Roberto Rillo Bíscaro
Fãs de filmes sci
fi cinquetistas volta e meia devem se perguntar se as plateias da época
associavam tudo ao perigo comunista, a não ser que citado, o que era
frequentemente o caso. Mas, será que um louva-a-Deus gigante mutante visto
através dum vidro de automóvel num drive
in, faria Regular Joe ligá-lo aos russos? Ainda mais se ele estivesse com a
mão no meio das pernas da Regular Mary...
O Planeta Vermelho (1952) é daqueles exemplos acadêmicos,
de laboratório, de como uma pá de filmes da época usavam a ficção-científica
como veículo pra mensagens paranoicas de perigo soviético. Red Planet Mars
(RPM) é pura propaganda ideológica; há quase nada de ficção-científica, mas
sobram ufanismo ianque e fervor religioso.
A despeito do receio de sua também cientista esposa, o
doutor Chris Cronyn começa a mandar mensagens a Marte, porque fotos indicam
atividade nos “canais”, que só podiam advir de ação inteligente. Já em 1952,
astrônomos haviam descartado a noção século XIX dos canais marcianos. Pra ter
ideia da fanfarronice de Red Planet Mars.
Em pouco tempo, Marte começa a enviar mensagens à Terra,
sobre os avanços na vida de lá, que faz com que o sistema econômico capitalista
colapse. Mas isso está longe de ser o fim, por que o que fazer com os
soviéticos? Esses são explicitamente citados e “mostrados”, quando mensagens de
Deus começam a ecoar pela Terra. É como se o criador tivesse escolhido Marte
pra viver (e ninguém se toca que isso é herético pra chuchu, porque esses
produtos mexem com ilogismos). A ateia Cortina de Ferro não resiste às
revoluções causadas pelas mensagens divinas (óbvias, óbvias) e o mundo passa a
viver numa teocracia. Só não se sabe vivendo do quê, se capitalismo e comunismo
parecem ter ruído.
Mas, a coisa não para por aí, porque antes do fim, um
vilão invade o laboratório e revelará que parte da destruição do mundo profano
foi responsabilidade dele, não de divindade. Olha só, ele era ex-oficial
nazista cooptado pelos comunas. Red Planet Mars não esconde nada; é panfletão
descarado, tipo, ainda odiamos alemães, cuidado com eles, porque eles são
iguais aos comunistas. E não é que ainda hoje no Brasil, muita gente acha que
nazismo é de esquerda? Daí tem gente que se pergunta como esse tipo de filme
consegue funcionar. Assim, pela desinformação generalizada.
Baseado numa peça teatral, RPM não tem quase externas, é
em preto e branco, está cheio de diálogos pomposos e melosos e piadinhas ruins.
Quando o garotinho está segurando uma fatia de torta (pie, em inglês) e sugere
que se use o Pi (pronunciado como torta, em inglês) pra comunicação com Marte,
por ser “universal”, a gente não sabe se ri ou cai em pranto.
E se você acha que uma personagem num filme desse tipo se
chama Chris à toa, engana-se. Pra Cristo, em inglês, só falta um t. Assista e
veja o que acontece.
Mas, se decidir ver, cuidado. Red Planet Mars pode causar
risos histéricos, frêmitos orgásmicos, calafrios reconhecedores ou vômitos
diarreicos. Tudo depende de sua posição ideológica. Só é difícil ficar
indiferente.
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