Roberto Rillo Bíscaro
West Wing terminou há bastantes anos, mas sua influência
segue inspirando realizadores. Da Dinamarca veio a superior Borgen e da França,
as três temporadas de seis capítulos cada de Les Hommes de l'ombre (2012-16).
Mais sexualmente desinibida do que sua matriz estadunidense,
Spin, como conhecida internacionalmente, é maratonante suspense sobre
políticos, onde estes chegam a ser secundários em relação a seus consultores de
imagem e relações públicas.
Os Homens da Sombra, tradução livre do título, são Simon
Kapita e Ludovic Desmeuze, marqueteiros da agência mais influente de Paris.
Kapita treinara Desmeuze antes de ir-se a Nova York, de onde retorna às pressas
pra capital francesa, quando convocado a ajudar a presidência a manejar a crise
desencadeada por atentado contra o presidente. Acontece que Ludo quer o pedaço
só pra ele e, freudianamente, precisa eliminar o pai, então inicia-se batalha
entre ambos.
Les Hommes de l'ombre indica seu falocentrismo já no
nome. Política e alto poder são brinquedos de meninos-machos. Mulheres são boas
pra cama e quando ativas são bitches,
como diriam Alexis Carrington e Bette Davis.
Ao longo das temporadas, o teor político escandaloso
sobrepuja o duelo freudiano e a batalha KapitaxDesmeuze é ofuscada por coisas
muito mais estimulantes, como infidelidade conjugal, atentados de radicais
islâmicos e/ou de direita, homossexualidade reprimida, primeira-dama bipolar,
jornalista teimosa se metendo numa enrascada trás d’outra.
Políticos de direita e esquerda indistintamente jogam
sujo e os dois lados são exibidos como interdependentes. É como se o poder por
si só corrompesse; a ele é atribuído essa caráter absoluto, transcendental e
eterno. Nesse sentido, Les Hommes de l'ombre justifica o discurso de que todo
político é igual, convenientemente sacada quando seu político de estimação está
em beco indefensável, mas não se quer reconhecer, apenas generalizar pra poder
justificar sua escolha.
Para gerar interesse, esse tipo de série “política” não
pode se debruçar em decisões e ações que realmente mostrem o lado vital das
políticas públicas – exceto Borgen, de vez em quando, e por isso é tão cotada.
Queremos ver grandes dilemas internacionais ou becos-sem-saída internos,
experimentados por gente bem-vestida e poderosa, capaz de mudar destinos de multidões
com simples telefonema ou promessa de apoio em votação. Ou, mais deliciosamente
ainda, chantageando sem vergonha ou dó.
Isso tudo não desmerece Les
Hommes de l'ombre. Pelo contrário, devorei gulosamente e sou fã do presidente
Alain Marjorie e da primeira-dama aloucada Elizabeth, chiquééeéééérrima. Só há
que reconhecer que na categoria thriller
político em que se classifica, a ênfase está no primeiro termo. Sobre Scandal,
Obama disse que seus dias eram bem mais tediosos do que os de Cyrus e Mellie,
na Casa Branca. A rotina no Elyyse também deve ser bem menos visceral do que em
Spin. Por isso, preferimos as séries.
Nenhum comentário:
Postar um comentário