Roberto Rillo Bíscaro
Pro bem e/ou pro mal, a Bossa Nova é percebida como
amálgama de jazz e samba. Há quem diga que indica modernização, há quem acuse
aculturação. Há quem diga que não deu oportunidade a músicos negros; há quem
incense como uma das contribuições mais valiosas do Brasil à cultura mundial.
Independentemente de como a encaremos, antes, durante e
depois da eclosão da Bossa Nova houve imbricamentos entre o samba e o jazz,
gerando termos como sambajazz, jazzsamba, sambop e outros. A dissertação de
mestrado A INVENÇÃO
DO SAMBAJAZZ: DISCURSOS SOBRE A CENA MUSICAL DE COPACABANA NO FINAL DOS ANOS DE
1950 E INÍCIO DOS ANOS 1960, defendida por Joana Martins Saraiva, na
PUC-RIO, em 2007, tem a importância de servir como pequeno guia pra sons que
correm o risco de serem esquecidos, devido à gigantesca sombra projetada pela vencedora
Bossa de Tom e João.
A autora reconstrói o rico emaranhado de boates que
Copacabana abrigava no decênio abrangido por seu estudo. Essas casas noturnas
possuíam shows, onde o jazz foi progressivamente misturado à nossa música
tradicional, o samba. Joana resgata matérias de jornais, esgoelando contra tal
invasão cultural, que mataria nossa cultura e outros louvando a modernidade que
representava tal miscigenação.
A autora não deixa escapar que a “tradição” alegada pelos
defensores do samba “puro”, era ela mesma ainda meio novidade, porque o Samba
do Estácio, linha predominante nos 50’s, também fora considerada estrangeirista
nos 30’s. Ou seja, o trabalho fala da perene luta entre “puristas” e
“modernizadores”, que, no caso brasileiro, sempre vencem e explicam sua
preponderância com discursos antropofágicos.
Desta forma, é muito interessante aprender que o
Carinhoso, de Pixinguinha, foi acusado de corrompido, quando hoje ninguém se
atreveria. Mas, a mesma pessoa pode reproduzir o discurso, em outros
quadrantes, como uso de eletrônica, “contaminação” do funk e outros equivalentes
de hoje, desse embate tão velho. Por isso, o texto é tão instrutivo.
Salutar ler a dissertação com papel e caneta ao lado, ou
com fácil acesso a serviços de streaming e Youtube, porque a autora cita muita
coisa, que corre perigo de ser esquecida,
porque o sincretismo entre jazz e samba não se processou nos moldes
bossanovistas. Não significa que ouvirei tudo sempre, mas interessados em MPB
devem acessar esse repertório pra entender desenvolvimentos.
A INVENÇÃO DO SAMBAJAZZ: DISCURSOS SOBRE A CENA MUSICAL
DE COPACABANA NO FINAL DOS ANOS DE 1950 E INÍCIO DOS ANOS 1960 pode ser
acessada legal e gratuitamente, no link:
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