Roberto Rillo Bíscaro
A Nigéria tem produção cinematográfica tão grande, que
sua indústria foi batizada Nollywood. É a terceira maior do globo, perdendo
apenas pra Holly e Bollywood. Um dos maiores e mais populosos países da África
me é desconhecido cinematograficamente, por isso, aproveitei que a Netflix tem
The Arbitration (2016).
À modesta produção, falta foco, mas mantém a atenção para
quem gosta de dramas de tribunal. Dara e Gbenga trabalham na área de
informática, desenvolvimento de aplicativos, telecomunicações, todos mercados
fervilhantes na Nigéria. Gbenga é casado, mas Dara tinha um caso com ele assim
mesmo, até que o milionário lhe passa a perna, não no sentido carnal. Espera,
mas também no sentido carnal, e por isso Dara o acusa de estupro. The
Arbitration parece que discutirá o limite entre sexo consensual e forçado, mas
não o faz; é sobre uma mulher querendo botar as mãos no que julga ser seu e que
pode lhe ter sido tirado por ser mulher e menos que Gbenga.
O filme é uma batalha entre Davi e Golias tanto no âmbito
do caso, quanto no da defesa: uma arrogante advogada defende Gbenga, ao passo
que uma iniciante, Dara. Nesse contexto mítico, difícil o expectador não prever
o desfecho: nossa sociedade ama uma historieta educadora e mistificadora, como
essa do anão enfrentando o gigante.
The Arbitration está longe da sofisticação exigida por
cinéfilos descolados. Há falhas na mixagem, alguns diálogos são tediosos e o
roteiro tem que explicitar com uma cena final sem diálogos. Seria apenas focar
na epígrafe fílmica, que afirma que uma estória tem os dois lados de quem a
narra e a verdade. Isso já serviria pra desconfiar de todos os testemunhos, mas
o diretor Niyi Akinmolayan e o roteiro Chinaza Onuzo não quiseram/puderam representar
isso de modo mais simbólico.
Indicado apenas pros
pacientes com certa falta de sofisticação, mas incentivadores de pluralidade de
fontes de entretenimento. Não se trata de ver The Arbitration por dó, mas
lembrando de que vemos com leniência muita porcaria de centros produtores bem
mais endinheirados e com mais obrigação de oferecer produtos melhores, porque
contam com mais oportunidades.
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