quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

TELONA QUENTE 271



Roberto Rillo Bíscaro

Explicitar e zombar das convenções dos filmes de horror não é a única construção pós-moderna fingindo desconstruir o subgênero. Inverter clichês é recurso menos frequente, mas rendeu slashers criativos, como o menosprezado Cherry Falls (2000), no qual as vítimas são as virgens.
Em 2018, dois filmes com títulos e ambientação bastante parecidos exploraram ambas possibilidades. Blood Fest foi discutido aqui; hoje é a vez de Hell Fest, que também despeja seus personagens em parque temático de horror, pra dizimá-los um a um. Enquanto Blood Fest zomba das convenções, Hell Fest tenta invertê-las. Não se dá muito bem.
Uma das convenções dos slashers é que o assassino serial mascarado permaneça despercebido a maior parte do tempo. As personagens são eliminadas, quando se apartam do grupo, que, demora a aceitar que algo mortal esteja se passando. Hell Fest imaginou expor o maníaco a céu literalmente aberto: ao invés de seguir suas vítimas na surdina, como estão em um local onde dezenas de funcionários e frequentadores estão vestidos como monstros e dão sustos a cada 15 segundos, o mascarado gozaria do mesmo anonimato de um Michael Myers, mas, visto por uma multidão. A ideia é assaz esperta, mas não é sustentada o filme todo, e a maioria das poucas mortes se dá na solidão, como em qualquer slasher não metido a brincar com convenções.
A produção é excelente; são dezenas de extras fantasiados ou não, além de ambientes muito criativos, que dariam ensejo a mortes deliciosas, mas os escassos óbitos são batidos demais. O problema é que Hell Fest parece ter sido executado no piloto automático: tá tudo bem feitinho, mas, apesar da grande premissa, é só mais um slasher, que nem tantas mortes tem. Indicado apenas pra fãs doentes de Jason Voorhees (o mascarado anda devagarzinho que nem ele) e sua descendência ou pra teens em grupo se divertirem com pipoca e guaraná. Aproveitem e façam sessão-dupla com Blood Fest!
Se você não é fã do subgênero, no Youtube deve ter algum vídeo que mostre só as mortes. Se bem editado, não daria um minuto.

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