quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

TELONA QUENTE 277

Roberto Rillo Bíscaro

Quando criança, achava o máximo da civilização os casais dormindo no mesmo quarto, mas cada um em sua cama. Era assim nos filmes da Sessão da Tarde e no desenho dos Flintstones. Sem que eu suspeitasse, aquela representação noturna de casais de respeito era fruto da censura em Hollywood. Como há 40 anos ainda se exibia muito da produção cinquentista na TV, eu cria que nos EUA era assim que acontecia.
Lembrei disso, quando vi o casal de Invasores de Marte (1953) dormindo separados, logo no começo do influente filme. Invaders From Mars é a história do menino que acorda de madrugada com barulhão de espaçonave alienígena pousando bem atrás de seu quintal e logo percebe que seus pais e diversos a seu redor estão possuídos pelos verdes (literalmente) marcianos.
Produzido independentemente pela National Pictures Corp., por menos de 300 mil dólares, Invaders From Mars (IFM) não tinha muito tempo pra enrolação: o pequeno leva suas suspeitas pro Exército, que prontamente crê e entra em ação. Ao invés de gastar dinheiro com mais tempo de exibição, IFM preferiu investir numa trilha-sonora fantasmagórica e em efeitos especiais decentes pra época, resultando num produto que dá pra ver até hoje, porque tem ação e clima até meio de medinho. Aquele coro sobreposto à instrumentação meio do além, mostrando o redemoinho de areia ou o marciano capacetado, deve ter grudado na cabeça de muito Steven Spielberg no escurinho do cinema dos 50’s.
Roteiros cuja “solução” final é o “tudo não passou dum sonho” estão entre os mais toscos na pirâmide da criatividade, porque equivale a admitir que você criou uma história, mas não sabe termina-la. O final onírico de IFM, porém, pré-data em décadas o aprisionamento temporal d’O Feitiço do Tempo. Será que o pobre David está preso num ciclo eterno de pesadelo? Que cruel.
E não é que um final diferente teve que ser filmado pra exibição na Grã-Bretanha, porque o original era aberto demais? Ué, mas não é na Europa que tem mais “cultura” que nos EUA? Pelo menos é o que muita gente diz até hoje, em frente aos portões da Eurodisney.
A inserção na dimensão do sonho também faz com que IFM drible algumas de suas falhas. Como quem sonha é David, dá pra perdoar porque os ETs já não o cooptam desde o começo ou porque tantas imagens de arquivo do exército são usadas. Sabemos que é pra poupar dinheiro, mas no universo de IFM é expressão do fascínio e confiança infantil no exército, que vencera a Segunda Guerra e em 53 defendia o “mundo ocidental livre” na Coreia.
Em 1986, Tobe Hooper dirigiu releitura de Invaders From Mars, a partir do roteiro original, colocando até o ator que fazia David como o chefe de polícia. Quando ele se dirige à colina onde caiu o disco voador, diz algo como “Gee, I haven’t been here since I was a kid”. O David original dizia “gee whiz”, quando via os OVNIs.
Fracasso de bilheteria e crítica, houve quem malhasse o IFM oitentista, pelo uso excessivo de efeitos especiais. Desconfio que esse não seja o problema, afinal, será que se os produtores cinquentistas tivessem dinheiro, não bombariam seu filme com os efeitos à disposição então?
O que pega mesmo é que enquanto o original é cheio de personalidade, Hooper dirigiu versão gremlinizada, claramente influenciada por Spielberg. Os marcianos de Hooper parecem versões com elefantíase de Mr. Potato Head, fazendo aqueles barulhinhos característicos de monstro oitentista. Brocha, porque Hooper tem talento pra ser mais do que mero copista: ele é o cara por trás do influente Massacre da Serra Elétrica.
O original praticamente inventou as narrativas de despersonalização por meio de invasão alienígena no cérebro e suas imagens distorcidas, quase Expressionistas às vezes, influenciaram horrores. O de 1986 foi apenas mais um filme, sem sal não por culpa dos efeitos especiais por si, mas por quem os usou sem criatividade.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

CONTANDO A VIDA 267

CARNAVAL DESENGANO? 

José Carlos Sebe Bom Meihy 

Chico Buarque de Hollanda, como se sabe, é compositor dos melhores, celebrado em diversos quadrantes, principalmente pela harmonia equilibrada entre música e letra. Não tem como deixar de admirá-lo seja pelo domínio da métrica exata, seja pela rima perfeita. Assim, é consagrado como dos mais significativos compositores populares em língua portuguesa. Há, porém, algo mais a ser respeitado em termos de expressão cantante: o significado metafórico trocado em miúdos. Por certo, o aprendizado com a censura nos “anos de chumbo” valeu como experiência que ambientou sua atividade. E são canções que falam de paixões, amores clandestinos, tristezas de miseráveis, mas também de alegrias de convívio. Tudo com destreza e comprometimentos. Concordemos ou não com ele, seu posicionamento político é constante, intenso e coerente. Mapear a obra desse mago das palavras é tarefa exigente, e tem sido feita em artigos, dissertações e teses. Num rápido voo, porém, em audácia desmedida, evoco o sentido do carnaval em sua vasta produção e busco nesse conjunto reflexões sobre a passagem do tempo na cultura brasileira, em particular sob o regime dos militares. Esta aventura, diga-se, requer acatar a sutileza inerente à discussão sobre o sentido do carnaval na cultura brasileira. 

Grosso modo, presidem duas teses explicativas sobre aquele que é o maior ritual festivo do planeta. O carnaval para alguns autores, em particular para o mais difundido e badalado antropólogo brasileiro, é uma celebração que leva em conta a “inversão do cotidiano”. Roberto DaMatta explica suas teorias supondo a dramatização coletiva de uma cultura que dramatiza os dilemas da vida cotidiana num ritual dançante, onde grupos assumem a suspensão dos comandos diários e, de forma “extraordinária”, transformam suas práticas em alegorias contrárias. A permissividade é a regra que autoriza mudanças que permitem, por exemplo, que a tristeza se transforme em alegria e na suspensão do tempo “ordinário”, pobre seja rico, conde ou rei, citadinos virem índios... A associação da permissividade com liberação sensual é autorizada, e o uso da pouca roupa se justifica no verão brasileiro, sugerindo fuga da repressão constante nos demais dias do calendário. Ainda que bastante fotogênica e aceita, a tese de DaMatta é rebatida por outro antropólogo, Renato Ortiz, que se contrapõe mostrando que em vez de “inverter o cotidiano”, o carnaval o consagra e mostra que as instituições controladoras não deixam de exercer suas funções. O estado continua a existir com instâncias de comando e por meio de seu mando, polícia, hospitais, clubes, se submetem às leis que não cessam e nem se interrompem. É sob este paradoxo interpretativo que se coloca a questão das músicas de Chico Buarque. Pergunta-se, então, como ele se 
comportaria no caso das duas teorias. 

