Roberto Rillo Bíscaro
A Bélgica é pequenina e étnica/linguisticamente
fragmentada. Seus 10 milhões e meio de habitantes vivem numa área de 30 mil
quilômetros quadrados e falam flamengo, francês e alemão. Isso oficialmente,
porque há dialetos e além disso, não há garantias de que todo mundo seja
trilíngue.
Imagine isso pras estações de TV: podem produzir uma
série em flamengo que não será assistida pela parte francofalante da população.
Assim, as audiências são potencialmente pequenas e os orçamentos, por
conseguinte, ínfimos. O preço dum capítulo de The Crown pode produzir uma
temporada toda na sede da União Europeia.
E ainda assim, a Bélgica é considerada a bola da vez nos
círculos hipsters. Canais como o
Hulu, o Chanell 4 e o Sky Atlantic tem transmitido séries de lá, resenhadas em
jornais, tipo Variety e The Guardian. Como este blog e seus leitores sempre
fomos hispters, você já leu resenhas sobre Salamander, Cordon e Matrioshki.
As 3 faladas em flamengo.
Chegou a vez duma produção da parte francófona da
Bélgica. Ennemi Public (2016) foi produzida pelo canal La Une e comparada por
operadoras anglo-americanas, onde recebeu o nome Public Enemy.
A diretora Indra Siera afirmou que pra se distinguir da
montanha de séries estrangeiras, e também pra refletir a diversidade cultural
de seu país, uma das características dos shows belgas é a não aderência a um
subgênero. Séries de lá, tendem a ser meio “estranhas”, e isso tem captado a
imaginação de audiências internacionais.
A dezena de capítulos de Ennemi Public não chega a ser
esquisita, mas lhes falta foco. Há umas 3 histórias lutando por atenção – uma
delas, um thriller policial ótimo – mas o resultado é apenas bom, porque nada é
desenvolvido a pleno contento.
Depois de 2 décadas na cadeia, o pedófilo assassino Guy
Béranger é solto em liberdade condicional pra iniciar seu noviciado numa abadia
numa aldeia incrustada na floresta. A presença do serial killler provoca ira
dentro e fora da abadia e cidadãos de bem provam não serem assim tão de bem.
Especialmente, quando crianças começam a ser mortas na comunidade. Daí, chega
uma policial de Bruxelas, que, de tão perturbada, vê e fala com a irmãzinha
desaparecida (superapta ao trabalho, como sempre nessas séries). Também há uma
família tradicional local que tem um projeto pruma cervejaria, um irmão
marginal e outro monge, abade, whatever.
Como em toda série policial, esses fios se encontram, de
modo até algo surpreendente, mas Bérarger começa muito enigmático pra no meio
perder todo o destaque. O tal irmão religioso nem sabemos porque está ali, a
não ser porque talvez seja galã belga, porque sua personagem não influi em nada.
A conclusão é que Ennemi Public satisfaria muito mais se
tivesse metade dos capítulos, mas fosse o thriller policial competente sufocado
pelo roteiro entulhado. Não seria história original, mas do jeito que está além
de também não o ser, não deixa impressão duradoura.
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