domingo, 30 de junho de 2019

MELHORES DE 2019 – PARTE I



Roberto Rillo Bíscaro

Semestre horrível, com a perda de um enorme amigo e apoiador do blog, que até fez texto pra cá, no início da saga, há uma década. Apesar disso, ou precisamente devido a isso, mergulhei fundo em álbuns, séries, filmes e livros. Eis o que mais me encantou do que resenhei.

E esta listagem vai dedicada ao eterno companheiro de jornadas, Carlos Alberto Pedretti.

MÚSICA
Di Melo – Álbum negligenciado dos anos 70, que vai do soul ao tango com elegância e competência.
You Have a Chance – O italiano Camelias Garden compôs pura delicadeza prog folk.
Walk Through Fire – A poderosa voz de Yola estreia nessa mistura vintage de soul e country.
Isolation – Um caldeirão de referências tão bem derretidas, que são capazes de criar sonoridade própria pra essa menina.
Canções de São Patrício – Sensível rendição de música celta, cantada em bom português.
Raphael Gimenes & As Montanhas de Som – Raphael vive na Dinamarca e criou fascinante madrigal sonoro ao nível do melhor da MPB anos 70.
Colourbox – Condenado a ser cult, o Colourbox fazia pop eclético e meio à frente de seu tempo.
Tatanagüe – Theo de Barros, o autor de Disparada, retornou com álbum irrepreensível, fina flor da MPB.

TV
Shetland – A quinta temporada globaliza no tema, mas permanece sombria.
Clan – As irmãs belgas que querem eliminar o cunhado são um gozo de humor-negro.
Testemunha de Acusação – A obra de Agatha Christie reimaginada em tons bem sombrios.
13 Geboden – A Bélgica vez mais produzindo série policial excitante.
Father Brown – Um padre detetive, muito, mas muito fofo.
Les Hombres de L’Ombre – Intriga política francesa, na linha de The West Wing e afins.

CINEMA
Ethel e Ernest – Animação opara adultos sobre a história de vida de um casal que viveu alguns dos maiores eventos do século XX, em sua modesta casa londrina.
Lazzaro Felice – Alegoria política italiana, bem ao estilo do cinema dos anos 70, mas com o travo da globalização do novo milênio.

LITERATURA
The Chestnut Man – O criador de Forbrydelsen estreia com um thriller policial difícil de parar de ler.
The Silver Road – Estreia sueca, com personagens tristes, bem delineados e uma ambiência de dar inveja.

Embora não conste da lista, um post-homenagem ao Carlito não valeria se o vídeo não fosse de Bethânia.

sexta-feira, 28 de junho de 2019

PAPIRO VIRTUAL 138


Roberto Rillo Bíscaro

Em 2014, não apreciei muito The Purity Of Vengeance, conforme contei na resenha. Nem achei que leria outro da série do Departamento Q, que funciona num porão da polícia de Copenhague, desvendando crimes que a polícia classificara como insolúveis.

Mas, deu vontade der ler Nordic Noir (virou fase, pois li outros depois) e vi The Absent One (2008) perdido nos recônditos do Kindle, então, baixei de novo. No Brasil, o livro chama-se A Caça e foi lançado pela editora Record.

É o segundo volume da série do detetive Carl Mørck e seu assistente Assad. The Purity Of Vengeance é o quarto e ambos têm praticamente o mesmo tema: uma mulher que sofreu muito e agora quer se vingar. Só que no caso d’A Caça (embora eu o tenha lido em inglês, chamarei-o pelo título em português), Kimmie é tão ou mais psicopata, quanto os três ex-amigos que quer eliminar.

Um dos pontos fracos d’A Caça é que logo cedo descobre-se que há grupo de psicopatas riquíssimos, cujo prazer sádico é torturar e, às vezes, matar pessoas e animais. Então, boa parte do livro é o procedimento de caça a esses indivíduos.

Sem mistério a desvendar, restou a Adler pesar nas cenas de crueldade, algumas supérfluas, porque pretendem demonstrar algo que estamos carecas de saber: essa gente é louca e perversa. Aliás, quem é sensível a violência contra animais, nem comece a folhear, porque é repulsivo.