Tema frequente nas canções do compositor, o carnaval apareceu pela primeira vez no elenco das músicas buarquianas em 1965, com uma canção que aparece com dois títulos: “Sonho de Carnaval” e “Quando o Carnaval Chegar”, e, suas primeiras palavras alertam para a inevitabilidade do que acontecerá depois do carnaval político. Estava dado o recado de forma capaz de vazar a censura e alertar os sambistas, ou melhor, o povo: Carnaval, desengano/ Deixei a dor em casa me esperando/ E brinquei e gritei e fui vestido de rei” e logo vem a advertência “Quarta-feira sempre desce o pano/ Carnaval, desengano”. A continuidade da música depois de passar por um significativo “Mão na mão, pé no chão/ E hoje nem lembra não” retoma “Quarta-feira sempre desce o pano”. 

Não sem intenção, no ano seguinte, em 1966, já sentindo que os militares chegaram para ficar, Chico compôs o profético “Vai passar” que, afinal, era resposta do próprio autor à censura que havia proibido algumas de suas canções. A picardia mais aguçada se apresentou na composição que metaforizava a superação daqueles dias autoritários e anunciava “Vai passar/ Nessa avenida um samba popular/ Cada paralelepípedo/ Da velha cidade/ Essa noite vai/ Se arrepiar/ Ao lembrar/ Que aqui passaram/ sambas imortais” e de maneira sutil garantia que “Que aqui sangraram pelos nossos pés/ Que aqui sambaram/ nossos ancestrais”. E a continuidade evoca a instalação do governo militar “Num tempo/ Página infeliz da nossa história/ Passagem desbotada na memória/ Das nossas novas gerações”. A sequência é bastante eloquente e direta ao mostrar que “Dormia/ A nossa pátria mãe tão distraída/ Sem perceber que era subtraída/ Em tenebrosas transações”, e, novamente comparando o regime ao governo deixava claro que aquele momento (que haveria de passar) “se chamava carnaval”, mas que “Vai passar”. 

No mesmo ano, em 1966, desponta o “Quem é você”, canção que garante a identificação do carnaval com o regime militar e assume tacitamente “Mas é Carnaval!/ Não me diga mais quem é você!” e de forma desafiadora pontifica “Amanhã tudo volta ao normal/ Deixa a festa acabar/ Deixa o barco correr”. Depois de poéticas indagações, o autor encerra sua dissertação dizendo, como que evocando a história “Quem é você?/ Por que te amo sem querer/ Alguém, por mim/ Me faça enfim te conhecer/ Pra ter um fim”. 

Na abertura dos anos 70, Chico Buarque colocava a público, já sem sutileza alguma, o samba “Apesar de você” e entusiasmado assumia “Hoje você é quem manda/ Falou, tá falado/ Não tem discussão/ A minha gente hoje anda/ Falando de lado/ E olhando pro chão, viu/ Você que inventou esse estado/ E inventou de inventar/ Toda a escuridão/ Você que inventou o pecado/ Esqueceu-se de inventar o perdão”. Sem se referir ao carnaval, ficava subentendido o sentido da festa como argumento político. 

Ainda que fazendo muitas outras canções aludindo ao carnaval, falando de tamborins, pandeiros, é com uma canção de 1979 que ele define o papel do festival no amplo arco de suas canções e o faz com “Ela desatinou”. Debochando da dor, do pecado, do tempo perdido, do jogo acabado, Chico Buarque, curiosamente, passada a abertura política e a volta à democracia não mais usou o carnaval diretamente em suas letras. Por certo, continua como baluarte da democracia e crítico, mas suas temáticas também evoluíram como o próprio tríduo.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

TELINHA QUENTE 349

Roberto Rillo Bíscaro

Satirizar acidamente a vaidade, doideira e mau-caratismo de estrelas do entretenimento não é novidade no cinema, TV ou teatro. Divas doidivanas, astros ególatras são frequentemente mostrados em seu patetismo estelar. O diferencial das três temporadas de Dix Pour Cent é que o showbiz é explorado do lado dos agentes das estrelas e a sátira é feita com carinho, sem anjos ou demônios.

Os dezoito episódios, na Netflix, mostram o dia-a-dia de uma agência parisiense. Os dez por cento do título referem-se às comissões recebidas pelos agentes, sobre cada trabalho do ator. E para conseguir esse dinheiro, eles têm que suar a camisa e a série acaba mostrando que esse pessoal pode ser tão ou até mais interessante que aqueles que brilham nas telas.

Cada capítulo envolve algum problema ou negociação com os clientes de Mathias, Gabriel, Andréa e os demais funcionários da ASK. Paralelamente, há as vidas pessoais de cada agente, que não apenas se intercruzam com as dos clientes, mas possuem relevância por si mesmas. Sem querer criar fofuras ou vilões, Dix Pour Cent representa uma agência de atores, onde todos se consideram uma família, mas não hesitam em guardar segredos ou até agir pelas costas. Mas, também não é um festival de traições e brigas; é apenas o cotidiano de quase qualquer emprego, então podemos nos identificar com as personagens. Em qual empresa/escola ou seja lá onde for, não vemos cada qual defender seus interesses, mas se confraternizar no fim de ano ou até ajudar um ao outro, em alguma crise? Dix Pour Cent tem personagens  bem redondas, nada planas.
A dramédia é tão respeitosa para com os profissionais cênicos, que grandes nomes do cinema aparecem como eles mesmos. Isabelle Adjani, Isabelle Huppert, Chistopher Lambert, Juliette Binoche, Monica Belluci e muitos mais, aparecem em episódios e situações por vezes muito engraçadas. A de Belluci querendo arranjar namorado “normal” e a de Huppert tentando coordenar mil compromissos por vez, ou melhor, jogando isso em cima dos agentes, são especialmente divertidas.
Dix Pour Cent é mais uma prova de que a Netflix faz bem em investir em conteúdos não apenas anglofalantes e quem sai ganhando somos nós, que temos crescentes oportunidades de compartilhar outros olhares sobre diversos assuntos e em diversificados subgêneros. Simpatia total de série.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

