Roberto Rillo Bíscaro
Semana passada, a Netflix disponibilizou a terceira
temporada de Réttur, série islandesa rebatizada como Case. Os 9 episódios
tratam dum caso apenas, ao contrário das 2 temporadas iniciais, que eram mais
dramas de tribunal e traziam casos distintos semanalmente, estão não disponíveis.
Elogiada pela imprensa e sites descolados do antigo
primeiro mundo, Case foi dirigida por Baldvin Z, um dos codiretores da
excelente e mais endinheirada Trapped, também presente na nossa crescente
Netflix não-falada em inglês.
A modéstia orçamentária de Case torna-a predominantemente
filmada em interiores e os crimes são fora de nossa visão. A produção também
deve ter adotado certo tom semidocumental, com imagens e representações mais
cruas, menos estilizadas/fetichizadas. A detetive está longe de ter o cabelão
de estrela nórdica de Saga Norén ou o notável marcador de personalidade que é o
suéter nacionalista de Sara Lund. Gabriela é totalmente cotidiana, pedestre.
Nem seus dilemas pessoais tornam-na pesada; até aprendemos que tem problemas
com a irmã, mas qual de nós não os possui? Em momento algum, interferem na
investigação ou em sua personalidade. Pelo contrário.
Tudo começa, quando
promissora bailarina adolescente é encontrada pendurada numa viga do palco do
teatro nacional na capital islandesa. Suicídio, por certo, mas logo Gabriela e
seu parceiro percebem que há algo sinistro ocorrendo com muitas garotas em Reykjavík. Como a polícia não encontra
nada que justifique investigação, um advogado muito problemático, beberrão e
sem moral acima dos que investiga, sai buscando informações. Isso abrirá o
fosso do submundo das drogas, prostituição e violência contra a mulher da
“pacata” Islândia. Pra quem idealiza a Escandinávia, uma informação: os níveis
de violência contra mulheres entre parceiros é desproporcional à quantidade de
direitos à disposição delas. Esse fenômeno tem até nome, The Nordic Paradox,
porque cerca de 30% das norueguesas com parceiro já foram agredidas.
Civilizados e superiores, né?
Chama a atenção em Case, o
modo como a exposição das personagens e fatos não é tão pesada, explícita e
forçada como em seus congêneres atuais, que fazem coisas quase tipo “oi, sou
João da Silva, amigo íntimo do pai da vítima e tenho um grande segredo”, a ser
reafirmado, se possível, mais duma vez no episódio inicial. Sendo série lenta,
apoiada em diálogos e sem mirabolâncias orçamentárias, Case pode afastar
espectadores mais desatentos ou que querem as ligações/implicações mais fáceis,
pra poderem mexer no celular, enquanto ouvem. Isso não quer dizer perfeição
formal ou inovação, há momentos em que as transições simplesmente acontecem do
nada e é curioso aceitar que alguém com culpa no cartório respondesse ás
perguntas do advogado Logi, se nem autoridade policial ele tinha.
Pode incomodar também a
desinibição escandinava de mostrar adolescentes em situação de abuso de drogas
ou sexo. Não que haja orgias explícitas, mas uma teen drogada cavalgando um tiozão não é comum em produções
anglo-americanas.
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