MAU DE MATEMÁTICA: NÃO ESTOU SOZINHO...
José Carlos Sebe Bom Meihy
Sou daquele time que, na escola, sempre foi mal em matemática. A matéria me era pesadelo e minha briga com ela chegou a causar algo que mais tarde se fez conhecida como “depressão adolescente”. Mais ainda, era mesmo um enigma de difícil explicação, pois afinal, como ser bom aluno em todas as demais áreas, menos naquela que comanda os números, inclusive para a aprovação de um ano para o outro (naquele tempo, para “passar” era preciso estar quites, “com média”, em todas as disciplinas). O pior é que meu suplício pessoal atingia também outras pessoas, inclusive professores, isso porque nos usuais “conselhos de classes” havia os que achavam que eu merecia crédito por ser melhor como aluno em humanidades, e que minha “deficiência crônica” era mesmo pela absoluta “falta de jeito na matéria”. Foi exatamente por isso, pela necessidade de provar que não estou isolado no universo dos que têm dificuldade nesse enredo complicado, que me vi convidado a buscar exemplos históricos. E me deleita saber que pessoas que se distinguiram no cenário mundial tiveram os mesmos percalços que eu, pobre mortal. Não quero dizer que não ser solitário nesse segmento é motivo de orgulho, mas serve de alento.
Quando aprendi que Michael Faraday (1791 – 1867), o primeiro a equacionar as peças do motor e do gerador elétricos, aquele que criou o utilíssimo botão de “liga e desliga”, sofreu com o enredo dos números, fico com vontade de mostrar a língua para a humanidade. E tudo ganha força ainda mais luzidia quando evoco a aversão que Charles Darwin, pai da teoria evolutiva – que a ministra Damares não nos ouça –, o mesmo que concebeu a complexa explicação científica da seleção natural, quando jovem, era sempre preterido na matéria. Sinceramente, para mim, sua descrição sobre as dificuldades soam como música, eis o que disse “tentei aprender matemática, mas era muito difícil, e a absorção lenta, tudo muito devagar”. Desesperados, seus pais até contrataram professor particular que, desistiu do esforço. Aliás, outro parceiro também personagem do mundo da evolução e do evolucionismo, Jack Horner, contemporâneo nosso – que recentemente viu transposto para o cinema suas teorias sobre o fim dos dinossauros nos filmes que abordam o intrigante “Jurassic Park” – também padeceu do mesmo mal. Horner teve que brigar com os adaptadores do roteiro, pois a contagem dos séculos não batia com a racionalidade do enredo. E. O. Wilson, também nosso contemporâneo, o maior especialista em sociedade das formigas, deixou registrado no seu livro “Cartas para um cientista jovem” que “todo esforço para superar as dificuldades nos cálculos deve ser feito, pois os resultados justificam”.
Outra que achava que os números deveriam ser subordinados às palavras e à história, Agatha Christie, precisava de ajuda de terceiros, pois em livros que eventualmente implicavam cálculos – até mesmo distâncias de datas e anos entre um evento e outro – tinha que se valer de auxiliares para descrever as aventuras de suas tramas policiais, sempre incríveis. Diz a lenda que os editores corrigiram várias vezes os cálculos usados em seus romances. Em particular, dois tipos deliciosos da mais importante escritora de policiais tiveram revistos seus cálculos: Miss Marple e o insuperável Hercule Poirot.
Mas a lista é bem longa e antiga (felizmente). Em 1870, o grande Alexander Graham Bell, publicamente declarou sua dificuldade em aplicar lições da matemática e reforçou a afirmativa dizendo que sempre precisava de alguém para conferir seus cálculos, reavaliar se estavam corretos, mesmo nas “continhas” domésticas. O inventor do telefone não sabia bem a tabuada e sempre que em dúvidas, usava os dedos para operações simples de soma ou subtração.
Fiquei incontido quando, outro dia, li artigo que retomava um ensinamento importante do empresário Stephen Jobs, um dos fundadores da Apple. Dizia ele que com o uso dos aparelhos eletrônicos, a matemática poderia ser assunto de especialistas e que os cidadãos comuns a precisavam apenas para efeitos práticos do dia a dia. Completando, afirmava que “a matemática é fundamental nas escolas para exercitar o raciocínio e deve ser motivada com alavanca”. É claro que me valem referências das dificuldades que também assolaram atores como Elizabeth Taylor e Marlon Brando; saber que Maria Callas e Maysa eram ruins de calculo foi tão bom quanto registrar que Carlos Drummond de Andrade e João Cabral também pelejavam com a matéria. É claro que respeito os adeptos da disciplina. Claríssimo. Na verdade, sinto até a tal “inveja branca”, mas confesso também que se não fosse pelos problemas que enfrentei vida a fora com essa área, talvez, não estivesse tão feliz por ser quem sou como modesto historiador.
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