Deve ser infinitesimal a probabilidade de alguém alertar
prum tsunami, não ser ouvido, salvar várias vidas, quando a catástrofe se
instaura e, três anos depois, prever um terremoto, ninguém acreditar e o
sujeito conseguir salvar pelo menos parte de sua família. Como a Noruega corre
risco de terremoto e A Onda fez sucesso (tem na Netflix), os produtores
decidiram dar uma de Sharknado e botar o geólogo Kristian enfrentando novo
desastre natural. Não que Skjelvet (2018) seja absurdamente podre como a série
dos tornados de tubarão. Ao contrário, como seu antecessor, é muito
recomendável.
Depois da submersão de Geiranger, Kristian não superou
seu trauma e vive isolado numa cabana, evitando contato até com sua filhotinha.
A morte misteriosa dum colega de profissão faz com que o trêmulo protagonista
se dirija à Oslo, onde tenta alertar autoridades que os cortes de energia e
rachaduras estruturais, cada vez mais frequentes, são prenúncios dum
megaterremoto. O sucesso d’A Onda elevou orçamento pra sequela, por isso a
crível escolha da capital norueguesa: agora há prédios pra derrubar, usando
computação gráfica. Eficiente, e bem mais discreta que os congêneres
estadunidenses. Até em cataclisma os escandinavos são mais quietos.
The Quake, como é chamado internacionalmente, tem a mesma
fórmula de seu irmão mais velho. Há longa construção de suspense e tempo pra
que nos importemos com as personagens, para só então jogá-las na catástrofe e
concentrar todo o investimento (em todos os sentidos) apenas nelas. Isso
afastará os maníacos por velocidade narrativa. Perda deles, porque os sinais
preliminares da catástrofe são prato cheio pra fãs de suspense. Skjelvet
funciona bastante como thriller com momentos de cine catástrofe e não o
contrário. E quando três personagens estão presas num último andar, sai de
baixo (literalmente)!
O roteiro tem defeitos, dentre eles nos fazer crer que a
palavra dum herói nacional não fosse sequer considerada por ninguém até quando
fosse tarde demais uma segunda vez. Também não dá pra entender, porque
introduzir o filho de Kristian, coloca-lo numa situação de perigo em outro
local, mas não mostrar seu desenvolvimento. Claramente, a narrativa foca no
arco de Kristian, o terremoto é dele, pra servir os propósitos de redenção
dele.
Mas, Skjelvet diverte
bastante, faz a gente roer as unhas e ainda por cima reconforta – como de praxe
nesses filmes – ao nos fazer saber que o sacrifício de milhões de pessoas foi o
responsável pela reconciliação de pai e filha. Awwww.
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