Influenciados pelo filme A Laranja Mecânica, meninos riquinhos de internato começam a barbarizar e o fazem durante anos. Adler não tem a menor preocupação ou habilidade em nuançar suas personagens: ricos são invariavelmente frios, calculistas e insensíveis.  Só faltou “olhar pra câmera” e gargalhar.

Em 2016, o romance foi adaptado pras telonas, com o título internacional The Absent One, a ausente sendo a Kimmie, a psicopata regenerada e sofredora que vivia nas ruas. O filme é bem mais palatável em termos de demonstração de violência, especialmente contra animais.

Numa narrativa que ziguezagueia temporalmente, como de costume hoje, o livro é habilmente roteirizado pra se livrar de procrastinações e reiterações. Isso implica mudanças nas ações e o resultado é uma película decente, que não traz nada de novo ao Nordic Noir (por que deveria fazê-lo se sua fonte é medíocre?), mas trabalha bem seus clichês.

Melhor ver The Absent One do que ler A Caça: pelo menos é bem mais rápido e em duas horas está tudo acabado.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

TELONA QUENTE 294


Roberto Rillo Bíscaro

Tenho resenhado diversos slasher films que utilizam técnicas de paródia, subversão de clichês do subgênero ou hibridização com outros tipos fílmicos. Dead Body (2017) apresenta típico slice’n’dice casado com as clássicas narrativas detetivescas de whodunnit, ou, em bom português, quem matou? Bastante utilizado nos romances policiais, tipo Agatha Christie, os britânicos foram/são mestres em reunir um grupo em mansão campestre isolada, onde um ou mais personagem é morto e o restante tem que lidar com a insegurança de não saber quem é o assassino, tão próximo, e ao mesmo tempo tão inacessível pelo mistério. Geralmente, um(a) detetive genial descobre o criminoso. A frequência da culpa do mordomo, no início dessas narrativas, gerou chavões durante um bom tempo, inclusive.

O norte-americano Dead Body coloca suas personagens numa cabana isolada no meio do mato, emprestando à narrativa seu forte referencial Sexta-Feira 13, um dos bastiões dos filmes slasher. Um grupo heterogêneo e bastante estereotipado de recém-formados do ensino médio (só se for de EJA, pela idade dos atores...) reúne-se para sua última festança juntos. Alguém propõe uma brincadeira chamada dead body (cadáver) e é então, que os jovens começam a ser eliminados.

Na falta de um detetive, os próprios jovens expõem suas suspeitas e conjecturas, cambiantes à medida que os corpos se empilham. Defender-se com armas brancas, típicas de slasher, como pistolas de pregos e ganchos, dá a oportunidade pro serial killer usá-las em mortes nada criativas, devido ao baixo orçamento indie, mas que apresentam certo gore.

Dead Body discrepa no tom e as transições entre algumas cenas são bruscas em demasia, mas compre a função de divertir e manter os slasher films ainda surpreendendo. Mas, quem é macaco-velho em qualquer um dos subgêneros envolvidos deve suspeitar logo de quem está por trás da matança.

