Desde a antiguidade clássica, fantasia-se sobre mundos
governados e habitados apenas por mulheres. O medo da perda do fálico cetro
masculino tem inspirado diversos exageros, criando sociedades homogeneamente
femininas, que odeiam homens.
Em termos fílmicos, há praticamente um sub-subgênero envolvendo sociedades femininas perdidas (em mais dum sentido). Houve exemplos
dentro do subgênero das aventuras na selva, dos anos 40, mas o que interessa
aqui são alguns da safra de ficção-científica dos anos 1950.
Não dá pra intelectualizar a intenção dos roteiristas
e/ou diretores, no sentido de dizer que criticavam o patriarcado, representavam
as ansiedades dos homens norte-americanos que voltavam de guerras como a
mundial e da Coreia e viam seus empregos tomados por mulheres e daí pra fora.
Tais leituras são válidas, mas, a posteriori. Os filmes não eram
“intencionais”. Eram baratas produções B, orientadas especialmente pra sessões
duplas em drive ins. Bolar trama que
envolvesse bastante mulher, potencialmente atrairia a homarada teen e, nos anos 50, perna era como tetinha
em filme de terror mais tarde.
Mulheres-Gato da Lua (1953) é um dos obscuros cult classics mais deliciosos da década.
Feito com orçamento microscópico, tanto o roteiro, quanto cenários, adereços e
figurinos são reciclados d’outras produções ou do dia-a-dia. Tem aranhona de
pelúcia quase sem movimento despencando de teto, que aposto que quem tem boa
visão deve ver até os fios. Tem incongruências tipo acender fogo na ausência de
ar lunar (repare que fazem isso antes de entrarem na caverna). Mas, tem uma
aura quase surreal em alguns momentos, devido a tantas maluquices e
minimalismos (escassez é o correto).
Essa sensação outromundista é reforçada pela enigmática e
sinuosa trilha-sonora composta por ninguém menos que Elmer Bernstein, ganhador
de Oscar, Globo de Ouro, Grammy e Emmy. O começo dos 50’s foi marcado pela
inquisição anticomunista do macarthismo e como o compositor se recusou a nomear
nomes pro comitê de atividades antiamericanas, durante um tempo ficou marcado
em Hollywood. Por isso, teve que fazer trilhas pra filmes como Catwomen Of The
Moon (CWOTM) e Robot Monster (1953), um dos mais toscos já feitos. Atente pra
como o sobrenome Bernstein está grafado errado nos créditos iniciais.
Como não havia dinheiro e esses filmes eram exibidos em
sessões duplas (viu como as coisas se encaixam na linha de produção fordista da
cultura?),CWOTM é curtinho - tem pouco mais de hora – e não perde tempo com
exposição, começa com o foguete subindo pra missão à lua.
Uma tripulação composta por 4 caras e uma garota
dirigem-se a nosso satélite em nave mobiliada com mesinha de madeira e cadeira
de rodinha, daquelas de escritório. Mas, há algo estranho, porque a tripulante
Helen começa a ter uns palpites e certezas inexplicáveis, tipo decidir pousar
no lado escuro da lua, porque sabe que perto do ponto há uma caverna. Como pode
isso?
Na lua, descobrem as descendentes duma civilização
altamente avançada, que, como em Flight to Mars, parecia poder tudo, exceto
construir foguete, daí querem roubar o terráqueo pra fugir pra Terra e
dominá-la mediante telepatia. Porque elas não usaram esse poderoso instrumento
pra comandar que os homens da Terra lhes enviassem espaçonaves salvadoras não
vem ao caso...
Na verdade, nada pode vir
ao caso em CWOTM, a não ser suspender a descrença por 64 minutos e procurar
defeitos pra rir ou se estupeificar, como perceber que só quando Helen é
amassada pelo áspero Laird, o poder das mulheres-gato sobre ela esvanece. As
cenas de agarra-agarra entre os 2 são puro assédio sexual! Bom que deixamos
isso pra trás, não?
Em 1958, a Layton Film Productions reciclou Catwomen Of
The Moon em Missile to the Moon (MTTM) e o resultado é ainda mais pobre, embora
sem a estranheza do “original”, se bem que minha percepção advém de só conhecer
a versão colorizada. Mas, considerando-se que Catwomen foi em 3D e Misssile,
não, já é indício. Surpreendente pras gerações atuais, a primeira onda dessa
tecnologia foi na primeira metade dos 50’s e sci fi sempre foi apropriada pra
seu uso, devido ao fantasioso dos temas.
MTTM acrescenta elementos à história das Mulheres-Gato e
embora essas sejam pérfidas, no desespero de salvar a lua em extinção, a
violência na relação homem-mulher é mais discreta.
Tem a mesma (literalmente!) aranha de Catwomen; tripulação
que recebeu nenhum treinamento pra viagem espacial; gente que pega fogo na
superfície lunar, onde não há oxigênio, portanto, não pode haver combustão. Tem
impostor se passando por selenita, mas, pelo menos na versão colorizada, os
nascidos em nosso satélite têm pele azul, então como ele enganava? Ah, a Lido
era cega...mas o resto, não! E o ar que não escapa pela boca da caverna, mas
sim pela janela?
Missile to the Moon é outra
daquelas pérolas pra ver e rir um bocado, destacando ilogismos.