Reconforta que a Netflix lance séries de países fora do
circuito anglófono, ou melhor, fora dos Estados Unidos, porque anglófono
englobaria Nova Zelândia, mas o mais próximo dela no serviço é Top Of The Lake.
O sucesso da espanhola La Casa de Papel e da catalã Merlí prova que bem
divulgadas e boas, produções “estrangeiras” (nos termos das categorias
propostas pela Netflix, como se ianques não o fossem) podem ser bem-sucedidas.
A Noruega foi o penúltimo dos países escandinavos a ser
descoberto por suas séries e a nossa Netflix já adicionara Nobel a seu catálogo
no fim de 2017. Em março de 2018, foi a vez dos 8 capítulos de Grenseland, chamada
pelo nome internacional em inglês, Borderliner.
Anima a curta defasagem entre sua exibição pela TV2, na
Noruega, em novembro, de 2017, e a oferta, inclusive dublada, no catálogo
brasileiro. Dizem que é por se tratar de coprodução com a Netflix. Se é assim,
por que, então, a finlandesa Sorjonen ainda não fora oferecida pra nós, uma vez
que foi ao ar originalmente, em 2016 e está creditada como coprodução também? E
é mais legal do que Grenseland...
Não que a norueguesa não seja competente, mas há melhores
no cardápio do próprio país, como Frikjent, Okkupert ou a sensacional segunda temporada de Mammon.
Grenseland é Nordic Noir tipo exportação; parece que os
roteiristas iam ticando as características formo-temáticas do subgênero, mas
sempre fica uma nota abaixo de obras-primas como Forbrydelsen ou Bron/Broen
(talvez eu queira demais, também).
Em pequena, brumosa, cinza e fria cidade na fronteira com
a Suécia, um crime é cometido, além dum suspeito desastre de automóvel. De
Oslo, chega o policial Niko, meio de licença, porque está prestes a testemunhar
contra veterano colega de farda, popular e amado pela corporação. Niko não é
intrinsicamente atormentado como sua predecessora Sara Lund ou socialmente
inapto como sua contemporânea Saga Norén, mas tem seu segredinho, que, no
contexto escandinavo pesará mais pelo aspecto ético da investigação do que por fardo
de opróbrio social.
O problema é que o paladino da transparência, honestidade
e ética policiais logo descobre que seu irmão, também meganha, está atolado até
o pescoço não apenas no crime, mas em seus antecedentes e desdobramentos. Como
lei é só pra zinimiga, Niko ajuda o mano, mas claro que tudo se transforma numa
bola de neve com policial local desconfiando, ramificações com o caso do
policial em Oslo, drogas, o pai e alguma coisa mais.
Grenseland consegue aliar tensão e clima macambúzio com
aquela incidental veladamente ameaçadora e sombria. Mas, não todo o tempo, como
em seus congêneres mais famosos. Pra quem é mais paciente com certa lentidão,
funciona, mas quem não dá conta de certo vagar e momentos sem diálogo,
estranhará.
Se você já é escandinófilo
ou se acostumou a produções europeias menos bombásticas que a Netflix
disponibiliza, tipo A Louva-a-Deus ou Glacê, manda brasa. Se não, tente antes
botar os olhos em algumas das norueguesas citadas lá em cima ou em Forbrydelsen
(tinha na Netflix, sob o título The Killing, mas cuidado pra não cair na
armadilha da porcaria da releitura norte-americana!) ou Bron/Broen (não vale a
refilmagem The Bridge que também tem na Netflix).
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