Pablo Vittar merecidamente ganha cada vez mais destaque
internacional. É sua vez de fazer sucesso e seu pop não é melhor ou pior do que
qualquer outro de veia mais radiofônica. Mas, ela não é a única drag a produzir
música no Brasil. Há várias.
Do Rio Grande do Norte, ano passado, despontou Potyguara
Bardo, cuja proposta é mais alternativa e holística. Seu álbum de estreia,
Simulacre, apresenta pop repleto de influências e de letras muito bem sacadas.
Ainda que algum treino vocal, seria bem-vindo, seu trabalho prova que
diferentes nichos culturais brasileiros estão produzindo coisas de boa
qualidade.
Simulacre simula lacrante viagem psicodélica, devido à
ingestão dum cogumelo mágico. Isso fica estabelecido na desnecessariamente
longa introdução dialogada que abre o curto álbum. São só sete faixas, porque
além da introdução, há a vinheta A Expedição, cuja letra está consoante com o
teor de busca de autoconhecimento de grande parte do trabalho. Potyguara não
fala só de festa, pegação, lacração. Mas prova que se quiser, sabe jogar
direitinho o jogo do pop radiofônico bafônico.
Colada à faixa-título introdutória, está a pulante Karamba,
com refrão grudento (kakakakaka ramba), letra sobre achar bofe em app, depois
de pedir comida por ifood, ou seja, puro 2018 com referência a tecnobrega, seja
lá o que a juventude de hoje faça/ouça. Em seguida, vem Mamma Mia, grande
acerto: com letra “forte” sobre a obsessão nacional, o bumbum, a sonoridade
combina funk minimalista com tarantela e paródia operática e inserções de
gemidão do zap e do ratinho do Ratinho, dizendo “rapaz”. Mudérrno. Que fique
longe a veiarada careta que não consegue aceitar que isso não é inferior a
bobagens de outras décadas, que envolviam bagulhos no bumba, melôs do taka
taka, bilus teteias, biquinis de bolinhas e boogies de bebês.
Bardo investe em reggae e/ou seus afluentes em mais de
uma faixa: Oasis tem gostinho trap. Plene tem a participação de Luísa e Os
Alquimistas e letra que incentiva assumir seu verdadeiro eu e canta que podemos
chamá-lx de bardo ou Bardot. Prefiro Bardo, porque é linguisticamente mais
adequado, embora se entenda porque o sobrenome de Brigitte venha á cabeça,
quando se pensa numa drag. Você Não Existe tem letra supercabeça e seu reggae
vira batuque techno lá pela metade. Ferveção metafísica laricada de eletroJah.
Na virada dos anos 80 pros 90, a paraense lambada
conquistou rebolados ao redor do globo. Bardo resgata o ritmo – nada estranho,
com o contemporânea amor pelo tecnobrega – em Lambada do Flop. O Jogo da Vida
tem o clima mais psicodélico do álbum, meio minimalista com pontadinhas de
electronica e letra que não fica atrás de nenhuma MPB “boa”.
Há algum conceito
filosófico costurando os retalhos da colcha de Simulacre. Potyguara Bardo acaba
não existindo como drag (não que fosse errado se existisse), porque no fundo é
tudo. E isso torna seu pop bem mais inteligente.
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