CAIXA DE MÚSICA 354


Roberto Rillo Bíscaro

São Patrício é o santo padroeiro da Irlanda. Missionário, no século III, a crença popular atribui a ele o desaparecimento das cobras da ilha onde fica o país, sendo a razão de em algumas gravuras ele aparecer esmagando esses animais com seu cajado. Muito reverenciado nos Estados Unidos devido ao grande número de imigrantes irlandeses, no dia 17 de março, há diversas comemorações lá e na Irlanda, em sua memória.
Rafael Senra adora música celta e nasceu precisamente no dia 17 de março. Esses fatores foram predominantes para que seu primeiro álbum consistisse em versões em português para onze músicas celtas irlandesas dos séculos XVIII e XIX. Além disso, Canções de São Patrício (2017) tem duas composições próprias, que dialogam com o projeto em certa medida.
Tocando apenas seu violão, a voz doce de Senra embala lindas melodias, como em A Sereia e o Mar e Me Conte a História. Difícil não ligar o mineiro à doçura folk do Anthony Philips, dos anos 70. Fãs da irlandesa Enya reconhecerão as melodias de Seus Poemas e Castelos de Mármore, presentes em seus álbuns dos anos 90, fase de seu auge comercial. O Jardim não deixa dúvida sobre a influência que a pagã música celta teve nos hinos da Igreja Anglicana, essa criação de Henrique VIII, que, mesmo bem anterior aos séculos de onde Senra pinçou seu repertório, aparece como fantasmagoria simbólica. Três Corvos ecoa Greensleeves, cuja autoria anônima a adoração popular pelo absolutismo monárquico sempre atribuiu ao pai de Elizabeth I. A música tem o poder de entrelaçar povos que se estranharam militarmente por séculos.
Doutor em literatura, as letras de Rafael transbordam em aliterações, assonâncias, sinestesias e alecrim, criando mundos paralelos de calma pastoral, onde a inclusão de poemas musicados de nosso árcade Glauceste Saturnio faz todo sentido. Mas, mesmo optando por se refugiar no século XVIII irlandês e brasileiro, Senra é menino pós-moderno: A Lira é um mesh up de duas cançonetas de Glauceste (Claudio Manoel da Costa).
Em um álbum outonal, cujas faixas melancolizam o ouvinte, a letra de Sinas Gerais, faixa de abertura, dolorosamente nos lembra que a idealização da tranquilidade árcade não tem total guarida nas Minas Gerais pós-Mariana e Brumadinho: “Homens vão e permanece o chão/das montanhas e serras de onde eu vim/saudades brotam feito alecrim/cascatas levam meu choro, enfim/homens vão e permanece o chão/sinas, sinas, essas gerais/cavando as minas, olhando nos vitrais/choram as mães e choram os pais”.
Belo e comovente, Canções de São Patrício não escapole de nosso momento, mas o faz gentilmente, convocando utopias, que enternecem e nos ajudam a viver. 
Raphael Gimenes esteve envolvido com música desde a infância, quando cantava no coro infantil de uma igreja, em sua nativa Recife. Ainda adolescente, aprendeu violão e piano e foi para a Dinamarca, como intercambista. Lá decidiu viver e essa distância geográfica do Brasil talvez seja um dos motivos pelos quais seu álbum de estreia, Raphael Gimenes & As Montanhas de Som (2016), soe como MPB dos anos 70 preservada em âmbar. Do overdub nos vocais à sensação de música da floresta, tudo ecoa uma época de Dori Caymmis e afins. E isso não significa pastiche ou coisa de “gringo” macaqueando nosso som.
A coesão e arranjos luxuriantes da dúzia de faixas denotam projeto estético rigorosamente calculado e executado por quem conhece bem o mundo sonoro que escolheu habitar, ou melhor, criar. Guimarães Rose construía sua própria natureza em textos como São Marcos. Gimenes e seus músicos plantam florestas e cerrados sônicos a partir de melodias no violão, circundados por uma profusão de instrumentos acústicos e um sem-número de penduricalhos percussivos, que dão ao som fluência e mistério, em um mundo de calmaria de corredeira de ravina, porque não existe som de bateria. Para completar a aura natural, todo o trabalho, que parece o desenvolvimento de uma grande suíte, apresenta sons de vento, água e fartura de gorjeios, chilros, trilos, trinados, pipilos e pipios.    

Com sua voz calma e fundindo ritmos regionais, jazz, erudito e até lufadinha psych lá mais para o fim, Raphael Gimenes fez um dos melhores álbuns de MPB anos 1970, gravados no século XXI. 

sábado, 23 de fevereiro de 2019

COBRANÇA

Especialistas da ONU pedem resposta urgente do Malauí a crimes contra pessoas albinas

Após o recente sequestro de um bebê albino no Malauí e um homicídio descrito como “selvagem” de outro albino no país, especialistas da ONU pediram ação urgente das autoridades para pôr fim às contínuas atrocidades contra essa população. Em algumas comunidades de países da África, pessoas albinas são atacadas e mortas por causa de partes do seu corpo, que teriam, segundo crenças equivocadas, poderes mágicos.


Após o recente sequestro de um bebê albino no Malauí e um homicídio descrito como “selvagem” de outro albino no país, especialistas da ONU pediram ação urgente das autoridades para pôr fim às contínuas atrocidades contra essa população. Em algumas comunidades de países da África, pessoas albinas são atacadas e mortas por causa de partes do seu corpo, que teriam, segundo crenças equivocadas, poderes mágicos.

“Instamos o governo a fortalecer as investigações desses incidentes e levar os autores à justiça”, afirmaram os relatores das Nações Unidas na sexta-feira (8).

O pronunciamento expressa preocupação com o acúmulo de casos de violações de direitos humanos e crimes contra os albinos. Os relatores apontam que, até o momento, foram poucos os processos sobre essas ocorrências, o que dá a impressão de impunidade.

Desde 2014, 150 episódios de homicídios, agressões e outras violações de direitos humanos contra pessoas com albinismo foram relatados na nação africana. Indivíduos albinos nascem com a pele, cabelos e olhos mais claros que o normal, o que os deixa mais sensíveis ao sol e a luz muito forte.

Os especialistas disseram que, apesar de vários movimentos para apoiar as pessoas com albinismo, “os ataques recentes demonstram que o governo precisa redobrar seus esforços”.

“Chamamos o governo a lidar urgentemente com as causas desses ataques e a fortalecer campanhas de nível nacional para conscientizar, conduzir investigações e processos robustos em todos os casos (de violações), aumentar a proteção para as vítimas e financiar e implementar todas as medidas necessárias”, enfatizaram os relatores da ONU.

Os especialistas temem que as eleições presidencial e legislativa, previstas para final de maio, possam agravar ainda mais a situação das pessoas com albinismo. De acordo com os relatores, assassinatos e ataques frequentemente aumentam em períodos eleitorais por causa de falsas crenças de que partes do corpo dos albinos poderiam trazer sorte e poder político quando usadas em rituais relacionados a bruxaria.

Os analistas independentes da ONU denunciaram que algumas práticas de bruxaria resultam em “sérias violações de direitos humanos”, como tortura, assassinato, discriminação e exclusão, incluindo a expulsão de comunidades.

Segundo os relatores, os dois episódios mais recentes “são parte de um padrão mais amplo e perturbador no Malauí, onde homicídios em rituais e violações flagrantes do pior tipo são instigadas especificamente contra pessoas com albinismo. “Os ataques e violações são espantosos em sua brutalidade”, acrescentaram.

“Chamamos as autoridades a garantir o envio de equipes adequadas de polícia e aplicação da lei para proteger as pessoas com albinismo onde elas vivem”, completaram os especialistas.

O padrão de violência levou a especialista independente da ONU sobre o exercício dos direitos humanos pelas pessoas com albinismo, Ikponwosa Ero, a reiterar a necessidade de as autoridades seguirem as recomendações concretas que ela fez após visitar o Malauí em 2016.

O comunicado dos relatores foi assinado por Ikponwosa, pela relatora especial sobre os direitos das pessoas com deficiências, Catalina Devandas, pela relatora especial sobre execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias, Agnes Callamard, e pelo relator especial sobre tortura e tratamento e punição cruel, desumana ou degradante, Nils Melzer.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

BATE, CORAÇÃO

Tartaruga albina nasce com o coração batendo para fora do corpo

Condição do pequeno réptil é tão rara que os médicos veterinários não deram uma denominação específica para a anomalia



Hope ("Esperança", em português) é uma tartaruga que nasceu em novembro de 2018 com uma característica diferenciada: o coração fora do corpo. Nascida em Nova Jersey (Estados Unidos), a tartaruga também é albina, o que a torna "raríssima". Ela foi adotada no final de 2018 por Mike Aquilina, um apaixonado por animais aquáticos. 

