Roberto Rillo Bíscaro
É certo que qualquer história de detetive amador sugere incompetência
policial, em alguma medida. Aponta também supremacia sobre do trabalho
individual, não-treinado sobre o grupal preparado para ações investigativas.
A série Ultravioleta (2017), adicionada discretamente ao
catálogo da Netflix, não desmerece a labor grupal, mas demole o supostamente
especializado, em nível quase aterrador. Baseados num livro que narra contribuições
dum grupo de internautas na resolução de casos considerados insolúveis pela
polícia, os dez capítulos traçam o órgão público polícia como basicamente
inepto, inapto, estúpido e desprovido de qualquer equipamento humano ou
tecnológico.
Ultravioleta é o nome dum grupo de fuçadores internéticos
que resolve casos que a polícia de Lódz não consegue ou não quer se dedicar.
Não há nada de errado na colaboração entre polícia e expertos de fora da caixa,
mas a série exagera na caracterização negativa da força policial: parece que os
caras sequer possuem departamento de informática e são incapazes de pensar nas
coisas mais óbvias. Pra se ter noção, o único policial que ganha destaque é o
bofão que será interesse da protagonista: o cara usa boné com a aba pra trás,
que nem moleque!
Liderando o Ultravioleta está a uberista Ola Serafin, que
não possui nenhum talento ou treinamento especial, além de protagonizar a
série. Na verdade, antes do capítulo primeiro, ela sequer conhecia a
organização, mas a partir do segundo já dá palpites e indicações óbvias, que
qualquer serviço policial teria feito como parte do procedimento padrão. Além
de Ola, há o usual jovem hacker (asiático, porque a Polônia também quer ser
multiculti!), duas youtubers que dão dicas de maquiagem (é o predomínio da turba
dos comentários!) e um policial aposentado (ué, mas policiais não são
incompetentes?).
Todos esses senões são em nível conceitual, de criação,
então se os roteiros forem eficientes, basta suspender a descrença e evitar
cair na perigosa assunção de que os serviços públicos não funcionam, que
Ultravioleta vai de boa? Isso também não é tão simples, porque, pra reforçar o
conceito de excelência onisciente do Ultravioleta, as tramas não se aprofundam.
Os temas dos episódios são bem interessantes, como
inteligência artificial, imigração (quem quer emigrar pra Polônia?) e, claro,
assassino em série. Entretanto, a execução não é de bamba. Tudo se resolve sem
solavancos pro Ultravioleta, os únicos capazes de usar a rede e rastreios de
celular inteligentemente. Os desvendamentos são por demais simples e
imediatistas.
A primeira série polonesa na Netflix brasileira não se
destaca, mas a vi inteira, não apenas porque gosto de produções destoantes da
hegemonia anglohablante, mas, porque
dá pra ver tranquilamente, não é ruim. Só não é nível Hinterland, também
presente na Netflix.
Nenhum comentário:
Postar um comentário