terça-feira, 25 de junho de 2019

TELINHA QUENTE 366


Roberto Rillo Bíscaro

Rotular orienta o espectador no sentido de esperar o que pode testemunhar e a quais convenções terá que aceitar, além de ser um dos primeiros critérios pra decisão do que assistir. Se leio “drama esportivo” ou “ação”, já me desmotivo um bom bocado pra dar chance ao material.
Por outro lado, tais classificações não dão conta de descrever algumas séries, quando existe certa mistura de subgêneros ou quando se está trafegando por um com fortes traços de outro(s). É o que ocorre com os oito episódios de Craith (2018). Produzida pela galesa S4C, a série recebeu o título Hidden pra distribuição internacional e um de seus criadores é Ed Talfan, corresponsável por Hinterland (disponível na Netflix), melhor exemplo – junto com Shetland – do Celtic Noir, aquele irmão-siamês do Nordic Noir.
Craith trata de investigação sobre garotas desaparecidas no lindo, lúgubre e meio esquálido campo do País de Gales. Por isso, é classificado como “crime drama”, embora isso seja muito redutor e decepcionará quem gosta de agilidade narrativa, crimes altamente estilizados e pistas falsas ou não. Craith é mais um drama psicológico sobre desajustamento, traumas infantis tornados obsessões e vidas fracassadas ou se acabando.
Jamais atinge o esplendor trágico deprê de Hinterland, mas é bom companheiro. 
Ninguém tem dúvida de que Shetland é um dos dramas policiais mais fascinantes e tristes da década. Se não tão influente, quanto Broadchurch, a série da BBC sempre apresentou tramas sólidas, interpretadas à perfeição, no cenário esplendorosamente cinza, frio e eólico do arquipélago escocês (se bem que muito é filmado na própria Escócia).
A quinta temporada, exibida entre fevereiro e março, eleva a angústia a nível social/global, porque a meia dúzia de capítulos trata de drama pessoal advindo do flagelo macro do tráfico de pessoas. Quando shows são cancelados por serem “brancos demais”, parece até coisa de cota racial: vamos inserir personagens negras num ambiente totalmente viking, através do tema X. Essa encarnação um pouquinho mais politizada (calma, não há [muito] discurso em Shetland) e inédita na série, deve ter sido a causa de certo titubeio no episódio de abertura. Mas, depois que acerta o passo, Shetland volta a sua capacidade hipnótica, a qual nem Broadchurch teve.
DI Jimmy Perez, DS Tosh e turminha passam os seis episódios buscando Zezi Ugara, nas mãos dos escravistas modernos. Como é Shetland, não sabemos se ela sairá viva no final, porque essa série jamais se preocupou em reorganizar a realidade ficcional em tons róseos após a “resolução” dos casos. Na verdade, fãs da série, esperamos até que o fim seja catastrófico. Na temporada passada, mal consegui levantar o controle-remoto pra mudar de programa, de tão deprê e chapante o desfecho.
Douglas Henshall levou o BAFTA, em 2016, mas deveria papar outro este ano se houvesse realmente justiça neste mundo. Uma das subtramas dessa temporada envolve possível novo relacionamento pro detetive. Quando ele recebe a notícia de que seu interesse romântico pode ser parte da rede de traficantes, dá quase pra sentir o nó em seu estômago. Aliás, suas encostadas em paredes são antológicas.
O bom dos finais que deixavam a gente mole até, é que enquanto rolavam os créditos, a narradora da BBC se despedia nos confortando que Shetland voltaria no ano seguinte. Nesta temporada, isso não ocorre e a BBC ainda não renovou o show pra sexta temporada.
O final desta temporada teve mesmo saborzinho de amarramento pralgumas personagens, mas gente como o DC Sandy ficou no ar, se bem que ele nunca foi relevante como Perez ou Tosh. Desse modo, não dá pra saber se há planos proutra temporada. Talvez seja melhor assim, sair enquanto se está no topo. Esta quinta vinda já deu sinaizinhos um pouco incipientes de que pode ser boa ideia pensar em parar. Mas, como devoto, prefiro nem cogitar isso. Quero mais tristeza e mais OKs de Jimmy Perez.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

CAIXA DE MÚSICA 370



Roberto Rillo Bíscaro

Alguns grandes álbuns ficam para trás em qualquer discografia, seja lá sobre onde falamos. Por motivos que não cabem especular aqui, um cânone é estabelecido e repetido a ponto de dar a ideia de que em tal período só se produziu X, Y e Z de “bom”, o resto não conta, e ainda fica coisa que sequer é captada pelos radares.

No Brasil dos anos 1970, há artistas e álbuns que merecidamente constarão em qualquer lista de melhores da década. Como negar a importância de Clube da Esquina, Refazenda, Acabou Chorare ou Transa? Há diversos trabalhos, porém, ainda nem tão difundidos quanto mereceriam.  Um dos exemplos é o álbum homônimo do “imorrível” Di Melo, lançado em 1975.

Roberto de Melo Santos, recifense migrado para São Paulo, cantava na noite paulistana, quando Alaíde Costa apresentou-o a um executivo da EMI-Odeon. Di Melo, o álbum, não deve ter tido suficiente divulgação e Di Melo, o compositor/cantor, levou calote nos direitos autorais. Desgostoso, o soulman ficou décadas sem gravar. Nos anos 90, DJs britânicos descobriram seu trabalho e, por consequência, alguns brasileiros. Desde então, seu estatuto de compositor de um dos grandes álbuns dos 70’s vem crescendo e Di Melo até voltou a gravar.