Em entrevista ao jornal americano Daily Mail, Mike explica que a tartaruga tem sido criada separada de outros animais por conta da sua condição física. Ele teme que o contato com outros bichos possa perfurar acidentalmente o coração dela.

"Eu mantenho a água dela a mais limpa possível, dou a ela uma área de descanso que é a mais macia possível e mexo nela o mínimo que eu posso. Fui de uma abordagem mais natural a uma completamente estéril. O objetivo é manter a deformidade dela limpa e o sistema imunológico forte", disse.

Mike disse ainda que não há planos para a correção da deformidade, mas destacada que o animal é motivo de inspiração.

"Ela é tão pequena e frágil, a coisinha mais delicada, mas ela é destemida. As pessoas conseguem ver isso e ela tem muitas pessoas torcendo por ela mundo afora. Ela está espalhando esperança enquanto me dá esperança. Hope mudou minha vida para melhor em muito pouco tempo."

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

TELONA QUENTE 276


Roberto Rillo Bíscaro

Talvez porque fosse adaptação de consagrado livro de H.G. Wells, The War of The Worlds (1953) foi produzido pela major Paramount Pictures, com orçamento milionário. Mas, como era ficção-científica, o elenco ainda é B, ou muita gente realmente se lembra de Gene Barry e Ann Robinson? Isso não depõe contra o filme, apenas atesta pra posição secundário que ficção-científica e horror sempre tiveram em Hollywood e que repercute até hoje na recepção dessas narrativas por setores (que se sonham) mais intelectualizados.
Um dos mais influentes e elogiados filmes sci fi cinquentistas, A Guerra dos Mundos (AGDM) ainda se sustenta bem em várias partes, fazendo jus ao Oscar de efeitos especiais, que ganhou.
Os marcianos invadem a Terra, porque seu planeta está morrendo, mas não previram que ao invadirem nosso habitat estariam expostos a micro-organismos pros quais nós já estamos imunes.
Esse arquétipo de Davi e Golias tira qualquer possibilidade de agência efetiva por parte da espécie humana – sabe aquela história de “a gente não é nada mesmo!”? Mas, enquanto em Wells a ênfase era bem biológica, no filme de George Pal os termos são praticamente religiosos, de milagre divino agindo através de micróbios. Nada surpreendente na década em que Billy Grahan arrastava multidões até na anglicana e supostamente gélida Inglaterra. Quem dirá nos sempre carolas Estados Unidos.  Nos termos do filme, Deus permitiu que o planeta todo se ferrasse, inclusive boa parte dos EUA, antes de atender às preces numa igrejinha de Los Angeles, parece que a única digna de salvação. E depois somos todos iguais perante o Criador, certo? Certo, mas se você estiver perto de Hollywood é mais igual!
Qualquer um que tenha passado a infância/adolescência vendo TV nos anos 70 e 80 reconhecerá como o barulho das armas marcianas foi usado em incontáveis filmes e desenhos animados a ponto de se tornar quase convenção. Quando imagino raio desintegrador, o barulho é o de A Guerra dos Mundos.
Houve diversas releituras da obra de Wells, inclusive uma de Spielberg, estrelada por Tom Cruise, em 2005. Nunca me interessei em ver nenhuma que não fosse essa de 1953.
Ah, e vejam como os olhos-câmera dos marcianos pré-datam o layout do jogo de memória oitentista Genius!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

CONTANDO A VIDA 266


É PROIBIDO GARGALHAR, RISADINHA PODE, MAS...


José Carlos Sebe Bom Meihy


Lembro-me com nitidez do conselho ouvido quando ainda era menino e queria escrever como gente grande. Explicava o saudoso professor que todo texto bom deve “fisgar o leitor pelo título”. E quantas vezes não compramos livros ou lemos um artigo por essas indicações? Tudo ganha ainda mais sentido e demanda especial cuidado ao se tratar de assuntos sérios, tristes, sisudos, ou de impacto social dramático. Meio atordoado, já crescidinho em termos de redação para público amplo, retomo aquelas dicas, tendo em mira declarações de pessoas que dizem “pois é, o título prometia”, “comecei ler, mas...”, ou ainda, “o título diz uma coisa, mas o texto fala de outra”. Frente a tais supostos, a responsabilidade em dar bom nome aos escritos aumenta muito, e o estabelecimento de uma lógica entre o título e o conteúdo, entre a provocação e o argumento deve marcar a fluidez de uma proposta. Em termos de crônicas, isso é vital, pois os espaços reduzidos exigem costura fina.

Pois bem, resolvi abordar algumas loucuras do discurso político brasileiro atual assumindo um mar de preocupações ameaçadoras (tive cuidado com a metáfora, pois quase disse “mar de lama”, de tal forma estou tomado pelo inaceitável impacto da catástrofe ambiental de Brumadinho). Assim, os ensinamentos daquele tempo de estudante, agora, recobraram sentido em minha cabeça, quando pensei tanger o tema desta crônica atenta aos limites do riso X tragédia. É que pretendi trançar fatos explícitos da desgraça nacional com interpretações políticas exaradas de autoridades que se dizem competentes – algumas, aliás, falam até em nome de Deus. Foi assim que se me aflorou a gasta menção expressa por Caetano Veloso em 1968, no Terceiro Festival da Canção: “é proibido proibir”. E dei forma à essa latejante alusão evocando aquele tempo fechado, de ditadura civil-militar, recorrendo ao título “ é proibido gargalhar”. Isso porque, ao ouvir tanta besteira dita, repetida e “viralizada”, a vontade é mesmo de soltar o riso, sonorizar gargalhadas que fariam a alegria de trupes pândegas. E são tantas! Tantas, tantas, que poderíamos fazer uma ladainha ou boa ópera bufa, justificadora da perplexidade do ex-ministro Mangabeira Unger, professor e filósofo lotado em Harvard, ao dizer sobre a vitória do atual presidente que o resultado eleitoral foi “uma resposta popular tosca”. Sem medo de errar, acrescentaria “tosca e burra”. Em que se pesem exceções, a melhor tradução dos equívocos está na composição ministerial. E neste caso, não há como deixar a abertura dessas loas à outra pessoa que não Damares Regina Alves, regente (“Regina/ regente” é mesmo irônico, não?!) da pasta Da Mulher, Direitos Humanos e da Família. Além da alusão decantada que é “terrivelmente cristã” ainda que o “estado seja laico”, e de sua sonora preferência cromática em termos de gênero (“azul para meninos, rosa para meninas”), outras pérolas engrossam o anedotário coerente com as políticas que defende. Eis algumas pérolas selecionadas, e publicamente desmentidas, pelo “detetive virtual”, no programa “Fantástico”: “Estamos vivendo uma ditadura gay”, “a Europa já está ensinando que precisamos masturbar bebês”, “no Brasil tem muitos hotéis-fazenda de fachada, que é para turistas transarem com animais”.

