quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

TELONA QUENTE 270


Roberto Rillo Bíscaro

Fãs de filmes sci fi cinquetistas volta e meia devem se perguntar se as plateias da época associavam tudo ao perigo comunista, a não ser que citado, o que era frequentemente o caso. Mas, será que um louva-a-Deus gigante mutante visto através dum vidro de automóvel num drive in, faria Regular Joe ligá-lo aos russos? Ainda mais se ele estivesse com a mão no meio das pernas da Regular Mary...
O Planeta Vermelho (1952) é daqueles exemplos acadêmicos, de laboratório, de como uma pá de filmes da época usavam a ficção-científica como veículo pra mensagens paranoicas de perigo soviético. Red Planet Mars (RPM) é pura propaganda ideológica; há quase nada de ficção-científica, mas sobram ufanismo ianque e fervor religioso.
A despeito do receio de sua também cientista esposa, o doutor Chris Cronyn começa a mandar mensagens a Marte, porque fotos indicam atividade nos “canais”, que só podiam advir de ação inteligente. Já em 1952, astrônomos haviam descartado a noção século XIX dos canais marcianos. Pra ter ideia da fanfarronice de Red Planet Mars.
Em pouco tempo, Marte começa a enviar mensagens à Terra, sobre os avanços na vida de lá, que faz com que o sistema econômico capitalista colapse. Mas isso está longe de ser o fim, por que o que fazer com os soviéticos? Esses são explicitamente citados e “mostrados”, quando mensagens de Deus começam a ecoar pela Terra. É como se o criador tivesse escolhido Marte pra viver (e ninguém se toca que isso é herético pra chuchu, porque esses produtos mexem com ilogismos). A ateia Cortina de Ferro não resiste às revoluções causadas pelas mensagens divinas (óbvias, óbvias) e o mundo passa a viver numa teocracia. Só não se sabe vivendo do quê, se capitalismo e comunismo parecem ter ruído.
Mas, a coisa não para por aí, porque antes do fim, um vilão invade o laboratório e revelará que parte da destruição do mundo profano foi responsabilidade dele, não de divindade. Olha só, ele era ex-oficial nazista cooptado pelos comunas. Red Planet Mars não esconde nada; é panfletão descarado, tipo, ainda odiamos alemães, cuidado com eles, porque eles são iguais aos comunistas. E não é que ainda hoje no Brasil, muita gente acha que nazismo é de esquerda? Daí tem gente que se pergunta como esse tipo de filme consegue funcionar. Assim, pela desinformação generalizada.
Baseado numa peça teatral, RPM não tem quase externas, é em preto e branco, está cheio de diálogos pomposos e melosos e piadinhas ruins. Quando o garotinho está segurando uma fatia de torta (pie, em inglês) e sugere que se use o Pi (pronunciado como torta, em inglês) pra comunicação com Marte, por ser “universal”, a gente não sabe se ri ou cai em pranto.
E se você acha que uma personagem num filme desse tipo se chama Chris à toa, engana-se. Pra Cristo, em inglês, só falta um t. Assista e veja o que acontece.
Mas, se decidir ver, cuidado. Red Planet Mars pode causar risos histéricos, frêmitos orgásmicos, calafrios reconhecedores ou vômitos diarreicos. Tudo depende de sua posição ideológica. Só é difícil ficar indiferente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário