Roberto Rillo Bíscaro
Uma das grandes crises globais é a dos refugiados, que
precisam escapar de seus países em guerra ou intolerantes, pra algum mais
seguro e rico. A princípio, parece que não há nada a ver entre uma mulher
branca da pacífica e próspera Islândia e uma refugiada da Guiné-Bissau. Além
das diferenças climáticas e étnicas, à primeira vista, os problemas de ambas
devem ser diametralmente distintos, até mesmo pela condição socioeconômica e de
direitos de seus respectivos lugares de origem.
A diretora Ísold Uggadóttir mostra que há mais em comum
entre elas do que se poderia supor em seu Inspire, Expire (2018). Premiado no
festival de Sundance, o filme consta do catálogo da Netflix.
Lára está perdida em seu próprio país: desempregada,
prestes a ser despejada, ainda tem um filho pra criar. Adja está perdida no
mundo: em perigo no país africano, tenta emigrar pro Canadá, pra poder viver em
segurança com a filha e a irmã. Os caminhos dessas duas personagens se cruzarão,
quando Lára consegue emprego como fiscal no aeroporto internacional de
Keflavik, porta de entrada da Islândia. Ansiosa em mostrar serviço, a islandesa
nota que seu colega não percebeu a falsificação no passaporte de Adja, que é
enviada pra prisão a espera duma decisão governamental.
Quando Adja sai do cárcere e vai prum centro de
refugiados, os percursos das duas voltarão a se cruzar, geralmente em cenários
escuros, frios e desoladores, pra espelhar seus estados de espírito. Quieto e
dando suas explicações de forma discreta e a conta-gotas, Inspire, Expire
revela o núcleo comum que une as duas mulheres. E também nos mostra a
solidariedade possível entre elas.
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