O álbum homônimo de 1975 é pérola de doze faixas sem deslize, do qual participaram nomes do porte de Hermeto Paschoal e Heraldo do Monte. A parte medalhões como Tim Maia e Jorge Benjor (que então era simplesmente Ben), não muitos outros influenciados pela black music constam do panteão da MPB. Di Melo prioritariamente navegou nessas águas negras, mas seu álbum de estreia também singrou outros mares.

Da dozena de faixas, metade é de extração soul, extremamente bem tocadas e às vezes, com benvindas intromissões de elementos de samba e até certa percussão makossa, em A vida Em Seus Métodos Diz Calma, um dos deleites do álbum. É dessa parte que saem clássicos irrefutáveis, como a estupendamente viciante Se O Mundo Acabasse em Mel e balanços impecáveis como Kilário.

As denúncias sociais e letras sobre a desumanização provocada pela metrópole estão acompanhadas por bandoneón tangueiro em Conformópolis e em Sementes o ritmo argentino assume primazia. Joao é samba-canção e Indecisão é espécie de moda violeira, com coro feminino fazendo láiáláiá, bem ao modo dos anos 60 e 70. Alma Gêmea é balada meio folk, linda.

Sofisticado e divertido, Di Melo, o álbum, não deve nada a seus contemporâneos sempre mais badalados e reconhecidos.

BEBÊ ALBINO RECEBE AJUDA PARA TRATAMENTO


domingo, 23 de junho de 2019

ONU ACONSELHA

ONU: é preciso reconhecer, celebrar e se solidarizar com pessoas com albinismo



A cada 13 de junho, o mundo é lembrado de que pessoas com albinismo merecem ter seus direitos à vida e à segurança protegidos. Pessoas com albinismo frequentemente sofrem desafios e obstáculos para seus direitos humanos, de estigmas e discriminações a barreiras no acesso à saúde e à educação. No Dia Internacional de Conscientização sobre o Albinismo, é preciso “reconhecer, celebrar e se solidarizar com pessoas com albinismo ao redor do mundo”.

O albinismo é uma rara condição genética, não contagiosa, apresentada no nascimento. A condição é encontrada em ambos os sexos, independentemente de etnia, em todos os países do mundo.

Desafios à saúde

Uma falta de pigmentação, ou melanina, nos cabelos, na pele e nos olhos causa vulnerabilidade ao sol e a luzes fortes. Isto faz com que muitas pessoas com albinismo tenham problemas visuais e sejam propensas a desenvolver câncer de pele.

Em alguns países, de acordo com dados das Nações Unidas, uma grande parte de pessoas com albinismo morre de câncer de pele entre 30 e 40 anos. Embora altamente evitável quando o acesso à saúde é mantido, estas medidas – incluindo acesso a exames regulares, filtro solar, óculos de sol e roupas de proteção – estão indisponíveis ou são inacessíveis para pessoas com albinismo em uma série de países.

Por conta da falta de melanina nos olhos, pessoas com albinismo também têm problemas visuais permanentes, que frequentemente levam a deficiências.

Consequentemente, no âmbito de medidas de desenvolvimento, pessoas com albinismo estão entre as que “mais estão sendo deixadas para trás”. Logo, a ONU destaca que pessoas com albinismo precisam ser alvo de intervenções de direitos humanos da maneira prevista nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Discriminação

Pessoas com albinismo também enfrentam discriminação por conta do tom de suas peles. Além disso, elas são frequentemente invisíveis nas arenas política e social.

Embora os números variem, estima-se que na América do Norte e na Europa uma a cada 17 mil a 20 mil pessoas tenha alguma forma de albinismo. A condição é muito mais prevalente na África Subsaariana, onde estima-se que uma a cada 1.400 pessoas seja afetada na Tanzânia, e uma a cada 1 mil para populações no Zimbábue e em outros grupos étnicos no sul da África, de acordo com a ONU.

A discriminação contra pessoas com albinismo varia de região para região. No mundo ocidental, incluindo América do Norte, Europa e Austrália, a discriminação consiste em xingamentos, provocações e bullying na infância.

Poucas informações estão disponíveis para outras regiões, incluindo Ásia, América do Sul e Pacífico. No entanto, segundo relatos, na China e em outros países asiáticos “crianças com albinismo enfrentam abandono e rejeição por parte de suas famílias”, de acordo com a ONU.

