Roberto Rillo Bíscaro
Halloween, mãe de todas as franquias slasher, foi a que
mais enfraqueceu com as continuações. A partir de Halloween II (1981), houve
até um que nem tinha Michael Myers. A tentativa de reformulação por Rob Zombie
não me convenceu, até porque o serial killer de Haddonfield não é meu favorito.
Meio paradoxal, considerando-se que o original de John Carpenter, de 1978, é um
de meus filmes de horror prediletos.
Já postei mais de uma vez sobre documentários a respeito
do Halloween original ou mesmo da franquia. Além de estabelecer algumas das
convenções de meu subgênero favorito, Halloween é exemplo de ambientação e
força do underground. Admiro como
Carpenter e Debra Hill criaram a mulher empoderada no filme de horror e não
canso de apreciar a astúcia de como ambos reutilizaram filmes como Black Christmas e Psicose pra criar sua própria mitologia, copiada até hoje.
Carpenter sabe que é foda – ele ainda compôs uma das trilhas mais reconhecíveis
da história de qualquer subgênero, é mole? – e todas as decisões dos filmes
posteriores, atribui aos diretores, mesmo quando está produzindo. Esperto esse
John: criou a obra-prima; o que vem depois não repetirá a originalidade, então,
é responsabilidade de outrem.
Planejara rever toda a franquia pra poder opinar mais
conscientemente sobre o Halloween, lançado há poucas semanas. Sorte que enviei
mensagem ao amigo Carlos Eduardo contando que faria isso, porque ele me avisou
que a película era continuação direta da primeira. Acho que eu já sabia, mas
esquecera, porque parece que lembro que fui eu que enviei a ele o primeiro link
sobre a pré-produção, há muitos meses. Mudei TOTALMENTE (fãs roxos do primeiro
Halloween entenderão!) a estratégia. Como o clássico estava fresquinho na
cachola, lancei-me direto ao Halloween novo.
Acertada a decisão de desconsiderar os detritos
inventados durante a franquia pra explicar o inexplicável: porque Michael não
morria e voltava o tempo todo a Haddonfield. Criaram parentesco entre ele e a final girl Laurie Strode, que,
inclusive, faleceu numa das sequelas. Como é de
conhecimento universal, Strode é Jamie Lee Curtis, que há vinte anos afirmara
que o filme em que sua personagem finalmente morreria, seria seu último,
encerraria ciclo, blá, blá, blá. Ela repetiu a ladainha pra aceitar o Halloween
du jour; resta saber se resistirá. O
filme rendeu muito, foi elogiado, e, convenhamos, se ela for lembrada por algo,
será pelos fãs de horror e não por Um Peixe Chamado Wanda. E como no planeta
slasher tudo é possível, Michael Myers pode voltar dos mortos, afinal, um vilão
slasher jamais morre ou vira purpurina.
Quarenta anos depois de ser atacada e ter seus amigos
mortos pelo maníaco Myers, Laurie Strode é perturbada por traumas não tratados.
Reclusa e paranoica, espera pelo retorno do mascarado, que, efetivamente
acontece, quando consegue escapar em uma transferência de manicômios. Como
qualquer slasher, Halloween está cheio de decisões estúpidas e furões no
roteiro, tudo pra possibilitar o que mais ansiamos: mortes. Essas acontecem no
ritmo de hoje, a mais merecida é a mais gore, digna de qualquer Victor Crawley
pós-moderno.
Roteiro e diretor demonstraram respeito pelo original e
pelos poucos fãs de longa data. Ver Halloween 1978 imediatamente antes foi
muito útil, uma vez que o filme atual inverte algumas situações, como fazer
Laurie voar pela sacada e não Michael e este se esconder num closet e não ela.
Até o querido Doutor Loomis é ref(v)erenciado.
Há defeitos, como a dupla de jornalistas do início, cuja
função é apenas expositiva e ser carne-moída. O roteiro de Carpenter é bem
superior e nem estou considerando o quesito inovação; é na parte braçal mesmo.
Mas, por não se desviar do caminho slasher que esperamos, este Halloween é
mesmo o melhor, desde 1981.
Oxalá o sucesso de bilheteria
enseje nova febre slasher. Totally.
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