terça-feira, 11 de dezembro de 2018

TELINHA QUENTE 339

Roberto Rillo Bíscaro

Semana passada, a Netflix disponibilizou a terceira temporada de Réttur, série islandesa rebatizada como Case. Os 9 episódios tratam dum caso apenas, ao contrário das 2 temporadas iniciais, que eram mais dramas de tribunal e traziam casos distintos semanalmente, estão não disponíveis.
Elogiada pela imprensa e sites descolados do antigo primeiro mundo, Case foi dirigida por Baldvin Z, um dos codiretores da excelente e mais endinheirada Trapped, também presente na nossa crescente Netflix não-falada em inglês.
A modéstia orçamentária de Case torna-a predominantemente filmada em interiores e os crimes são fora de nossa visão. A produção também deve ter adotado certo tom semidocumental, com imagens e representações mais cruas, menos estilizadas/fetichizadas. A detetive está longe de ter o cabelão de estrela nórdica de Saga Norén ou o notável marcador de personalidade que é o suéter nacionalista de Sara Lund. Gabriela é totalmente cotidiana, pedestre. Nem seus dilemas pessoais tornam-na pesada; até aprendemos que tem problemas com a irmã, mas qual de nós não os possui? Em momento algum, interferem na investigação ou em sua personalidade. Pelo contrário.
Tudo começa, quando promissora bailarina adolescente é encontrada pendurada numa viga do palco do teatro nacional na capital islandesa. Suicídio, por certo, mas logo Gabriela e seu parceiro percebem que há algo sinistro ocorrendo com muitas garotas em Reykjavík. Como a polícia não encontra nada que justifique investigação, um advogado muito problemático, beberrão e sem moral acima dos que investiga, sai buscando informações. Isso abrirá o fosso do submundo das drogas, prostituição e violência contra a mulher da “pacata” Islândia. Pra quem idealiza a Escandinávia, uma informação: os níveis de violência contra mulheres entre parceiros é desproporcional à quantidade de direitos à disposição delas. Esse fenômeno tem até nome, The Nordic Paradox, porque cerca de 30% das norueguesas com parceiro já foram agredidas. Civilizados e superiores, né? 
Chama a atenção em Case, o modo como a exposição das personagens e fatos não é tão pesada, explícita e forçada como em seus congêneres atuais, que fazem coisas quase tipo “oi, sou João da Silva, amigo íntimo do pai da vítima e tenho um grande segredo”, a ser reafirmado, se possível, mais duma vez no episódio inicial. Sendo série lenta, apoiada em diálogos e sem mirabolâncias orçamentárias, Case pode afastar espectadores mais desatentos ou que querem as ligações/implicações mais fáceis, pra poderem mexer no celular, enquanto ouvem. Isso não quer dizer perfeição formal ou inovação, há momentos em que as transições simplesmente acontecem do nada e é curioso aceitar que alguém com culpa no cartório respondesse ás perguntas do advogado Logi, se nem autoridade policial ele tinha.
Pode incomodar também a desinibição escandinava de mostrar adolescentes em situação de abuso de drogas ou sexo. Não que haja orgias explícitas, mas uma teen drogada cavalgando um tiozão não é comum em produções anglo-americanas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário