Embora os Estados Unidos preponderassem na produção de
filmes sci fi/horror/trash dos anos 50/60, nações menos importantes, como o
Reino Unido, de vez em quando colaboraram com algo. Há quem desconheça que fora
do eixo anglofalante tenha havido produções. Claro que teriam melhores (únicas)
chances de distribuição se faladas em inglês, mas o Japão tem vários filmes
legais, dentre eles o influente Gojira (Godzila no Ocidente) e outros monstros
pós-nucleares.
Fora desses três países, há casos isolados, como o
dinamarquês Reptilicus (1961), sobre um lagartão que aterroriza Copenhague.
Mas, quase sempre foram iniciativas conjuntas com algum estúdio barato dos
Estados Unidos. Terror in the Midnight Sun (1959) é coprodução sueco-americana
que, por ser facilmente achável no Youtube, pode ser interessante caso de
estudo para apreciadores do cine trash da época, não apenas pela inerência da
produção. Mas, vamos por partes.
Falado meio em sueco, meio em inglês, Rymdinvasion i
Lappland é mistura sem nexo e dinheiro, de King Kong (1933 - esse filme é muito
influente!), O Abominável Homem das Neves (1957) e de modo geral, dos filmes de
alienígenas pousando em áreas remotas e pouco fazendo, porque faltava grana na
produção.
Uma bola de fogo risca os céus da nevada Lapônia e grupo
de cientistas, com uma moça enxerida, vão até lá investigar. Sem fundos, boa
parte do filme, como de praxe, é falação, e nesse caso, cenas de esqui e montanhas
nevadas. A bola ígnea é obviamente uma espaçonave, mas isso é apenas desculpa
pra botar um cara vestido com roupa de corpo de gorila e cabeça de monstro, andando
pela neve (tipo Robô Monstro), com a berrante mina nos braços.
Esses filmes são apenas
prum nicho bem pequeno hoje em dia: apenas nós que nos divertimos com
incongruências ou machismos, tipo colocar garota supostamente campeã olímpica
de patinação ou algo assim, mas que consegue levar dois tombos feios em menos
de 90 minutos. E, depois dum desses tombos, começar a correr como se o joelho
estivesse na melhor das formas.
Os cheapies – como eram chamadas essas produções de fundo de quintal – passavam por processos de reciclagem frequentes. Tomadas/Cenas/Sequências inteiras eram reutilizadas em diversos filmes. Adendos eram gravados e inseridos em material existente, gerando filme “novo”’, enfim, os produtores e cineastas independentes sabiam e queriam ganhar alguns dólares sem gastar.
O Youtube permite aula magna desse processo de picotagem,
clonagem, reciclagem (picaretagem?) pra quem consegue acompanhar inglês sem
legenda, se bem que essas produções eram pra meninada ver em drive ins, em
sessões duplas, nem mesmo os nativos ligavam muito pros diálogos.
Um dos produtores suecos vendeu os direitos de Terror In
The Midnight Sun pros ianques. Reza a lenda que o escandinavo embolsou toda a
bufunfa... Anyway, na linha barata de montagem californiana, a duração foi
drasticamente reduzida (e mesmo assim há encheção de linguiça pra fazer uma
churrascada) e cenas gravadas pra inserção. O resultado é Invasion of the
Animal People, que faz ainda menos sentido que seu genitor, afinal, a película
é um verdadeiro Frankenstein; só retalhos.
Tudo começa com o então onipresentemente trash John
Carradine fazendo introito sobre a importância da ciência e depois a atriz
Barbara Wilson gravou cenas extras, pra inferir que sua personagem já vivera
situação traumática envolvendo contatos com alienígenas. Daí, aparecem as notícias
da queda da bola de fogo e todo mundo vai pra Suíça (notem que não é mais Suécia,
mas depois parece que é, sei lá). Qual a relação de causa e efeito ou qual arco
descreve a personagem mediante dois traumas com ETs? Imagine que tem isso; nem
há relação entre as experiências da moça. É só pra ter filme, gente! A parte
esses extras, todo o restante são cenas do filme sueco, que, se já não fazia
muito sentido, nessa versão terá cortes inacreditáveis devido à edição. É muito
engraçado e instrutivo pra quem se interessa por filmes B.
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