Não falta quem ache documentários entediantes,
especialmente aqueles com as talking
heads, cabecinhas falantes depondo. Documentários sobre nazismo então, que
deprimentes, e, além do mais, que ângulo novo poderia ser abordado? O que dizer
dum doc de dez episódios sobre o tema? Deve ser pileque propício pra levar ao
suicídio, certo?
Não, se for a dezena de capítulos de Hitler's Circle of
Evil (2018), produção britânica, constante da Netflix.
Desde a ascensão da sociedade urbana industrial,
hibridizações não são novidade (embora os nazis não gostassem disso
racialmente). Destarte, talvez seja correto afirmar que Hitler's Circle of Evil
(HCOE) é uma docusoap, mescla de
documentário com novelão anglicano (soap
opera). Isso porque a história da ascensão e queda do 3º Reich é contada
sob a ótica das intrigas de bastidores de seus seguidores-comparsas mais
diretos, como Göring, Himmler, Hess, Goebbels e outros malditos (nem suponham
que um resenhista deficiente visual e albino seja imparcial com essa laia que o
colocaria num campo de concentração).
Com o ponto de vista focado nas motivações, ambições,
fraquezas, recalques, invejas, bajulações e autopromoções individuais pra
conseguir poder ou ficar perto de Hitler, HCOE consegue unir História com
histórias de vida, criando um todo viciante como uma soap, porque há drogas,
traições, homossexualidade, falsidade e pura demência paranoica, como quando
Hess pilota um avião até a Escócia pra apresentar um plano de paz prum lorde
que vira apenas um vez.
A perspectiva de HCOE é que os nazistas não passavam de
facínoras enganadores do povo alemão; então o programa morde e assopra. Own, tadinha
da população alemã, que incendiava e linchava judeus e mais. Fazia isso
enganada, não porque estivesse predisposta pelas mesmas razões que elevaram à
intimidade hitleriana seus compatriotas melhor conectados.
HCOE usa música incidental dramática e encenações, mas
não dispensa o narrador, imagens de época e as talking heads (amei o historiador rolando de rir ao imaginar o
fedor do bunker hitleriano dos últimos dias.) Essa combinação, aliada à
novelização das histórias de vida, tornam HCOE totalmente maratonável, porque
você fica doido pra saber o que vem.
Sabemos que a Alemanha perderá a guerra e que todos se
ferrarão (os que o documentário mostra, porque há um tantão que jamais foi
pego), mas como não sabemos dos lances privados do vaidoso Göring ou do
fanático Goebbels (que tinha pernoca deficiente, mas perseguia outros
deficientes), a narrativa fica muito interessante.
Até pra quem paga de
santinho de luz, HCOE é indicado e aproveitável, porque dá pra se comprazer com
gente se lascando sem parecer desalmado ou politicamente incorreto, afinal, são
nazistas que colocaram em risco o planeta. Dá pra sermos como eles até, só que
“do bem”!
A segunda temporada de Roma: Império de Sangue recebeu
nome distinto, quando adicionado ao catálogo, mas se procurar pelo título
citado, o assinante terá acesso igualmente.
Seus cinco capítulos resumem a trajetória de Júlio Cesar,
um dos indivíduos mais influentes da história. Considerar herói o responsável
por dezenas de milhares de mortes fica a critério de cada um, mas não dá pra
ignorar a história dum sujeito que nomeou um mês.
Sanados os problemas de
ritmo da temporada um, Júlio César tem menos historiadores
interrompendo pra dizer o que já estava sendo mostrado e menos cenas inúteis de
gente contemplando janelas etc. Cheio de gente bonita e recriações de ruas
romanas e sangrentos campos de batalha, Júlio César é muito gostoso e atraente
de se ver, como se fosse série mesmo.
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