terça-feira, 9 de abril de 2019

TELINHA QUENTE 355


Roberto Rillo Bíscaro

Qual emissora de país “periférico” (EUA é centro, Grã-Bretanha mais ou menos, o resto é periférico; esta é a ordem mundial) não sonha com suas séries bombando na audiência doméstica, exportada pra prestigiosa BBC, além de disponível na Netflix norte-americana e na culturete PBS?
A australiana ABC não valorizou seu produto rentável. The Doctor Blake Mysteries só perdia em audiência prum drama da BBC (e a diferença não era grande), mesmo assim foi cancelada pela estatal, num lacônico comunicado que pegou até os produtores e elenco de surpresa. Rumores de bastidores disseram que a série era muito “branca” e fora de moda.
Em meio a cortes orçamentários, a série detetivesca nunca foi querida da rede, obstinada em alcançar público mais jovem. Desde a redução no número de episódios após a temporada primeira, o detetive diletante de Down Under crava primeiro lugar na audiência australiana e é visto em mais de 100 países, mas a ABC não dá valor. Na Netflix brasuca não tem, mas deveria.
Os 8 episódios da quinta temporada e o telefilme com duração de 90 minutos fecharam o ciclo de Lucien Blake e Jean Beazley na ABC, em 2017. Em clima retrô quase cinquentista – por isso a ABC não gosta muito: molecada talvez não assista e é garotada quem consome mais bobageira, – o médico continua resolvendo os assassinatos de Ballarat.
Por se tratar da derradeira temporada, fios soltos do passado são aparados, contas acertadas e embora Blake lute menos contra a burocracia policial, sua grande batalha pessoal é poder finalmente se casar com a católica Jean, que vive dividida entre a hóstia e a vontade de cama. É 1960 e a série é retrô, mas dá vontade de dizer pra essa mulher parar com isso e aproveitar o bofe escândalo que teve sorte de arrumar! Não que queiramos ver cenas de cama entre os 2; acho que fãs de The Doctor Blake Mysteries até curtem que não haja, não por puritanismo, mas porque isso torna o show diferente. Mas, ela já enrolou bastante, enough is enough. Se não, deixa pra outra.
Pra quem nunca viu, sem problema: os casos continuam autônomos; só há esse fio condutor que perpassa perifericamente a série, como é comum neste século. Os casos continuam em ambientes diversificados, a reconstituição de época charmosa e eficiente, as personagens gostáveis, enfim, assassinato pra diversão após o jantar.
O telefilme funciona como episódio meia hora mais longo, apenas se enche mais linguiça com a parte das pistas e assunções falsas. Ah, mas deu dó do Patrick! Ele era chato, mas estávamos acostumados com ele desde a temporada um. Chuif...
Devido à forte base de fãs no mundo todo e esforços do próprio elenco e equipe de produção, o Channel Seven comprou os direitos e prometeu sexta temporada. Mas, Craig McLachlan viu-se engolido por onda de acusações de assédio sexual, resultante do tsunami desencadeado por Kevin Spacey. 
A emissora prometeu então, uma série de quatro telefilmes, onde a atriz Nadine Garner, a Jean, passaria a ter papel mais central, porque seu marido estava desaparecido. Em novembro do ano passado, foi ao ar The Blake Mysteries: A New Beginning. Situada nos dias do assassinato de John F. Kennedy, a história traz Jean ajudando o Superintendente-Chefe Mathew Tobeck a resolver um caso de múltiplos assassinatos. Pouco é dito sobre O Dr. Blake: ele desapareceu tentando resolver um caso, e pronto; agora o show era de Nadine, produtora-executiva, inclusive. E é tão fofo quanto com o Doutor Blake. O roteiro reforçou a atuação de um par de personagens secundários, com os quais os fãs estávamos acostumados e amávamos há várias temporadas. Além disso, introduziram um Cabo bonito e sorridente, tipo Constable Collins, de Miss Fisher's Murder Mysteries e uma garota "rebelde", mas salvável. Ficou fofo, como sempre, mas, parece que o encosto do Doutor está pesado. O Channel Seven revelou que, pelo menos pra 2019, não há planos pra outros telefilmes. Jeito elegante de dizer que o projeto acabou.  

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