Mas, infelizmente, a ministra-pastora não está sozinha em suas pregações idiotas. O discurso de posse do ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo, concorre como capolavoro das sandices universais. Ao misturar citações em latim, grego e tupi, quase provou que somos mesmo uma república das bananas, pois o público imediato, a seleta e refinada elite diplomática e os representantes eleitos, sequer podiam, pela etiqueta conveniente a uma posse, exibir a perplexidades. Reinou o silêncio; o silêncio dos que entenderam e dos que estavam ali por obrigação do cargo e nada entenderam. Em continuidade, o ministro representante da Educação, Vèlèz Rodrigues, poderia ter ficado calado em vista do caudaloso encadeamento de besteiras sobre ensino público, reinstauração das disciplinas de moral e cívica e de direito amplo e acesso aos níveis superiores de estudos. É claro que não cabe minorar seus doutos comentários sobre o comportamento de brasileiros no exterior, e nem mesmo sua alusão besta à frase supostamente atribuída a Cazuza. E o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, que, mesmo se reconhecendo ignorante em vista da figura de Chico Mendes, o percebeu como alguém que agia em benefício próprio? 

O problema não minora quando escapamos do discurso federal. O Rio de Janeiro – que apesar da avassaladora onda de desgraças padece também com um prefeito que frente ao desabamento de encosta da Avenida Niemayer afirmou publicamente, com ar de quem sabe o que está falando, que “estávamos preparados para enfrentar as ondas do mar, não para os deslizamentos das montanhas”. Seria fácil continuar arrolando estapafúrdios que se atropelam em velocidade geométrica. O difícil mesmo é entender a combinação dos discursos que provocam risadas. Mais complicado ainda é ter que admitir que tais discursos são expressos por autoridades que ostentam poder e manipulam ações consequentes para todos. É triste admitir uma verdade que se plasma na consciência nacional “o que dá pra rir, da pra chorar”. Creio que deveremos verter muitas lágrimas antes de achar tudo isso engraçado, portanto, por enquanto é proibido gargalhar...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

TELINHA QUENTE 348


Roberto Rillo Bíscaro

A Bélgica é pequenina e étnica/linguisticamente fragmentada. Seus 10 milhões e meio de habitantes vivem numa área de 30 mil quilômetros quadrados e falam flamengo, francês e alemão. Isso oficialmente, porque há dialetos e além disso, não há garantias de que todo mundo seja trilíngue.
Imagine isso pras estações de TV: podem produzir uma série em flamengo que não será assistida pela parte francofalante da população. Assim, as audiências são potencialmente pequenas e os orçamentos, por conseguinte, ínfimos. O preço dum capítulo de The Crown pode produzir uma temporada toda na sede da União Europeia.
E ainda assim, a Bélgica é considerada a bola da vez nos círculos hipsters. Canais como o Hulu, o Chanell 4 e o Sky Atlantic tem transmitido séries de lá, resenhadas em jornais, tipo Variety e The Guardian. Como este blog e seus leitores sempre fomos hispters, você já leu resenhas sobre Salamander, Cordon e Matrioshki. As 3 faladas em flamengo.
Chegou a vez duma produção da parte francófona da Bélgica. Ennemi Public (2016) foi produzida pelo canal La Une e comparada por operadoras anglo-americanas, onde recebeu o nome Public Enemy.
A diretora Indra Siera afirmou que pra se distinguir da montanha de séries estrangeiras, e também pra refletir a diversidade cultural de seu país, uma das características dos shows belgas é a não aderência a um subgênero. Séries de lá, tendem a ser meio “estranhas”, e isso tem captado a imaginação de audiências internacionais.
A dezena de capítulos de Ennemi Public não chega a ser esquisita, mas lhes falta foco. Há umas 3 histórias lutando por atenção – uma delas, um thriller policial ótimo – mas o resultado é apenas bom, porque nada é desenvolvido a pleno contento.
Depois de 2 décadas na cadeia, o pedófilo assassino Guy Béranger é solto em liberdade condicional pra iniciar seu noviciado numa abadia numa aldeia incrustada na floresta. A presença do serial killler provoca ira dentro e fora da abadia e cidadãos de bem provam não serem assim tão de bem. Especialmente, quando crianças começam a ser mortas na comunidade. Daí, chega uma policial de Bruxelas, que, de tão perturbada, vê e fala com a irmãzinha desaparecida (superapta ao trabalho, como sempre nessas séries). Também há uma família tradicional local que tem um projeto pruma cervejaria, um irmão marginal e outro monge, abade, whatever.
Como em toda série policial, esses fios se encontram, de modo até algo surpreendente, mas Bérarger começa muito enigmático pra no meio perder todo o destaque. O tal irmão religioso nem sabemos porque está ali, a não ser porque talvez seja galã belga, porque sua personagem não influi em nada.
A conclusão é que Ennemi Public satisfaria muito mais se tivesse metade dos capítulos, mas fosse o thriller policial competente sufocado pelo roteiro entulhado. Não seria história original, mas do jeito que está além de também não o ser, não deixa impressão duradoura.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

CAIXA DE MÚSICA 353

Roberto Rillo Bíscaro

A estreia de Judith Hill teve as bênçãos de ninguém menos que Prince, que participou do processo de criação e execução de Back In Time (2015), resenhado aqui. A norte-americana não parou de se apresentar, mas não lançou nada durante três anos. Em entrevista, contou que a morte de seu mentor e amigo ainda lhe dói e foi um dos motivos pela ausência de lançamentos.

Dia 13 de novembro, finalmente, saiu seu segundo álbum, Golden Child, que intercala canções de cunho pessoal com letras sobre a necessidade de união, nesse planeta tão cindido. Demonstrando amadurecimento como compositora, o que chama mais a atenção, porém, em termos técnicos, é a extrema elasticidade do vocal, que pode ir do cristalino gorjeio etéreo à Minnie Riperton, no urban soul de Chasing Rainbows à voz raspada à Janis Joplin, no blues-rock de I Can Only Love You By Fire. De uma faixa a outra, parece que há intérpretes distintas.
Sua Majestade Púrpura informa o funk de You Can’t Blame Me, desde os arranjos aos vocais e ao infeccioso riff. Não que seja cópia, é que Prince influencia meio mundo há décadas; não tem muita escapatória. A porção funk do álbum é deliciosa e conta ainda com grandes faixas como The Pepper Club e a setentista Gipsy Lover. Queen Of The Hill também é funkeada, mas com a produção mais contemporânea do álbum, com vocais altamente processados.
Os tributos ao Rhythm and blues são prestados com Hey Stranger e a balada-bluesy Irreplaceable Love. E é com uma espécie de power-ballad oitentista, empoderada com coro gospel, que Hill fecha Golden Child: sonicamente, We Are One não tem muito a ver com o resto do material, mas o clamor por unidade da letra, resume tematicamente um trabalho que demonstra bem o crescimento de Judith Hill como compositora e intérprete.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

