quinta-feira, 14 de março de 2019

TELONA QUENTE 279


Roberto Rillo Bíscaro

A Nigéria tem produção cinematográfica tão grande, que sua indústria foi batizada Nollywood. É a terceira maior do globo, perdendo apenas pra Holly e Bollywood. Um dos maiores e mais populosos países da África me é desconhecido cinematograficamente, por isso, aproveitei que a Netflix tem The Arbitration (2016).
À modesta produção, falta foco, mas mantém a atenção para quem gosta de dramas de tribunal. Dara e Gbenga trabalham na área de informática, desenvolvimento de aplicativos, telecomunicações, todos mercados fervilhantes na Nigéria. Gbenga é casado, mas Dara tinha um caso com ele assim mesmo, até que o milionário lhe passa a perna, não no sentido carnal. Espera, mas também no sentido carnal, e por isso Dara o acusa de estupro. The Arbitration parece que discutirá o limite entre sexo consensual e forçado, mas não o faz; é sobre uma mulher querendo botar as mãos no que julga ser seu e que pode lhe ter sido tirado por ser mulher e menos que Gbenga.
O filme é uma batalha entre Davi e Golias tanto no âmbito do caso, quanto no da defesa: uma arrogante advogada defende Gbenga, ao passo que uma iniciante, Dara. Nesse contexto mítico, difícil o expectador não prever o desfecho: nossa sociedade ama uma historieta educadora e mistificadora, como essa do anão enfrentando o gigante.
The Arbitration está longe da sofisticação exigida por cinéfilos descolados. Há falhas na mixagem, alguns diálogos são tediosos e o roteiro tem que explicitar com uma cena final sem diálogos. Seria apenas focar na epígrafe fílmica, que afirma que uma estória tem os dois lados de quem a narra e a verdade. Isso já serviria pra desconfiar de todos os testemunhos, mas o diretor Niyi Akinmolayan e o roteiro Chinaza Onuzo não quiseram/puderam representar isso de modo mais simbólico.
Indicado apenas pros pacientes com certa falta de sofisticação, mas incentivadores de pluralidade de fontes de entretenimento. Não se trata de ver The Arbitration por dó, mas lembrando de que vemos com leniência muita porcaria de centros produtores bem mais endinheirados e com mais obrigação de oferecer produtos melhores, porque contam com mais oportunidades.

Nenhum comentário:

Postar um comentário