Roberto Rillo Bíscaro
Horizon, dos Carpenters, foi um dos primeiros discos que
possui, juntamente com os primeiros de Gal Costa e dos Secos & Molhados.
Talvez precoce prum menino de 8 anos. Havia uns LPs de canções de roda, também,
mas eu preferia esses de “adulto”. Lembro bem de Only Yesterday e Please, Mr.
Postman tocando nas rádios, em 1975.
Não sei se conheci Richard e Karen Carpenter assim ou se
foi também no apartamento de meus tios em Curitiba, onde passava férias e ouvi
Horizon pela primeira vez. Morando ainda em Sampa, quando voltei pra casa,
infernizei meus pais até me comprarem uma cópia. Ainda o escuto regularmente, em
formato digital, a ponto de cantar junto todas as letras. Tanto que uns dias
antes do motivo deste texto, eu o tocara inteiro, via Youtube, enquanto escrevia
algo, arrumava notas de alunos, sei lá.
Os Carpenters dominaram as paradas da primeira metade dos
anos 70, com seu pop fácil e de ricas harmonias vocais, graças à trágica Karen
Carpenter, morta tão nova, aos 32 anos, em 1983. Tanta vida pela frente, mas a
anorexia nervosa enfraqueceu demais seu coração. Soube de sua morte, quando o
Fantástico anunciou o clipe de Make Believe It’s Your First Time, lançado
postumamente. Então, o reinado dos Carpenters já estava findo há anos; a canção
sequer entrou no Top 50 da Billboard.
Nada sugere que a dupla reconquistaria seu sucesso nos
80’s, mas a cristalinidade da voz de Karen influencia até hoje, de Madonna a
Rumer e a novíssima Harriet (em breve no blog!). Creio que até 1994 não era
hipster gostar deles. Daí, saiu o álbum de covers If I Were a Carpenter, com
queridinhos da época, como Sonic Youth e Cranberries e o duo foi “reavaliado”,
como ocorreu com Burt Bacharach. Ainda bem que jamais necessitei de selo de
recomendação pra admitir amar algo, porque não troco nenhum original por qualquer
versão. Sequer ouvi If I Were a Carpenter na íntegra, afinal, quem lembra de
American Music Club? Mas, dos Carpenters, tantos lembram que até produto novo
saiu, dia 7 de dezembro.
Carpenters with the Royal Philharmonic Orchestra foi
produzido com esmero e astúcia por Richard Carpenter, o que garante integridade
às 18 faixas. Até a capa segue o padrão gráfico de décadas. A edição japonesa e
a vendida na rede Target têm 19: Please Mr. Postman vem de bônus. O álbum
funciona como mais um grande Best Of, que mantém intactos os vocais de Karen e
os arranjos originais, apenas com toques orquestrais. Quem quereria ouvir We’ve
Only Just Begun, Hurting Each Other, Superstar ou Top Of the World em versões
só com a orquestra, sem aquele charme AM, que as tornam tão queridas e
perfeitas?
Um coro aqui, outro ali, jamais se intrometendo muito nas
canções, introitos e pontes orquestrais são acrescentados, como por exemplo no
início do álbum, que elegantemente abre com uma Overture, citando trechos de
clássicos do duo, mas focando em Yesterday Once More, cuja letra fala de
canções antigas capazes de despertar nostalgia. Que é o que os Carpenters fazem
agora.
Para aproveitar o Natal, Richard rearranjou Merry
Christmas, Darling, porque ele nunca foi bobo. Deu certo, até onde acompanhei,
pelo menos na Inglaterra, o álbum chegou à oitava posição na parada.
Carpenters with the Royal Philharmonic Orchestra é
totalmente desnecessário, mas, como tem Karen, é essencial.
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