Roberto Rillo Bíscaro
Quando a primeira temporada da francesa Les Témoins
debutou na Bélgica, em novembro de 2014, a Europa encontrava-se varrida pela
gélida lufada do vento Nordic Noir. Dinamarca e Suécia congelaram e escureceram
telinhas na Espanha, Reino Unido, França e outros.
A meia dúzia de capítulos reza obediente o breviário
escandinavo: no cinzento, úmido e congelante inverno nortista francês,
detetives problemáticos investigam crime hediondo.
Na costeira Le Tréport – que tem pouco mais de 5 mil
habitantes – alguém está desenterrando cadáveres ainda frescos e dispondo-os em
idílicas cenas de convívio familiar amoroso em uma casa-modelo num condomínio. Les
Témoins pode ser escancarada cópia de Nordic Noir, mas em termos de morbidez
supera sua inspiração.
Sandra Winckler, Justin e o tristonho policial aposentado
por invalidez Paul Maisonneuve (olha o simbolismo uau do sobrenome!) mergulham
no mundo das pistas falsas e conclusões sacadas de quase nada, que cobrem todas
as motivações dum serial killer com
recursos inesgotáveis, ubiquidade e controle até sobre o imponderável. Mas,
será que é um só mesmo?
Les Témoins é pura diversão
macabra implausível, porque se quiséssemos verossimilhança, veríamos datenices
ao fim da tarde. Os capítulos e cliffhangers prendem e despertam curiosidade
pro próximo; o clima macambúzio - embora menos que o típico escandinavo –
envolve; as roupas de inverno são lindas e o elenco fotogênico. Que mais
esperar duma série de policial noir?
Em 2017, Sandra Winkler e seu parceiro Justin voltaram
pra mais uma mórbida aventura, mais decalcada ainda de Nordic Noir, porque o
criador não poupou esforços pra chocar. Como tudo que é em excesso – mesmo excessivos
shows policiais – parece postiço. Witnesses: a Frozen Death às vezes dissipa-se
em seu próprio frenesi maluquete psicopata.
Num ônibus, são encontrados 15 homens congelados,
imaculadamente vestidos e penteados. Simultaneamente, uma mulher retorna
totalmente desmemoriada a Lille após anos desaparecida. Ponto de partida super
Bron/Broen; não há como não grudar na telinha com um mistério desses.
Agora com 8 episódios e patologicamente centrada em
Sandra, Witnesses começa a incorporar tantos elementos, que quando chega o
final você nem se importa mais com a trama, apenas com o desenrolar do nonsense. É Minotauro, mulher
traumatizada que pensa ser criança, velho maluco defendendo doideiras sobre
suposta vontade infante por liberdade, enfim, evidencia-se demais a construção
do roteiro. Não flui com naturalidade, é forçado, e pra isso há que se contar
com tantas decisões estúpidas, que, muitas vezes dá vontade que Sandra ou quem
tomou a decisão realmente se estrepe.
Fãs de policial bizarro
oriundo de Nordic Noir gostarão, mas quando Sandra adentra uma espécie de
comuna infantil o expectador já estará tão saturado de sandices, que o efeito é
mais anestesiante do que excitador.
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