Roberto Rilo Bíscaro
Em 4 de outubro, de 1957, a União Soviética aterrorizou
os cidadãos de bem do mundo ocidental, ao colocar o primeiro objeto humano
circulando a Terra. O Sputnik botava a comunista Moscou à frente da corrida espacial.
Internamente, o sentimento era de orgulho patriótico, não distinto dos
capitalistas EUA. No meio cultural, os soviéticos também produziram filmes de
ficção-científica espaciais, com pontadas ao inimigo externo.
Em 1959, saiu Nebo Zovyot, que, de forma lenta e sem
recursos, conta sobre fracassadas missões à Marte, por culpa dos cúpidos
norte-americanos. Os industriosos russos salvam o dia, porém. Apesar de termos
que confiar nas legendas não muito detalhistas da versão no Youtube, percebe-se
que a disputa pela dianteira na corrida espacial, faz russos e norte-americanos
tratarem viagens espaciais, como se fossem idas a um concerto: ah, se você vai,
vou também! Não precisa cálculo; pessoal qualquer entra nas naves e estação
espacial. Tudo bem que parte do filme seja um sonho do jornalista.
De qualquer modo, fãs de sci fi que leem inglês não
deveriam perder essa pérola.
Enquanto a cidadania de bem temia e execrava os
Vermelhos, espertalhões como Roger Corman não tinham pruridos em comprar filmes
soviéticos e reempacotá-los pra consumo em drive-ins ao redor do país. Foi
fazendo isso com Nebo Zovygot, que o venerado Francis Ford Coppola começou sua
carreira. Ele transformou o filme russo em Battle Beyond The Sun.
Conseguir americanizar a película é uma das picaretagens
mais geniais de Corman e Coppola. Bastou dublar os atores, com falas inventadas
por Francis Ford. Os atores listados no início, simplesmente inexistem, porque
tudo o que o espectador vê é o elenco russo em cenas picotadas, reeditadas e
retrabalhadas pra obliterar qualquer símbolo soviético ou letra cirílica. Também
foram eximidos os beijões na boca entre os camaradas soviéticos.
No começo, narrador explica que após a guerra nuclear, o
mundo estava dividido em duas superpotências: o Hemisfério Norte e o Sul. Elas
disputavam a corrida espacial. Ou seja, a espécie humana é tão estúpida, que
nem uma aniquilação atômica fez com que aprendesse que lutas territoriais
infantis não prestam pra nada. Em termos narrativos, com esse prólogo e a
dublagem, a maracutaia estava perfeitamente assegurada. Era a disputa EUA x
URSS pra ver quem mijava mais longe, mas de outro jeito.
Pra assegurar um pouco mais de suspense e “ação”, Coppola
criou um monstro, vivendo no asteroide onde a nave estava encalhada. São cenas
enxertadas, que de fato não produzem bônus algum em suspense, porque obviamente
a criatura não interage com qualquer personagem.
O ideal é ver as produções imediatamente em sequência pra
se divertir imenso com o empreendedorismo do grande Roger Corman e seu assecla
faminto por oportunidade, Francis Ford Coppola.
Felizmente, o Youtube
também disponibiliza Battle Beyond The Sun.
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