quinta-feira, 18 de abril de 2019

TELONA QUENTE 284


Roberto Rillo Bíscaro

Eilean Shona é uma ilha escocesa, que já teve boa população, mas que, em meados do século XIX, passou por emigração maciça e ficou desabitada. Lendas locais atribuíram a deserção a um assassinato e posterior maldição sobre o local, mas o mais plausível é que a fome tenha afugentado os ilhéus. Alugada nos 1920’s, para J. M. Barrie, foi ali que o autor adaptou seu clássico Peter Pan para sua estreia cinematográfica.
Ano passado, Eilean Shona inspirou o diretor Matthew Butler Hart, que escreveu o roteiro de The Isle, com sua esposa Tori Butler Hart, também atriz do filme. Três náufragos vão parar em uma ilha que sequer consta de seus mapas. Habitada por apenas quatro pessoas, não demora pra perceberem que algo estranho ocorre lá.
Filmado em Eilean Shona, The Isle agradará no quesito cinematografia. Quem curte cenários naturais meio desolados, amará. Em ritmo e tom, o filme inspira-se no pequeno ciclo de horror rural britânico dos anos 1970, cujo exemplar mais conhecido é O Homem de Palha (1973). Preferindo a suspense e a sensação de algo sobrenatural à violência e gore, a produção é repleta de névoa, sussurros e discretas sugestões demoníacas. Flashbacks, cada vez mais clarificadores, nos revelam os antecedentes dessa história que mistura folclore rural, com mitologia grega. 
The Isle não preza pela originalidade e o roteiro não enrubesce na exposição meio pesada: apesar de restar apenas um quarteto na ilha, um deles mantém minucioso diário e uma enciclopédia, pro marinheiro que gosta de ler, aprender logo na primeira noite quem foi Perséfone.
Nem de longe, a produção chega ao patamar de excelência de suas inspirações, porque os fios da trama não provocam o curto circuito surpreendente pretendido. A referência às sereias, por exemplo, jamais se integra ao bom drama pessoal. Mas, o elenco é eficiente e o filme distrai.

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