Serial
killer de filme/série quase sempre é extremamente inteligente e
culto; coleciona troféus recolhidos das vítimas e deve ter tempo, recursos e
sorte infindáveis à disposição, pra montar as mortes mais requintadas,
trabalhosas, custosas e livres de testemunhas às vezes em locais
(semi-)públicos. Nas horas vagas de seu ressentimento e distúrbios mentais,
esses malucos estão memorizando detalhes e simbologias presentes em obras
obscuras de séculos antepassados, sobre as quais deixarão pistas para brincar
com algum detetive que, a despeito de conhecer assuntos tão especializados, preferiu
se arriscar combatendo o mal ao invés de ficar de boa nalguma universidade,
ganhando mais.
Não saberia dizer quando essa maluca representação de
malucos começou, mas sucessos de bilheteria como O Silêncio dos Inocentes
(1991) e Se7en (1995) consolidaram essa idealização do assassino serial.
Claramente inspirada pelo filme com Brad Pitt é a série britânica Messiah, que
rolou com histórias independentes entre 2001 e 2008. Foram 5 minisséries,
perfazendo 11 episódios no todo.
A BBC deve ter enfrentado duras críticas, porque o nível
de explicitação das cenas de crime e dos sádicos assassinatos era inédito pra
TV inglesa de início do milênio. O elo entre as histórias era apenas o grupo de
investigadores, liderados por 4 temporadas por Red Metcalfe, frequentemente
perturbado por tanta barbárie que é obrigado a presenciar/sentir o fedor. Red é
férreo defensor da aplicação da lei: nem seu irmão escapara de seu zelo e
crença na manutenção da ordem. É durão mas sensível, em quem podemos confiar,
diferentemente de seu frequente parceiro Duncan, que volta e meia desliza.
Duncan é mais nós, telespectadores, enquanto Metcalfe é o que aspiramos a ser.
Nada como um par de atores do calibre de Ken Stott e Neil Dudgeon (o DCI John
Barnaby, dos Midsomer Murders, da ITV; qualquer dia escrevo sobre).
Esses sofredores policiais têm que desvendar a mente de assassinos
seriais que usam a Bíblia ou A Divina Comédia dantesca como horripilante
inspiração pras mortes. Sorte que Metcalfe sabe até citar Dante no original
italiano! Sorte também dos serial killers
poderem matar a vontade num hospital, sem que ocorra a ninguém simplesmente
transferir os pacientes pra quebrar o ciclo. Messiash é dessas; pura diversão
de montanha-russa despirocada, no tamanho exato pra fãs de Epitáfios e afins.
Amei até a temporada
quatro. Na quinta, a BBC trocou todo o elenco. Aproveitando que Stott estava
compromissado com a ITV fazendo Rebus, a emissora estava com carta branca pra
fazer o que tencionava: reduzir a faixa etária dos atores. Assim, a matança
apocalíptica da última minissérie tem clima e rostos totalmente diferentes, com
carinhas mais bonitinhas, embora longe de serem maus atores. Como vi tudo meio
em seguida e me apegara demais aos atores – amo Ken Stott desde Rebus e Neil
Dudgeon desde sempre – não consegui me adaptar e mesmo a trama boa não me
segurou: parei de ver. Será coincidência que desde então – 2008 – não houve
mais Messiah? Bem feito.
Tava sem série, valeu pela recomendação :)
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