quinta-feira, 23 de maio de 2019

TELONA QUENTE 289


Roberto Rillo Bíscaro

Com tantas manobras, ora protetivas, ora de abrição de perna, em relação aos Estados Unidos, há situações quando é difícil dizer se um filme é britânico ou ianque. Teve filme feito todo na Inglaterra, “apenas” financiado pela ex-colônia; teve equipe dos EUA que se deslocou pro Reino Unido pra gravar lá, porque mais em conta.
Como não estou escrevendo uma história acadêmica dos filmes cinquentistas de ficção-científica, posso classificar Spaceways (1953) como coprodução, porque a britânica Hammer pareou com a indie estadunidense Lippert Pictures, a mesma de Rocketship X-M, por isso que o lançamento dos foguetes é tão idêntico.
Baseado numa peça de rádio e aleijado por orçamento esquálido, Spaceways é uma paradeira só, quase todo filmado em 2 ou 3 salas e só nos últimos 15, 10 minutos a ação se acelera. Mas, a advertência mais contundente a possíveis interessados em conferi-lo é que de sci fi a película tem muito pouco, apenas nos 10 últimos minutos há cenas dentro dum suposto foguete, mas é tudo bem precário.
Spaceways atua mais no gênero do mistério detetivesco, pelo qual os ingleses são respeitados. Mas esse exemplo é bem esquecível.
Numa base militar ultrassecreta, o engenheiro norte-americano Stephen Mitchell lidera o programa espacial inglês, que enviará o primeiro satélite em perpétua órbita terrestre. A finalidade é pacífica, mas, como lembra um militar, é sempre bom ter de onde atirar ogivas nucleares em caso de necessidade. Que fofa a Grã-Bretanha: as prateleiras do Reino estiveram frequentemente desabastecidas durante quase toda a década de 50, mas o país ainda imaginava narrativas compensatórias como liderar o programa espacial (mesmo que a expertise viesse dos ianques). James Bond entendido sob essa luz assume contornos bem distintos, tente vê-lo assim.
A esposa do destemido Mitchell é inglesa e tem caso com outro cientista, porque estava aborrecida com a vida vigiada da base militar. A vigilância é detalhista, mas reparem, mais pro fim, como assumir a identidade de outrem, prum voo espacial é fácil.
Quando a infiel e seu amante desaparecem, entra em cena um detetive – única personagem com alguma personalidade – que suspeita que Mitchell matou a mulher e amante e os atirou no tanque de combustível da nave que recém-partira, mas não alcançara a órbita desejada. Claro que o machão Mitchell vai querer provar sua inocência, indo atrás do satélite, em um foguete. Riquérrimo esse programa espacial anglo; tem foguetes como Ubers!
Spaceways tem espionagem, triangulo amoroso e medo dos comunistas, tudo antes do conteúdo sci fi. Daria até pra perdoar o oportunismo do título, caso o material não fosse monótono, palavroso, sem sal; não dá pra recomendar a não ser que você esteja começando ou completando a trajetória do diretor Terrence Fisher, que ficaria afamado pós-morte com seu ciclo de horror pra Hammer.

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