Séries norte-americanas como Ugly Betty e Jane, The
Virgin incorporam elementos das populares telenovelas latino-americanas em suas
tramas. Quando soube que a Netflix inserira em seu catálogo os 13 capítulos de
La Casa de las Flores (2018), apressei-me em vê-la. Curioso por saber como os famosos
mexicanos releram seu maior gênero de exportação dramática à luz do gosto indie de consumo, das séries inclusivas
da ianquelândia.
México é tão baluarte no subgênero telenovela, que, no
Brasil, qualquer folhetim televisivo hablado
en español recebe o nome de novela mexicana. Não importa que tenha sido
feita na Colômbia.
Além disso, o elenco de La Casa de las Flores é
encabeçado por ninguém menos que a rainha Verónica Castro, a Rosa Selvagem, em
pessoa! Castro foi ponta de lança pra internacionalização das telenovelas
“mexicanas”, quando Os Ricos Também Choram conquistou a metropolitana TV
espanhola e consolidou o subgênero por lá, até hoje.
Criada por Manolo Caro, La Casa de las Flores (LCDLF)
centra-se na posuda família De La Mora, tida e havida como perfeita. Donos duma
floricultura, essa imagem começa a murchar, quando a amante do patriarca
aparece com sua filha, bem no dia do aniversário do papi e apronta uma, no
centro da sala-de-estar.
Com abertura inspirada na de Desperate Housewives, LCDLF
implora pra colocar o México nos países produtores de séries hipster com
famílias alternativas. Tem filho revelando bissexualidade, mamis tendo que
vender maconha pra saldar dívidas, transexual, cabaré. E com isso vai se
transmitindo a mensagem de que não há família “perfeita”. Epa, mas então, todas
essas modernices inclusivas são imperfeições? Oops.
O cenário multicolorido propositalmente “brega” indica a
irrealidade desse mundo onde tudo é permissível. Tudo tão de mentirinha, quanto
uma telenovela, mas na tradição modernete dos filmes e séries hipsters, como o
oscarizado e esquecido A Excêntrica Família de Antônia e Transparent (mas, sem
as pseudodiscussões acadêmicas).
Série muito simpática,
inclusiva, mas que não faz jus à comédia, como querem vende-la. É tudo
premeditado demais pra ter graça. Nesse quesito, os norte-americanos jogaram
bem melhor com as convenções da telenovela, na viciante Devious Maids.
Nenhum comentário:
Postar um comentário