Não foi por acaso que Bárbara Eugênia escolheu lançar seu
quarto álbum precisamente no Dia Internacional da Mulher. Empoderada, a carioca
coproduziu-o e batizou-o de Tuda e cercou-se de gente daqui e de lá fora, para
acompanhá-la na desenvolta dezena de faixas, que perpassam e aglutinam estilos
e épocas.
A curta abertura, cantada com o Bloco Pagu, parece ponto
de candomblé ou símile e dá impressão de que se trata de álbum “raiz”, ou como
se queira chamar a música de cariz mais tradicional. Em Saudação, Bárbara
agradece aos seres da mata e do mar e tudo o que vem dos quatro elementos:
água, ar, fogo e terra. Telúrico e acústico, cheio de chocalhos e tambores
afro.
Mas, esse é só o início de um álbum eminentemente pop,
que, como tal, canibaliza o que pode e cospe de forma acessível e grudenta.
Logo após Saudação, vem Perdi, cuja introdução de piano logo cede lugar à
marcada pancada da bateria eletrônica e teclados bem estilo anos 80, década que
informa a faixa mais grudenta de Tuda. Bagunça convida para a dança e tem até
solo do instrumento-símbolo dos 80’s: o saxofone. Irremediável e imediatamente
viciante, com letra que fala até de disco da Adele e tem a participação de Zeca
Baleiro.
Tuda não se restringe a revival macaqueado dos anos 80.
Perfeitamente Imperfeita é ijexá pop, com backing de mocinhos fazendo papapa.
Sol de Verano tem clima de pop 70’s, porque é reinterpretação de uma canção de
1983, da anglo-hispânica Jeanette, cantante das clássicas Soy Rebelde e Porque
Te Vas. Os efeitos, alguns hoje datados e “bregas”, são rasgados por
mal-comportada guitarra roquenta. O clima de irmandade hispânica segue com Por
La Luz Y Por Tierra, folk argentino, com o grupo Onda Vaga. Também dá vontade
de bailar, mas num clima mais chacarero,
flaco! Outra que dá vontade de baixar até o chão é Confusão, espécie de
synth-carimbó, presente para o mundo da cena tecnobrega do norte. Eugênia dueta
com um dos expoentes do subgênero, Felipe Cordeiro.
Querência psicodelilza um bocadinho, meio que misturando
Caribe com Oriente Médio/norte africano e dance-rock. Inventiva e mutante, mas,
ainda acessível. Essa faixa tem a companhia de Iara Rennó, que, ano passado,
lançou delicioso álbum infantil chamado Iaiá e os Erês.
O aspecto de maleabilidade plástica de canções como
Querência, faz de Tuda, pop bem pouco óbvio. Esse aspecto camaleônico
intrafaixa também se destaca em Apaixonada Feito Gente Não, que vai de solo
repetitivo à erudito contemporâneo ao baticum eletroacústico pós-tudo do fim da
faixa.
Com produção que jamais
exagera – e isso seria fácil num álbum com essa proposta de mistureba pop –
Tuda é tudibom.
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