Pessoas com albinismo na África frequentemente enfrentam formas severas de discriminação e violência, segundo estatísticas. Em uma região onde a maior parte da população possui a pele negra, o contraste no grau de pigmentação chama atenção para as pessoas com albinismo, as deixando mais vulneráveis.

Desde 2010, houve cerca de 700 casos de ataques e assassinatos de pessoas com albinismo em 28 países na África Subsaariana. E estes são apenas os casos relatados.

Marcando o Dia

Em sua sede, em Nova Iorque, as Nações Unidas comemoraram o Dia com uma série de eventos. Em um deles, a modelo sul-africana Thando Hopa e outros participantes andaram da ONU até a Times Square com cartazes mostrando mensagens para marcar o Dia Internacional de Conscientização sobre o Albinismo.

Também foi realizado um evento para pessoas com albinismo durante a 12ª sessão da Conferência de Estados Participantes da Convenção sobre os Direitos de Pessoas com Deficiências.

O músico Lazarus Chingwandali, albino e personagem de um documentário premiado, se encontrou com a especialista independente da ONU sobre o gozo dos direitos humanos por parte de pessoas com albinismo, Ikponwosa Ero. Juntos, eles se posicionaram a favor dos direitos humanos.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

PAPIRO VIRTUAL 137

Promissora estreia da sueca Stina Jackson, com ambientação detalhada e personagens nuançados.

SONHOS ALBINOS EM ANGOLA

Albinos sonham com um país sem discriminação


A comunidade angolana de albinos continua a sofrer com a exclusão em todas as dimensões da vida (económica, social, política) e reclama por acções afirmativas que ajudem a transpor as dificuldades.

A análise do contexto sociocultural é essencial para desenhar políticas públicas correctas, que cumpram o ob-jectivo de construir soluções para todos. Sem excepções.

Três senhoras de camisas simples e pele bem clara e cabelos amarelos estão sentadas no auditório do Cefojor, em Luanda. Depois saem da sala em conjunto. 
Celeste Domingos, 37 anos, deslocou-se de Caxito (Bengo), com o recém-nascido nos braços para acompanhar a 1ª Conferência Pró- Albinismo em Angola, que aconteceu ontem e foi organizada pelo Movimento Pró- Albino e pela Associação de Apoio aos Albinos de Angola (mais conhecida como 4 As). 
Celeste vende pão na pracinha e acomoda-se com a mãe, o marido e mais quatro filhos na mesma casa. Diz não enfrentar grandes problemas no seio familiar, ao contrário de Luzia Albino, 47 anos, que apenas vive com um tio e mais cinco filhos. 
“Já tenho filhos com vinte anos, mas não consigo apoiá-los devido às dificuldades financeiras. Estou desempregada, já trabalhei na limpeza de instituições públicas mas neste momento estamos assim. Não tenho possibilidade de comprar os cremes de protecção solar e as pomadas para proteger a pele”, explicou.
Ao lado das duas amigas está Conceição Daniel, 31 anos e quatro filhos. Escuta as conversas e percebe-se pela expressão facial que também pretende intervir. 
“Em Caxito, estamos a precisar de apoio, necessitamos de pelo menos uma farmácia onde seja possível comprar o protector solar a preços mais acessíveis. Em Caxito faz muito sol. Praticamente não saio de casa. E procuro banhar três vezes por dia”, disse Conceição Daniel ao Jornal de Angola. Os cidadãos portadores de albinismo enfrentam três grandes problemas ao longo da vida: baixa visão, extrema sensibilidade da pele e as questões culturais e psicológicas que acabam por ter um grande impacto no dia-a-dia. 
O contexto acaba por moldar comportamentos, atitudes e até os gostos que parecem muito pessoais mas que, no fundo, são resultado de várias influências. E os países têm responsabilidades acrescidas na defesa dos direitos dos cidadãos. Segundo o artigo 21.º da Constituição da República de Angola (relativo às tarefas fundamentais do Estado), o país tem o dever de assegurar os direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos, promover políticas que permitam tornar universais e gratuitos os cuidados primários de saú-de e promover sem preconceitos a igualdade de direitos e de oportunidades entre os angolanos.
Xavier Agostinho tem o ensino médio completo (em Ciências Humanas e Sociais) e vive no Cazenga (Luanda). É num dos maiores e mais antigos bairros da capital que a associação 4 As tem a sua base. Vive apenas com um tio e admite que “a convivência familiar e social não é saudável”.
“É aqui que as responsabilidades sobem para outros níveis. Cabe ao Governo trabalhar para melhorar a inclusão social dos albinos, seja no trabalho, na escola ou na saúde pública”, frisou.

