Roberto Rillo Bíscaro
Yolanda Quartey nunca teve vida fácil. Nascida em
Bristol, amargou pobreza, teve pais ausentes, que lhe proibiam sua grande
paixão, a música. Foi moradora de rua, em Londres; teve relacionamento abusivo;
casa incendiada. Tragédias e tristezas suficientes pra talhar grande intérprete
de blues, R’n‘B e country. Nem tudo são/é espinhos e a inglesa experimentou
sucesso como vocalista do Phantom Limb e fazendo backing pro Massive Attack.
Em 2016, Yola iniciou carreira-solo, que a levou a
apresentar-se num bar na sertaneja Nashville. Lá, ninguém menos que Dan Auerbach
a descobriu e contratou-a pra sua gravadora, a Easy Eye Sound. Auerbach é o
guitarrista-vocalista dos blues-rockers The Black Keys e tem produzido gente
como Lana del Rey (Ultraviolence, resenhado aqui) e o mais recente dos
Pretenders (do qual gostei muito, mas vergonhosamente não comentei ainda!).
Dia 22 de fevereiro, saiu Walk Through Fire, estreia
dessa mulher de 35 anos, que teve bastante tempo pra maturar e, por isso, e
pela luxuosa produção de Auerbach, cravou álbum marcante e desafiador de
classificações. Co-escrito com Dan, o álbum tem dúzia de faixas, que trazem
diversas facetas de country vintage, mescladas com outros estilos. Parece que
saiu diretamente dos anos 1970, por isso a melhor alternativa seria classificar
o trabalho como alt country, designação dada aos artistas, que não seguem a
produção contemporânea.
O alcance da voz de Yola é vasto e ela escolhe
demonstrá-lo já na faixa de abertura, Faraway Look. Seu vocal fortalece na
mesma proporção que o arranjo se fortifica. A canção parece saída do finalzinho
dos anos 1960, quando o pop barroco fortemente orquestral, misturava elementos
de country e soul.
A exaltação de um lugar gentil na natureza, de Shady
Grove, viaja ainda mais para trás: caberia com folga como trilha de algum
western sessentista de um já velhusco John Wayne. O álbum é cheio de violinos e
guitarras plangentes de música country, como em Ride Out In The Country, It
Ain’t Easier e Deep Blue Dream. Em outros momentos, o subgênero vem imbricado
com/em outros, como aconteceu na música de abertura. Em Rock Me Gently, vem
mais pop; em Still Gone e Love All Night, com soft rock/easy listening e em
Walk Through Fire, com spiritual.
Sem um tropeço sequer, lindas melodias se sucedem,
atingindo ápices de esplendor, como em Lonely The Night. Vez mais, Yola e o
arranjo começam discretos, para explodirem no refrão em lamentos orquestrais
para ouvir sofrendo dores reais, inventadas e/ou inventadas.
Roy Orbinson aprovaria.
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