quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

TELONA QUENTE 269



Roberto Rillo Bíscaro

Larry Hagman vivera mais de meio século com a esposa Maj, ao falecer em 2012. Quando perguntado sobre o segredo pra tal longevidade matrimonial, o eterno JR Ewing respondia que o essencial era ter banheiros separados. A maioria de nós não mora em ótimas mansões em Malibu pra se dar esse luxo, mas metaforicamente, significa que há espaços sagrados, que necessitam ficar desconhecidos até pros mais íntimos.
Os amigos de Perfectos Desconocidos (2017) e Nada a Esconder (2018) estupidamente desobedecem a esse mandamento hagmaniano e têm uma noite cheia de revelações desastrosas. Ambas as produções contam a mesma história, adaptada também na Itália, enfim, trata-se dum hit europeu, que pode chegar aos Estados Unidos em breve. A Netflix possui, respectivamente, as versões espanhola e francesa. Não objetivo discutir as diferenças entre ambas, mas existem, especialmente no tom: a espanhola é mais colorida, vibrante e passional. Isso não significa que seja melhor, afinal, têm a mesma espinha dorsal defeituosa, mas que consegue gerar prazeres culposos: isso ocorre quando você sabe que está vendo bobagem homérica, mas adora.
Em atípica noite de eclipse lunar, sete amigos decidem fazer um jogo. Colocam os celulares sobre a mesa e a regra é tornar público o conteúdo de qualquer chamada, email ou notificação de mensagem. Aos poucos, os segredos afloram e a brincadeira torna-se intensa jornada noite adentro. A premissa é absurda: adultos sujeitando-se a tal estupidez e não parando, quando as coisas começam a complicar, é uma das concessões de descrença que temos de fazer ao roteiro.
O que prende o espectador e desculpa a bobeira é que as revelações acabam por tocar em temas como homofobia, hipocrisia e (in)fidelidade, sobre os quais todos gostamos. Estruturalmente, Perfectos Descooncidos/Nada a Esconder são degradações dos dramas de sala-de-estar e do realismo psicológico norte-americano, que têm dado ao mundo gritarias estridentes em palcos, telonas e telinhas, há décadas. Quem curte teatro filmado, gostará, observadas as ressalvas de aceitar a premissa forçada e a preguiça da “resolução”, que metamorfoseia um dos truques mais baratos e desonestos de construção de roteiros. Mas, não posso falar sem revelar o que acontece.
Na era dos GPSs, smartphones, redes sociais em profusão, dizem que a intimidade está morrendo. Ambas produções tentam criticar essa violação, por vezes voluntária, dos eus. Resulta que a crítica é rasteira como a cultura de que finge não gostar, e, no caso específico da homofobia, a “mensagem” é até conservadora.
De jeito algum dá pra dizer que Perfectos Desconocidos/Nada a Esconder são alta cultura. Também são bofetadas nos tolos que insistem numa suposta superioridade de tudo que é feito na Europa. Nada, eles produzem tolices à mancheia, e, nesse caso, gostosas de ver. 

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