TELONA QUENTE 275


Roberto Rillo Bíscaro

Uma das várias distinções entre horror e ficção científica é que o perigo, no primeiro, restringe-se a um ou poucos indivíduos, ao passo que no segundo, a escala é bem maior, podendo ser global. Essas regras não são pétreas e sempre houve intersecção entre os (sub)gêneros, mas, é um começo de discussão. Assim, quando temos uma criatura ameaçando uma cidade é mais ficção-científica com horror, do que o contrário.
Como a ameaça em Await Further Instructions (2018) não só é expressa por um aparato tecnológico, mas dá a entender que o grupo em perigo é apenas parte isolada de um todo, a produção britânica fica na prateleira horror sci fi. Durante celebração natalina, uma família tem sua casa misteriosamente vedada pro mundo e seu aparelho de TV passa a distribuir instruções pra se proteger dum perigo, que parece de escala nacional. Seria terrorismo islâmico? E não é que o júnior trouxe pro jantar sua namorada de origem paquistanesa/indiana! Seu avô, pai, irmã e irmão racistas não têm pruridos em esconder seu preconceito e ódio raciais e as ordens dúbias emanadas da telinha são cumpridas à risca, com resultados temerosos.
Await Further Instructions tem clima de episódio de série de TV meio antiquada, mas no fim, a coisa fica mais Cronemberg/Black Mirror. Pena que jamais alcance os níveis de qualidade de nenhuma das referências citadas. Há desejo indisfarçado de que a história seja fábula contemporânea sobre xenofobia Brexítica e o poder manipulador da malvada mídia. Mas, as ideias são batidas e as personagens monodimensionais.
Como distração Await Further Instructions dá pro gasto, mas não espere nada mais.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

CONTANDO A VIDA 265

RENATO TEIXEIRA: EM QUALQUER LUGAR.

José Carlos Sebe Bom Meihy

Assumi o ridículo e nem liguei para as pessoas que me ladeavam, e até riam discretamente, vendo um senhor de 75 anos cantarolando pela rua. A letra era de “Vamos celebrar”, do Oswaldo Montenegro, e que servira de fechamento do Show com Renato Teixeira, no VivoRio, num calorento sábado, dia 09/02/19. E lá ia eu no encalço de um táxi, meio que dançando, meio que flanando, meio que bobo com o enredo da vida: “Eu gosto de andar pela rua/ bater papo, de lua e de amigo engraçado/ Eu gosto do estilo do Zorro/  o visual lá do morro e de abraço apertado/ Eu gosto mais de bicho com asa/ mais de ficar em casa e mais de tênis usado/ Eu gosto do volume, do perfume/ do ciúme, do desvelo e do cabelo enrolado...” Repeti por vezes como um longo poema, admirado por me lembrar de cada verso, mas, por fim, lá pelas tantas, parei no tal do “cabelo enrolado”. Dei uma repentina travada, e troquei o passo alegórico pela dúvida paralisante: Cabelo enrolado, como assim? O Oswaldo pode, como ninguém, pois ostenta uma vasta e invejável coleção de fios lisos escorregados. Mas eu sou careca, e o que me resta de cabelo, uns 20%, não permite nada próximo de cabelo enrolado. O Renato, sim, bem definido em sua postura de compositor, libertou-se de aparas e soltou seus caracóis agora nevados.
Outra canção do Oswaldo atiçou minhas lembranças “não sei se o poema é bonito, mas preciso escrever”. Ato contínuo, deixei o espetáculo, abracei longamente o amigo, e vim para casa. Tentei, mas não consegui dormir. Agitado, levantei-me e novamente Oswaldo me veio à cabeça e me autorizava retraçar os nós que a vida me permitiu com o gentil amigo Renato Teixeira. E foi assim que o passado se me abriu como azul céu taubateano. E lá atrás, escondida entre as nuvens que mostram a beleza sempre pretérita, me via em várias situações ao lado dele. No interior, as pessoas não se apresentam, todos se trançam e nem me lembro dos nossos primeiros encontros. Sei só que, certa feita, estávamos juntos na casa de nossas namoradinhas que eram irmãs. Depois, fiz uns poeminhas e ele musicou (certamente esqueceu-se, mas eu ainda cantarolo “seus olhos grandes, sua boca pequena, o seu jeitinho, sua pele morena); o interessante dessa passagem é que fomos juntos a uma Rádio local, a Cacique de Taubaté, e em um programa do amigo comum Robson Barone nos apresentamos. O rádio era importante veículo de comunicação, em particular em um tempo que a televisão ainda não dominava todos os lares. E foi pela voz do Renato que se investira em radialista que, pela Rádio Difusora Taubaté, todos os dias às 6 horas da manhã ele lia crônicas que eu assinava. De minha parte, comemoro com lágrimas as leituras desses textos que ainda tenho bem guardados. Mais tarde virei, ainda muito jovem, diretor cultural do Clube da cidade, e, com empenho pouco traduzido, revelo que me esmerei em dar dimensão a um show escrito por ele e seu irmão Roberto, intitulado “Samba em três tempos” – sinceramente, daria alguma coisa valiosa em troca de ver reencenado esse espetáculo. Certa feita, fui como estudante de intercâmbio para os Estados Unidos e trouxe-lhe de presente dois LPs, um do Bob Dylan e outro de country music.
Para seguir carreira, Renato e eu saímos de Taubaté. Como rizomas que brotam em outros quintais, ele seguiu a carreira musical e eu virei historiador. Nunca nos deixamos de maneira consequente. Encarregado dos alunos estrangeiros na USP, diretor de estudos sobre a Contemporaneidade Brasileira, por anos seguidos convidava o Renato para apresentações no campus. E assim íamos costurando nossas histórias: casamentos, filhos e mil amigos. Mais recentemente, por dever acadêmico, me vi convidado a escrever sobre música de raiz interiorana, e então redigi um texto intitulado “Nossa Senhora Sertaneja” dedicado a ele, colocando “Romaria” como aposse de um processo de louvação. E, por ocasião dos trezentos anos da aparição da Imagem da Santa de Aparecida, supusemos escrever uma ópera que, talvez, um dia se torne realidade. Há um evento, contudo, que me comove mais que todos. Em dado momento, Renato compôs uma canção linda, chamada “O Turco do mercado”, e a inspiração foi meu pai. Confesso que poucas atitudes marcantes em minha vida têm a força dessa menção. Não posso ouvi-la sem chorar. Em ocasião anterior, mesmo sem avisar, fui ver um show do amigo querido, pois não é que ele me vendo na plateia, introduziu a peça e me fez despencar a ponto de precisar de apoio de amigos. Tenho outras passagens que guardo na melhor gaveta de minhas emoções, mas retomo Oswaldo Montenegro para sintetizar o que sinto ouvindo a canção “Velhos amigos” detalhando que “velhos amigos sempre hão de se encontrar seja onde for/ seja em qualquer lugar”. Pois é, quem conhece Renato Teixeira sabe que ele é dos que estão, sempre, no coração de seus amigos... em qualquer lugar e que vamos sempre nos encontrar.
  

