Roberto Rillo Bíscaro
Jean-Philip Grobler nasceu e criou-se na África do Sul,
estudou música na Liverpool dos Beatles e se mudou pra Nova York, onde está até
hoje.
Influenciado por Phil Collins, Sting, Radiohead,
Fleetwood Mac, Boys II Men, Michael Jackson e boa parte boa da cambada
oitentista, Grobler grava sob o nome St. Lucia. Ele até tem banda, mas St.
Lucia é ele mesmo.
When the Night, o primeiro álbum, saiu em 8 de agosto, de
2013, pela Columbia, selo onde permanece. Quem vibrou com o segundo álbum-solo de Brandon Flowers ou o supergrupo indie Dreamcar, ou, para simplificar, quem
ama o pop sintetizado da década de 1980, não tem porque não venerar St. Lucia.
O melhor da produção está nas 11 faixas, sem o excesso das baterias
eletrônicas.
A versão do Spotify tem uma
dúzia de faixas, porque traz acústico dispensável de Closer Than This, que em
sua deliciosa aparição original, lembra o easy listening oitentista do
Fleetwood Mac. Dá até pra imaginar Stevie Nicks entrando nos vocais. The Way
You Remember me é daqueles new waves pra dirigir em freeway; tem até sax,
instrumento-símbolo da saxodécada. Phil Collins realmente impactava nesse
primeiro álbum: The Night Comes Again não tem como não lembrar seu No Jacket
Required, mas sem soar cópia. E quer mais Phil do que o naipe de metais fake de
Elevate? Wait For Love tem aquele climazinho de aldeia africana recriada em
estúdio nortista frio, tão Nick Kershaw, Howard Johnson ou símiles. Too Close é
uma das delícias dançáveis com seus barulhinhos eletrofuturistas e bateriona
bem cadenciada. Ouça When The Night e me diga qual grupo synthpop oitentista
não usou esse riff de teclado. Mas o álbum não é cópia descarada: September tem
cheirinho de Giorgio Moroder, mas sua estrutura repetitiva lembra mais o
estouro techno já dos anos 90 ou um daqueles remixes que vinham nas edições de
luxo dos álbuns do Pet Shop Boys.
No ocaso de janeiro de 2016, saiu Matter, que alcançou a
altíssima posição 97 na Billboard, mas deverá ser obrigatoriamente conferido
por todos amantes da sonoridade da década de 1980, especialmente a da primeira
metade, talvez mais especificamente entre 83-6. As 11 canções têm arranjos mais
encorpados que as da estreia e a fluência do St. Lucia nos idiomas musicais
oitentistas deslumbra.
São tiques e retoques que se sucedem/reptem/sobrepõem,
criando a sensação de uma década de oitenta inventada pro álbum. Home, por
exemplo, não tem como negar o parentesco com alguma coisa de Michael Jackson
imediatamente pré-Thriller, mas a chave é synthpop. Os seis minutos e meio de
Rescue Me são locomotivas possantes, repletas de toda sorte de barulhinhos
80’s, mas sem deixar de piscar bem forte pra 1999, de Prince. A caça por
referências pode ir tão longe a ponto de identificar quais canções de Matter
tiveram homônimos no decênio: aqui dou duas dicas, Do You Remember e Physical,
esta última, quase inacreditável paulada eletrodançante, nível New Order.
Help Me Run Away é o tipo
de power pop, que deixou Rick Springfield famoso e o arranjo de Stay é pra ser
estudado, de tão criativo e bem-feito. Abre com apitinhos de Carnaval e durante
boa parte parece nem ter percussão, que, quando surge, enfim, não é bombástica,
como a esperada num revival 80’s. Estudo de caso pra arranjos que se
metamorfoseiam aos poucos. Não quer ouvir álbum pra estudar, apenas pra se
divertir? Apoio! Não faltarão riffs adoráveis de teclado, como em Dancing On
Glass e fofuchices, tipo The Winds Of Change.
Dia 21 de setembro, de 2018, saiu Hyperion, novamente com
texturas luxuosas, mesclando elementos que não necessariamente caminhavam
juntos nos anos 80. Em Walking Away, teclado grave e algo lúgubre coexiste com
a aguda guitarra funkeada à Nile Rodgers. Em Gun, o St. Lucia faz quase um
synth-AOR: é um clima bem powerpop, daqueles roqueiros, quase, cujo refrão soa ótimo
pruma trilha de comercial dos cigarros Hollywood, nos 80’s. Na calma Next To
You, a batida é de bossa-nova.
Nesse álbum, percebe-se a
procura por caminhos além-anos 80. Na catártica Paradise Is Waiting, o
sul-africano lança mão da mesma batida e coro gospel que George Michael usou em
Freedom, levando a um clima início dos anos 90. A deliciosamente pulante China
Shop sintetiza elementos de música chinesa, com vocal que remete ao de Morten Harket e, mais pro fim, encaixar-se-ia tranquilamente num dos álbuns do Pet
Shop Boys, da primeira metade dos 90’s. Nos seis minutos da derradeira You
Should Know Better, o pop não se torna inacessível, mas há menos preocupação em
melodia instantaneamente fácil. A gente fica curioso pela trilha escolhida pro
próximo álbum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário