quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

TELONA QUENTE 266

Roberto Rillo Bíscaro

Halloween, mãe de todas as franquias slasher, foi a que mais enfraqueceu com as continuações. A partir de Halloween II (1981), houve até um que nem tinha Michael Myers. A tentativa de reformulação por Rob Zombie não me convenceu, até porque o serial killer de Haddonfield não é meu favorito. Meio paradoxal, considerando-se que o original de John Carpenter, de 1978, é um de meus filmes de horror prediletos. 
Já postei mais de uma vez sobre documentários a respeito do Halloween original ou mesmo da franquia. Além de estabelecer algumas das convenções de meu subgênero favorito, Halloween é exemplo de ambientação e força do underground. Admiro como Carpenter e Debra Hill criaram a mulher empoderada no filme de horror e não canso de apreciar a astúcia de como ambos reutilizaram filmes como Black Christmas e Psicose pra criar sua própria mitologia, copiada até hoje. Carpenter sabe que é foda – ele ainda compôs uma das trilhas mais reconhecíveis da história de qualquer subgênero, é mole? – e todas as decisões dos filmes posteriores, atribui aos diretores, mesmo quando está produzindo. Esperto esse John: criou a obra-prima; o que vem depois não repetirá a originalidade, então, é responsabilidade de outrem.
Planejara rever toda a franquia pra poder opinar mais conscientemente sobre o Halloween, lançado há poucas semanas. Sorte que enviei mensagem ao amigo Carlos Eduardo contando que faria isso, porque ele me avisou que a película era continuação direta da primeira. Acho que eu já sabia, mas esquecera, porque parece que lembro que fui eu que enviei a ele o primeiro link sobre a pré-produção, há muitos meses. Mudei TOTALMENTE (fãs roxos do primeiro Halloween entenderão!) a estratégia. Como o clássico estava fresquinho na cachola, lancei-me direto ao Halloween novo.
Acertada a decisão de desconsiderar os detritos inventados durante a franquia pra explicar o inexplicável: porque Michael não morria e voltava o tempo todo a Haddonfield. Criaram parentesco entre ele e a final girl Laurie Strode, que, inclusive, faleceu numa das sequelas. Como é de conhecimento universal, Strode é Jamie Lee Curtis, que há vinte anos afirmara que o filme em que sua personagem finalmente morreria, seria seu último, encerraria ciclo, blá, blá, blá. Ela repetiu a ladainha pra aceitar o Halloween du jour; resta saber se resistirá. O filme rendeu muito, foi elogiado, e, convenhamos, se ela for lembrada por algo, será pelos fãs de horror e não por Um Peixe Chamado Wanda. E como no planeta slasher tudo é possível, Michael Myers pode voltar dos mortos, afinal, um vilão slasher jamais morre ou vira purpurina.
Quarenta anos depois de ser atacada e ter seus amigos mortos pelo maníaco Myers, Laurie Strode é perturbada por traumas não tratados. Reclusa e paranoica, espera pelo retorno do mascarado, que, efetivamente acontece, quando consegue escapar em uma transferência de manicômios. Como qualquer slasher, Halloween está cheio de decisões estúpidas e furões no roteiro, tudo pra possibilitar o que mais ansiamos: mortes. Essas acontecem no ritmo de hoje, a mais merecida é a mais gore, digna de qualquer Victor Crawley pós-moderno.
Roteiro e diretor demonstraram respeito pelo original e pelos poucos fãs de longa data. Ver Halloween 1978 imediatamente antes foi muito útil, uma vez que o filme atual inverte algumas situações, como fazer Laurie voar pela sacada e não Michael e este se esconder num closet e não ela. Até o querido Doutor Loomis é ref(v)erenciado.
Há defeitos, como a dupla de jornalistas do início, cuja função é apenas expositiva e ser carne-moída. O roteiro de Carpenter é bem superior e nem estou considerando o quesito inovação; é na parte braçal mesmo. Mas, por não se desviar do caminho slasher que esperamos, este Halloween é mesmo o melhor, desde 1981.
Oxalá o sucesso de bilheteria enseje nova febre slasher. Totally. 

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