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

TELINHA QUENTE 347



Roberto Rillo Bíscaro

Séries norte-americanas como Ugly Betty e Jane, The Virgin incorporam elementos das populares telenovelas latino-americanas em suas tramas. Quando soube que a Netflix inserira em seu catálogo os 13 capítulos de La Casa de las Flores (2018), apressei-me em vê-la. Curioso por saber como os famosos mexicanos releram seu maior gênero de exportação dramática à luz do gosto indie de consumo, das séries inclusivas da ianquelândia.
México é tão baluarte no subgênero telenovela, que, no Brasil, qualquer folhetim televisivo hablado en español recebe o nome de novela mexicana. Não importa que tenha sido feita na Colômbia.
Além disso, o elenco de La Casa de las Flores é encabeçado por ninguém menos que a rainha Verónica Castro, a Rosa Selvagem, em pessoa! Castro foi ponta de lança pra internacionalização das telenovelas “mexicanas”, quando Os Ricos Também Choram conquistou a metropolitana TV espanhola e consolidou o subgênero por lá, até hoje.
Criada por Manolo Caro, La Casa de las Flores (LCDLF) centra-se na posuda família De La Mora, tida e havida como perfeita. Donos duma floricultura, essa imagem começa a murchar, quando a amante do patriarca aparece com sua filha, bem no dia do aniversário do papi e apronta uma, no centro da sala-de-estar.
Com abertura inspirada na de Desperate Housewives, LCDLF implora pra colocar o México nos países produtores de séries hipster com famílias alternativas. Tem filho revelando bissexualidade, mamis tendo que vender maconha pra saldar dívidas, transexual, cabaré. E com isso vai se transmitindo a mensagem de que não há família “perfeita”. Epa, mas então, todas essas modernices inclusivas são imperfeições? Oops.
O cenário multicolorido propositalmente “brega” indica a irrealidade desse mundo onde tudo é permissível. Tudo tão de mentirinha, quanto uma telenovela, mas na tradição modernete dos filmes e séries hipsters, como o oscarizado e esquecido A Excêntrica Família de Antônia e Transparent (mas, sem as pseudodiscussões acadêmicas).
Série muito simpática, inclusiva, mas que não faz jus à comédia, como querem vende-la. É tudo premeditado demais pra ter graça. Nesse quesito, os norte-americanos jogaram bem melhor com as convenções da telenovela, na viciante Devious Maids.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

CAIXA DE MÚSICA 352

Roberto Rillo Bíscaro

Indra Rios-Moore tem nome de divindade indiana e é filha de porto-riquenha e afro-sírio-americano, baixista de jazz. Estudou vocalização lírica, participava de acampamentos, onde se praticava música balcânica e cresceu na multicultural Nova Iorque.
A Grande Maçã é tão madura de oportunidades pra quem as busca, que, enquanto trabalhava como garçonete, Indra conheceu o saxofonista de jazz dinamarquês Benjamin Traerup. Logo estavam casados e desde então, a moça vive a chata vida de se dividir entra a Nova Roma e a pobre Escandinávia. Seus músicos de apoio são todos da região, onde faturou prêmios e excursiona sempre.
A aderente mania de catalogar, enquadra Rios-Moore como cantora de jazz, mas seu som aglutina muito mais que apenas o que se convencionou imaginar como clichê jazzístico. Claro que há muito saxofone – uma das marcas de certa facção do subgênero – e sua divisão no cantar é de grande do jazz, porém, seus dois álbuns aventuram-se com muita competência até por terrenos art-rock, conseguindo transformar em seu, clássicos de alguém tão personalista quanto David Bowie. E, caso você não conheça como o Camaleão inovou em seu auge, acredite, o que Indra fez é muita coisa. Presente no álbum Heartland (2015), até predatou o canto de cisne de Blackstar.
O onipresente sax do maridón sueco introduz o esparso início de Heroes, que Rios-Moore despiu e deixou praticamente irreconhecível a não ser que você entenda a letra. Embora haja elementos de free jazz, aquilo tem art-rock no DNA.
A moça é atrevida. A versão de Money, do Pink Floyd, mantém a estrutura melódica, especialmente no baixo e na guitarra acentuadamente mais bluesy. Mas, Indra também resgatou a canção pra si. Não é o caso de procurar melhores, mas de reconhecer que a cantora nos apresentou outra grande possibilidade de desfrutar do clássico de Dark Side Of The Moon.
Território de jazz tradicional só mesmo o encerramento Solitude, que volta ao Duke Ellington, dos anos 1930. Talvez por influência da mãe latina, Indra tenha tido contato com boleros e isso se traduz em Hacia Donde. Por qualquer língua e subgênero que tateie, a norte-americana se sai bem, até mesmo cantando em algum idioma africano, em Oshun.
From Silence pode agradar quem ama folk, alt country e o sentimento spiritual, entre gospel e R’n’B, está em números como Little Black Train, Your Long Journey e Blue Railroad Train.
Com voz tão educada e expressiva, os arranjos têm mesmo que evidenciá-la e a releitura de What Becomes Of a Broken Heart é tão esparsamente sublime que lembra a intensidade quieta das Trinity Sessions, dos Cowboy Junkies, que completa 30 anos. Indra Rios-Moore está na mesma liga de bambas como Lizz Wright e Margo Timmins.
Conta-se que Heartland foi gravado em três dias, um mês após a morte da mãe, da qual Indra cuidou por muito tempo. Carry My Heart saiu este ano e seu pontapé veio também de uma situação de tristeza pra norte-americana. No dia seguinte à eleição de Donald Trump, um afroancião percebeu que Indra estava desolada na rua. Acercando-se, deu-lhe um abraço, do nada, e garantiu-lhe que tudo ficaria bem, afinal já haviam passado por coisa pior.
O clima de conforto espiritual deve ter influenciado no tom gospel/spiritual de várias escolhas no repertório, como a abertura, que batiza o álbum, além de Keep On Pushing (tem até coro de haleluia) e Come Sunday, que tem o arranjo mais ousadinho, num álbum cujas melodias são mais lineares, o que não significa queda na qualidade. Pelo contrário, o caráter esparso de quase tudo, realça o espantoso vocal de Rios-Moore.
Seria bem mais correto e descritivo rotular o trabalho de Indra com o abrangente “Americana”. Carry My Heart tem baladona soul em Don’t Say Goodnight (It’s Time For Love) e acenos para o country, em Give It Your Best e para o folk à Indigo Girls, em Be Mine. I Loved You é a coisa mais tradicionalmente jazz de um álbum que também tem covers de Creedence Clearwater Revival (I Can See Clearly Now) e Steely Dan (Any Major Dude Will Tell You). Love Walked In soa como valsinha jazzificada à Billie Holiday.
Muito maior do que qualquer tentativa de reduzi-la a um subgênero, Indra Rios-Moore é uma das grandes vocalistas da atualidade; esse é o único mínimo comum sobre ela.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

MEDO DE DORMIR

'Tenho medo de dormir': a cruel caçada por ossos de albinos no Malauí

Femia Tchulani é uma vendedora de legumes que sobreviveu a uma tentativa de sequestro organizada por "caçadores" de albinos, que queriam matá-la para tirar partes de seu corpo.


