cinebiografia abarcante de toda vida ou grande pedaço
dela; do processo de formação dum ícone ou coisa assim. Nada disso, Churchill
recorta menos de uma semana na vida do Primeiro-Ministro.
Hoje, sabemos que a Operação Overlord foi decisiva pra
derrota alemã. Ela teve início com o desembarque dos Aliados nas praias da
Normandia, em 6 de junho de 1944, o “Dia D”. Mais de 1 milhão de soldados
entraram no território francês ocupado pelos nazistas, em ataque anfíbio. O
ancião Sir Winston Churchill descria do plano, baseado em suas experiências da
Primeira Guerra, décadas atrás, em um outro mundo.
Churchill é sobre obsolescência e como encará-la com
dignidade dolorida. Mais jovens, como Eisenhower, entendem melhor o mundo novo,
por isso assumem o controle das operações. E aí reside ponto fulcral que o
roteiro não aborda, mas está subentendido: a obsolescência não é apenas a do
chefe do governo inglês, mas da própria Inglaterra. Os norte-americanos apenas
informam os britânicos sobre os planos pra operação e estes, na figura do
general Montgomery, os colocam em ação. Nesse mundo novo, a Europa era segundo
escalão.
Brian Cox treme o queixo,
expele fumaça pelas narinas feito fumarola, faz um sotaque perfeito e tem até
um ou dois momentos de solilóquio shakespeariano: os velhos do Bardo conjuram
deuses e bruxas, o pio Churchill reza pedindo que o clima impeça a operação.
Muito épico, com fundo musical coral e tudo.
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