Roberto Rillo Bíscaro
Funkeiros brasileiros deveriam se apressar para
aproveitar a grave linha de teclado e a semelhança com o português do baby talk inicial da faixa Boom Boom
Tap: tem hora que parece com “tudo bem”, falado bem meiguinho, bem miguxo
tchuca-tchuca-miga, parece até homenagem aos momentos Boing Boom Tschak, do
Kraftwerk, porque também tem linha de teclado agudo-borbulhante
super-referencial. Mas, não é homenagem, é sarcasmo: o balbuciar é cortado por
seco e duro FUCK YOU, seguido de célere correnteza jungle.
Lançado no dia de Finados, o sétimo álbum de estúdio do
The Prodigy sistematicamente estraçalha qualquer momento de meiguice, com sua
agressividade Big Beat. Em mais de um momento durante a dezena de canções,
vozinhas finas e momentos que fingem que vão virar pop saltitante são
soterrados com sirenes de ataque aéreo e pura artilharia sintética. Títulos
como Timebomb Zone e Fight Fire With Fire falam por si, num álbum que não dá
trégua ao ouvinte, que, afinal, está numa Londres onde é preciso andar com
colete a prova de balas, em certas regiões, de acordo com a nervosa Champions
of London.
Poder-se-ia elaborar toda uma teia de referências
Brexíticas pra “explicar” a violência de No Tourists, mas Liam Howlett, MC
Maxim e Keith Flint nunca necessitaram de razões pontuais pra sua agressividade.
O álbum é urgente e rearticula os melhores elementos da carreira do Prodigy num
trabalho desinteressado em inovar, mas sem nenhum momento baixo. À parte os
momentos iniciais de Resonate – que impressionam ao triturar elementos de
drum’n’bass com dubstep vocoderizado – o resto é Prodigy tradicional, como a
cyberpunkice de Give Me a Signal
A faixa-título abre com teclados de fundo que dão a
impressão de que o Public Enemy está fazendo trilha pra filme de James Bond.
Need Some1, a abertura já anuncia o nervo do álbum, com seu teclado lúgubre e
baixo/guitarra envolto em pura energia elétrica. Ironicamente, há recorrente
sample de Loleatta Holloway gritando “I need someone”, superusado em faixas dance alegres.
Em meio a apenas faixas muito boas, (pelo menos) duas são
espetaculares, em termos de dançabilidade violenta, pogueada ou como
imaginárias trilhas-sonoras pra conflitos campais de ruas pós-apocalípticas:
Light Up Tje Sky e We Live Forever são duas porradas na espinha.
O defeito de The Day Is MyEnemy (2015) – retorno após sete anos sem gravar – foi sua inconsistente
duração: faixas boas intercalavam-se com outras nem tanto. Em No Tourists, o
Prodigy voltou conciso, sem qualquer adiposidade, todo-poderoso.
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