Ela narrou o caso, ocorrido em sua casa no Malauí há dois anos, a Patience Atuhaire, da BBC África.

Tchulani conta como é viver sob ameaça, com medo das pessoas que acreditam que partes dos corpos sem pigmentação de albinos trazem saúde e sorte.

Leia o depoimento dela:

"Era uma sexta-feira. Cinco homens e uma mulher chegaram à minha casa por volta das 19h. Quando apareceram, eu estava na cozinha preparando o jantar. Meu marido estava do lado de fora.

Disseram que procuravam por mim. Disseram que eram policiais e estavam ali para me proteger porque receberam a informação de que queriam me matar.

Fiquei assustada. Eram pessoas desconhecidas, nunca as tinha visto antes. A chegada deles criou uma certa comoção e fez com que alguns dos nossos vizinhos se reunissem.

Apesar de terem dito que eram policiais, não usavam uniforme. No começo, não me convenceram. Mas então mencionaram o nome do chefe de polícia da nossa área. Nós até pedimos para que descrevessem o chefe; e eles os fizeram.

Na verdade, nos mostraram armas e até carteiras de identificação. Mas claro, a gente não tinha como saber se eram verdadeiros ou não.

Meu marido e eu, além de alguns vizinhos, concordamos em ir com eles a uma unidade policial. Quando chegamos lá, o posto estava trancado.

Os cinco que alegavam ser policiais chamaram outras três pessoas que estavam num bar próximo. Eles tentaram forçar eu e meu marido a irmos até outra unidade policial, mais longe da nossa área.

Foi tudo muito estranho, porque mandaram embora todos os curiosos que pararam perto da gente. Ficamos apenas eu, meu marido e os vizinhos que vieram conosco.

Meu marido insistiu que eles não deveriam me levar sozinha. Ele ficou argumentando que não tínhamos cometido nenhum crime; e, por isso, por que ir à polícia?

Quando perceberam que a gente não ia sair dali, ficaram nervosos e simplesmente foram embora.

Eu nunca os vi novamente desde aquele dia. Conhecemos os policiais que trabalham na nossa área, e essas pessoas eram desconhecidas, ninguém as conhecia.

Minha vida mudou completamente desde então.

Tenho oito filhos, alguns ainda na escola. Antes do incidente, eu comprava legumes e verduras no atacado e os vendia de porta em porta. Agora, tenho medo de andar pela cidade. Uso um banco para expor meus produtos na feira.
O dinheiro que ganho com este ponto fixo na feira não é suficiente para pagar mensalidades da escola, comprar uniformes e mesmo comida para meus filhos. Alguns já não podem mais frequentar as aulas.

Eu não acho que a polícia ou o governo estejam fazendo algo para proteger albinos como eu.

Vivo com a graça de Deus. E agradeço a Deus quando acordo todas as manhãs. Ainda não me sinto segura.

Por exemplo, teve uma noite no mês passado em que algumas pessoas tentaram entrar na minha casa pelo telhado. Eu acordei e fiquei alerta. A gente saiu de casa e gritou. Só assim eles fugiram.

A nossa comunidade está atenta aos riscos, especialmente vizinhos e as mulheres no mercado. É por isso que eles fizeram esse monte de pergunta à equipe da BBC. Eles sabem o que aconteceu comigo e não querem que se repita.

Olhe para minha casa, nem tenho boas portas para me proteger à noite.

Então, à noite para mim é como se fosse dia. Tenho medo e mal consigo dormir. Tenho medo que essas pessoas voltem. Eu adoraria que o governo me ajudasse com uma boa casa.

Também gostaria que o governo cuidasse do meu bem-estar porque estou impossibilitada de trabalhar e ganhar dinheiro suficiente para minha família por causa do que aconteceu.

Se isso acontecesse, eu seria uma pessoa feliz."

Perseguição a albinos

- No ano passado, a ONU emitiu um alerta no qual afirmava que 10 mil albinos no Malauí estão sob ameaça de morte por causa do interesse em partes dos corpos deles - que muitos acreditam dar sorte.

- Desde novembro de 2014, 19 albinos foram mortos e houve mais de 100 casos de desaparecimento ou tentativa de sequestro.

- Covas de albinos também são alvos de criminosos que removem os ossos dos cadáveres para vendê-los.

- A Anistia Internacional afirma que a maioria dos ataques contra albinos fica sem solução por causa da falta de capacidade da polícia de investigar.

- Ativistas dizem que a pobreza contribui para alimentar a crença de que partes do corpo de albinos trazem sorte e fortuna e também para sustentar esse comércio macabro.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

TELONA QUENTE 274



Roberto Rillo Bíscaro

Deve ser infinitesimal a probabilidade de alguém alertar prum tsunami, não ser ouvido, salvar várias vidas, quando a catástrofe se instaura e, três anos depois, prever um terremoto, ninguém acreditar e o sujeito conseguir salvar pelo menos parte de sua família. Como a Noruega corre risco de terremoto e A Onda fez sucesso (tem na Netflix), os produtores decidiram dar uma de Sharknado e botar o geólogo Kristian enfrentando novo desastre natural. Não que Skjelvet (2018) seja absurdamente podre como a série dos tornados de tubarão. Ao contrário, como seu antecessor, é muito recomendável.
Depois da submersão de Geiranger, Kristian não superou seu trauma e vive isolado numa cabana, evitando contato até com sua filhotinha. A morte misteriosa dum colega de profissão faz com que o trêmulo protagonista se dirija à Oslo, onde tenta alertar autoridades que os cortes de energia e rachaduras estruturais, cada vez mais frequentes, são prenúncios dum megaterremoto. O sucesso d’A Onda elevou orçamento pra sequela, por isso a crível escolha da capital norueguesa: agora há prédios pra derrubar, usando computação gráfica. Eficiente, e bem mais discreta que os congêneres estadunidenses. Até em cataclisma os escandinavos são mais quietos.  
The Quake, como é chamado internacionalmente, tem a mesma fórmula de seu irmão mais velho. Há longa construção de suspense e tempo pra que nos importemos com as personagens, para só então jogá-las na catástrofe e concentrar todo o investimento (em todos os sentidos) apenas nelas. Isso afastará os maníacos por velocidade narrativa. Perda deles, porque os sinais preliminares da catástrofe são prato cheio pra fãs de suspense. Skjelvet funciona bastante como thriller com momentos de cine catástrofe e não o contrário. E quando três personagens estão presas num último andar, sai de baixo (literalmente)!
O roteiro tem defeitos, dentre eles nos fazer crer que a palavra dum herói nacional não fosse sequer considerada por ninguém até quando fosse tarde demais uma segunda vez. Também não dá pra entender, porque introduzir o filho de Kristian, coloca-lo numa situação de perigo em outro local, mas não mostrar seu desenvolvimento. Claramente, a narrativa foca no arco de Kristian, o terremoto é dele, pra servir os propósitos de redenção dele.
Mas, Skjelvet diverte bastante, faz a gente roer as unhas e ainda por cima reconforta – como de praxe nesses filmes – ao nos fazer saber que o sacrifício de milhões de pessoas foi o responsável pela reconciliação de pai e filha. Awwww.