Educação para a inclusão

A diferença sempre chama à atenção da sociedade e das pessoas em geral. Nascer com uma cor da pele totalmente oposta à dos pais e restantes familiares pode ser um es-cândalo. É necessário olhar com muita atenção para os mitos, rituais e tradições.
Armindo Jaime Gomes, também conhecido por Arja-go, é natural de Benguela. Tem como foco principal o estudo do acervo pré-colonial umbundu. Ainda que o seu interesse seja abrangente, já abordou a questão do albinismo dentro da cultura do Planalto Central.
“Até a década de 1930 não era fácil encontrar um albino naquela região”, explicou. “Julgo que a introdução da Missão do Dondi e as novas abordagens que promoveu deram origem a algumas mudanças. E eliminaram ou modificaram tradições”, disse Armindo Jaime Gomes.
Segundo o professor da Academia Militar do Exército, no Lobito (Benguela), na língua umbundu a palavra que define o albinismo é ohasa. “Entre outras possíveis traduções, em português significa praga, medo ou azar”, explicou.
O nascimento de um albino significava que os ancestrais estavam descontentes com alguma atitude dos progenitores. Algo cometido no passado seria motivo de penalização para o presente - com o nascimento de uma pessoa albina - e para o futuro. Era sinal de péssimo agoiro.
“Hoje o contexto é diferente. Já temos pastores, líderes comunitários e deputados albinos. Significa que a tradição, a cultura, também se vai alterando. Defendo que a mudança de mentalidades em relação ao albinismo deve ser reforçada ao nível da educação formal da escola. A educação é a solução”, acredita Armindo Jaime Gomes.
Pascoal Ovídio é dermatologista no Hospital Américo Boavida, onde o serviço especializado acompanha 513 pacientes com albinismo. Acredita que a solução para amenizar a vida das pessoas está na educação, informação e comunicação. Com uma ressalva.
“Para lá das questões básicas é preciso que o sistema público de saúde funcione devidamente. E ainda antes deste tema, precisamos de empoderar as pessoas e dar-lhes dignidade”, acredita o dermatologista.
Também ao nível das so-luções para mitigar os problemas da pele, Pascoal Ovídio defende uma abordagem específica.
“Tal como desenhamos programas específicos para determinadas doenças também devemos fazê-lo para o albinismo. Defendo que estas pessoas devem ter acesso aos cremes e protectores solares de forma gratuita”, disse o especialista.
A Conferência Pró-Albinismo em Angola contou com a presença do secretário de Estado da Comunicação Social, Celso Malavoloneke, da Justiça e Direitos Humanos, Ana Celeste Januário, e dos Assuntos Sociais, Ruth Mixinge.


