Camelias Garden começou como projeto-solo do vocalista/tecladista/violonista/tamborinista Valerio Smordoni. Ele logo
convidou o baixista/percussionista Marco Avallone e o
guitarrista/violonista/ukulelista Manolo D'Antonio. Todo mundo no Camelias
Garden é multi-instrumentista dos bons.
Em 2013, saiu o álbum de estreia, You Have a Chance. Como
se não bastasse a proficiência instrumental do trio, chamaram convidados para
tocar fagote, violino, violoncelo, flauta e percussões diversas. O resultado é
riqueza instrumental, que comoverá fãs de folk prog dos anos 1970,
especialmente os adoradores do fundamental Principe Di Un Giorno (1976), do
Celeste. Mas, o Camelias Garden (CG) não é cópia, apenas parece conhecer bem e
atua nos vetores determinados pelo PFM ou Harmonium.
Pastoral é o primeiro adjetivo que vem à cabeça para
definir o suave som do CG, que, graças à diversificada instrumentação
convidada, não resvala na mesmice do folk violonado nas dez faixas de You Have
a Chance. Como não fazer comparações árcades em um álbum que abre com pássaros
chilreando, em Some Stories? Os doces vocais em inglês e o violão dedilhado são
constantes durante o álbum, mas, estão acompanhados por solos de outros
instrumentos, dignos de derreter o coração. A melodia de Some Stores é
reprisada como conclusão do álbum, mas, com letra distinta. O clima dessa vez
chega ao quase ambient e a canção é salpicada de sons de grilos e água corrente
de ravina, além de citações das faixas anteriores, de longe, como se
sintonizadas num velho rádio AM.
Conforme indicam as barras no título, Dance Of The
Sun/The Remark/Dance Of The Sun (Birth of the Light) é composta por seções,
procedimento tão caro ao rock progressivo. Nem se trata de quilométrica suíte,
são apenas seis minutos, mas que passam do folk medieval ao prog sinfônico,
para finalmente retornar ao medieval dançante. Dá vontade de dançar ao redor de
fogueiras de plenilúnios medievos.
Decididamente um álbum que agradará muito mais às almas
gentis, o momento mais áspero está em We All Stand In Our Brokenn Jars.
Fantástico solo de guitarra envigora a canção, não sem antes haver momentos de
madrigais costurados entre violoncelo e outras cordas e teclas. Nesse e em
outros momentos, Steve Hackett orgulhar-se-ia dos jovens ítalos.
Por falar em Genesis, Camelias Garden é cem por cento
indicável para fãs do grupo inglês. O clima pastoral do início da fase Gabriel
prevalece em mais de uma faixa, mas a influência do início da era Collins
também se sente. Os mais de nove minutos de Mellow Days praticamente funcionam
como tributo aos ingleses, sem soar como cópia. Trata-se de melancólico folk
sinfônico, com mudanças de tempo e solo de guitarra de emocionar. Há momentos
em que um teclado à Firth Of Fifth convive com percussão de corredeira, como emThe Cinema Show. Fãs de sinfônico provavelmente escolherão Mellow Days como
ápice de You Have No Chance. Meu caso.
Cheio de melodias memoráveis e assobiáveis, o folk do CG
vem temperado com pop em The Withered Throne; precedido por clima de hino
anglicano, em ‘Till The Morning Came e dialogando com a tecnologia setentista,
dos teclados Hammond, em Knight’s Vow. Se bem que esses teclados analógicos
estão por todo o álbum, dando-lhe sabor bem vintage, embora com produção
clarinha da modernidade. A instrumental A Safe Haven é a mais destoante do
conjunto, porque vem carregada pelo piano debussyano em alguns momentos. Logo
se vê, que, neste caso, desviar não é prejudicial.
O Camelias Garden evoca
passeios por perfumados jardins e pode ser desfrutado no Bandcamp.
Nenhum comentário:
Postar um comentário