Observar o papel feminino nas narrativas cinquentistas é
fascinante. No caso das produções sci fi,
podia haver uma, no máximo duas cientistas numa tripulação. Mas, era sempre pra
gerar interesse romântico e elas não eram chefes ou comandantes. Pelo menos
estavam lá, porém.
Projeto Base Lunar (1953) chega a ser bipolar na
representação da personagem feminina em comando e é exemplar em manipular
plateias, ainda que tenha sido tudo inconsciente.
Originalmente, Project Moonbase era pra ser série de TV,
mas o piloto não passou da fase de exibição pros chefões televisivos e não foi
adiante. Orçamento da telinha nos 50’s era esmolar; não havia tantos
anunciantes ainda. A Galaxy Pictures não queria perder os 30 minutos filmados,
por isso, associou-se à Z-M Productions, que rodava Catwomen Of The Moon, e
adicionou mais tempo à produção. Essa parceria implicou que os 2 filmes
tivessem muitos cenários e adereços praticamente idênticos e fossem lançados
com um dia de diferença.
Project Moonbase (PM) se passa na então futura década de
1970, quando os EUA inaugurariam sua estação-orbital pra vigiar o planeta e
garantir a paz. Há espiões frios de potências inimigas dispostos a tudo pra
destruir o projeto, mesmo que isso custasse suas vidas. À época do macarthismo,
nem precisava nomear a nação rival; o público sabia que eram os russos, embora
os atores nem tenham se dado ao trabalho de fingir sotaque estrangeiro.
Na véspera da decolagem, o General Greene (o Dr. Bellows,
de Jeannie é um Gênio) avisa ao Major Moore que a missão ficará a carga duma
mulher, a Coronel Briteis. A ansiedade cinquentista devido a uma mulher em
posição de mando sobre um macho adulto branco explode na hora, com o moção se
recusando a ir e depois com o General – numa cena inacreditável pros dias de
hoje – ralhando por uma queixa de Briteis, dizendo que a colocaria no joelho e
lhe daria palmadas no bumbum!
Uma vez na missão e com as pressões por conta do espião e
da própria viagem, Briteis desmorona, começa a agir “femininamente” (ela diz
assim!) e o Machor Moore assume o controle.
Mais pro final, presos na lua, vem ordem presidencial pra
que fiquem lá e iniciem colônia. Safadinho, Moore comenta com Breiteis que vai
adorar brincar de Adão e Eva. Pouco depois, finalmente vemos que se trata duma
presidenta, que, acaba “consertando” o problema da patente entre Moore e
Breiteis. Ele deixa de ser Major, mas fica mais Machor: será o Comandante Geral
da base lunar. Quer dizer, agora Moore e Breiteis estão em posições corretas,
ele acima dela. Mas, acima de todos está uma mulher, que aliás, tem o poder de
construir hierarquias. Isso torna PM complexamente bipolar, mas a manipulação
está no fato de que o público se identifica e convive apenas com Breiteis e
Moore, então são eles que interessam, eles que representam o próximo, o
tangível. A presidenta aparece por menos dum minuto, através dum monitor, não
se afigura como concreto, como algo preocupante de subversão ou inversão de
papeis, até porque em inglês não existe marcação de gênero na palavra
‘president’ ou mesmo ‘the president’. A alienação da presidenta é tão grande,
que está em outro planeta! Na lua, a colonização começará como tem de ser: com
um casal, mas com o Machor no comando.
Planet Moonbase é superobscuro e seus detratores dizem
que é muito palavroso. Dá pra entender, porque TV na época era bem estática,
puro falatório, porque faltava grana pra tudo. Mas, as gracinhas compensam
esses momentos de blá, blá, blá. Tem estação orbital, gente andando de ponta
cabeça, tripulação indo pro espaço de bermuda e camiseta e usando touca que
parece aquelas que a gente põe pra não molhar a cabeça na piscina.
Sou fã; já vi umas 3 vezes.
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