terça-feira, 4 de dezembro de 2018

TELINHA QUENTE 338



Roberto Rillo Bíscaro

Não falta quem ache documentários entediantes, especialmente aqueles com as talking heads, cabecinhas falantes depondo. Documentários sobre nazismo então, que deprimentes, e, além do mais, que ângulo novo poderia ser abordado? O que dizer dum doc de dez episódios sobre o tema? Deve ser pileque propício pra levar ao suicídio, certo?
Não, se for a dezena de capítulos de Hitler's Circle of Evil (2018), produção britânica, constante da Netflix.
Desde a ascensão da sociedade urbana industrial, hibridizações não são novidade (embora os nazis não gostassem disso racialmente). Destarte, talvez seja correto afirmar que Hitler's Circle of Evil (HCOE) é uma docusoap, mescla de documentário com novelão anglicano (soap opera). Isso porque a história da ascensão e queda do 3º Reich é contada sob a ótica das intrigas de bastidores de seus seguidores-comparsas mais diretos, como Göring, Himmler, Hess, Goebbels e outros malditos (nem suponham que um resenhista deficiente visual e albino seja imparcial com essa laia que o colocaria num campo de concentração).
Com o ponto de vista focado nas motivações, ambições, fraquezas, recalques, invejas, bajulações e autopromoções individuais pra conseguir poder ou ficar perto de Hitler, HCOE consegue unir História com histórias de vida, criando um todo viciante como uma soap, porque há drogas, traições, homossexualidade, falsidade e pura demência paranoica, como quando Hess pilota um avião até a Escócia pra apresentar um plano de paz prum lorde que vira apenas um vez.
A perspectiva de HCOE é que os nazistas não passavam de facínoras enganadores do povo alemão; então o programa morde e assopra. Own, tadinha da população alemã, que incendiava e linchava judeus e mais. Fazia isso enganada, não porque estivesse predisposta pelas mesmas razões que elevaram à intimidade hitleriana seus compatriotas melhor conectados.
HCOE usa música incidental dramática e encenações, mas não dispensa o narrador, imagens de época e as talking heads (amei o historiador rolando de rir ao imaginar o fedor do bunker hitleriano dos últimos dias.) Essa combinação, aliada à novelização das histórias de vida, tornam HCOE totalmente maratonável, porque você fica doido pra saber o que vem.
Sabemos que a Alemanha perderá a guerra e que todos se ferrarão (os que o documentário mostra, porque há um tantão que jamais foi pego), mas como não sabemos dos lances privados do vaidoso Göring ou do fanático Goebbels (que tinha pernoca deficiente, mas perseguia outros deficientes), a narrativa fica muito interessante.
Até pra quem paga de santinho de luz, HCOE é indicado e aproveitável, porque dá pra se comprazer com gente se lascando sem parecer desalmado ou politicamente incorreto, afinal, são nazistas que colocaram em risco o planeta. Dá pra sermos como eles até, só que “do bem”! 

A segunda temporada de Roma: Império de Sangue recebeu nome distinto, quando adicionado ao catálogo, mas se procurar pelo título citado, o assinante terá acesso igualmente.
Seus cinco capítulos resumem a trajetória de Júlio Cesar, um dos indivíduos mais influentes da história. Considerar herói o responsável por dezenas de milhares de mortes fica a critério de cada um, mas não dá pra ignorar a história dum sujeito que nomeou um mês.
Sanados os problemas de ritmo da temporada um, Júlio César tem menos historiadores interrompendo pra dizer o que já estava sendo mostrado e menos cenas inúteis de gente contemplando janelas etc. Cheio de gente bonita e recriações de ruas romanas e sangrentos campos de batalha, Júlio César é muito gostoso e atraente de se ver, como se fosse série mesmo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário