Roberto Rillo Bíscaro
A Polônia dos anos 1970 estava sujeita à pesada censura
imposta pelo regime comunista. Havia a Igreja Católica que contestava o
totalitarismo, mas impunha sua própria censura, a moral. Nesse ambiente,
publicar livro sobre sexualidade feminina, que falasse de direito ao orgasmo e
técnicas de controle da natalidade, era transgressor política e religiosamente.
Pois, a ginecologista Michalina Wislocka escreveu a necessária e revolucionária
obra. Essa história é contada no competente A Arte de Amar (2017), dirigido por
Maria Sadowska e constante do catálogo da Netflix.
Ziguezagueando temporalmente, mas sempre entendível, A
Arte de Amar apresenta preciso painel de como a história pessoal de Michalina
importou pra que o livro A Arte de Amar fosse escrito. Tem desde a tentativa de
relacionamento à romance de Simone de Beauvoir até o capitão-bofão que descobre
seu ponto G e a faz sentir que gozar é vital. O roteiro não deixa de lado a
condescendência enfrentada pela médica no mundo acadêmico, apenas por ser
mulher. E quando trata da censura a seu livro, de quebra, revela delicioso caso
de pura desobediência civil da católica e oprimida população polaca, que, pelo
menos, queria aprender a ter prazer na cama.
A Arte de Amar é feminista e especialmente necessário
numa época quando até mesmo mulheres dizem não precisar do feminismo, sem se
lembrar que se podem votar, dirigir ou gozar hoje, é por causa de gente como
Wislocka.
E, além de todas as
qualidades intelectuais, é um filme bonito e gostoso de ver.
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