quinta-feira, 20 de junho de 2019

TELONA QUENTE 293

Roberto Rillo Bíscaro

A Garota (ou Mulher, conforme a fonte consultada) Diabólica de Marte é curioso. Produção independente na empobrecida Grã-Bretanha de 1954, devia ser pobre até se comparada a congêneres ianques. The Devil Girl From Mars (TDGFM) realmente o é: o robô é lento e desengonçado, parece uma geladeira com braços e pernas. Daria pra escapar de seus raios desintegrantes muito facilmente, mas as personagens preferem se encolher de medo e morrer.
Além disso, as atuações são atrozes, os diálogos forçados, enfim, uma coleção de pontos negativos nessa história de espaçonave marciana tripulada por fêmea fatal gélida vestida de proto-dominatrix, que veio à Terra catar machos pra repovoar seu agonizante planeta. Erro de cálculo faz com que tenha que aterrissar nos confins das terras altas escocesas, justo ao lado duma hospedaria, que reúne personagens tão críveis quanto uma modelo londrina, um cientista, um fugitivo da cadeia, que se expressam melodramaticamente. Tem até menininho que fala “gee”, como o pivete de Invasores de Marte.
E não é que por causa dessa precariedade toda, TDGFM é muito legal de assistir? Virou cult, mas não naquele estilo de roteiro sem sentido ou continuidade, à Robot Monster ou Mesa Of Lost Women. TDGFM tem trama com começo, meio e fim, só é camp e amador pra burro.
Isso não significa que devamos vê-lo com superior olhar paternalista, porque há um par de boas ideias nele. A nave é feita de metal orgânico, portanto, dotado da capacidade de regeneração. A falta de dinheiro e a teatralidade (literalmente, porque o roteiro é adaptado duma peça) do roteiro impedem que seja mostrado, mas esse conceito só reapareceria no imaginário sci fi de cultura de massa décadas depois.
Outra coisa bem destacável é o protagonismo feminino, raridade nos anos doirados. Não poucas narrativas após TDGFM abordam a vinda de marcianos buscando terráqueas. O bordão “Mars needs women” figurou até em canções de metal e acid house. Esse temporão exemplo inglês já subverte o lugar-comum, colocando a fêmea como predadora; buscando sexo reprodutor na cara dura, nada de amor. É óbvio que a marciana Nyah será vilã e derrotada, mas isso não necessariamente precisa ser lido como punição pelo protagonismo feminino, porque qualquer invasor alienígena é vencido.
Falando nisso, qual personagem você acha que dará a vida pra salvar a espécie humana da dominação? Basta verificar a “ocupação” de cada um; qual o/a prescindível? Veja legendado e tente descobrir. Escolados em convenções fílmicas sheherazádicas disfarçadas, acertarão.

CONFERÊNCIA ALBINA

Angola: 1ª Conferência Nacional sobre Albinismo

A 1ª Conferência Nacional sobre Albinismo em Angola realizou-se quinta-feira (13.06) em Luanda. Evento decorreu no âmbito do Dia Mundial de Consciencialização do Albinismo, minoria ainda muito discriminada em Angola.
No Dia Mundial de Consciencialização do Albinismo, albinos ouvidos pela DW África ainda se queixam de discriminação em Angola. O Governo já anunciou a implementação de um projeto-piloto de cadastro dos albinos ao mesmo tempo que apela a implementação de convenções internacionais para implementar mais medidas.



Testemunhos

À margem da conferência, a DW África conversou com alguns albinos. Um dos participantes falou sobre a discriminação que enfrenta no seu dia-a-dia.

"Sentimos uma grande dificuldade de inserção no campo social, mas também na escolaridade e empregabilidade. Por outro lado, ainda há discriminação no relacionamento (amoroso) ".

Ângela Eduardo, outra participante no evento diz que mais da metade da sociedade ainda discrimina as pessoas que sofrem de albinismo. Questionada sobre se também existia em Angola casos de pessoas que matam os albinos por suposta "procura de sorte" como ocorre em países africanos como a Tanzânia e Moçambique, disse que desconhecia. Mas aponta pequenos mitos que também a preocupam.



"Os mitos mais frequentes são: (a sociedade) diz que o albino não morre, mas desaparece, dizem também que o albino não pode comer feijão, nem fritar peixe se não sai rebentos. São apenas mitos".


Manuel Vapor responsável da Associação Nacional de Apoio a Pessoa com Albinismo tem um desejo. "Queremos elevar o nível de escolaridade das pessoas com albinismo a partir do ensino primário até ao ensino superior. Dentro dos manuais desejamos que sejam colocados retratos e explicações detalhadas sobre pessoas com albinismo".

Informação sobre esta minoria é prioridade

Guilherme Santos, responsável do Movimento Pró-Albino criado em Angola, em outubro de 2015, escreveu recentemente na sua conta do Facebook que ainda não se sabia exatamente quantos albinos existiam no país.

No seu discurso da abertura da conferência, Ruth Mixinge secretária de Estado da Promoção da Mulher fez saber que o Governo está a levar a cabo um projeto-piloto de cadastro de albinos em três províncias: Uige, Bié e Moxico. Mas defende a necessidade de se fazer mais, por exemplo, a cooperação entre instituições para se resolver os problemas das pessoas vivendo com albinismo como a discriminação e exclusão social.


"Porque nós ouvimos aqui e bem dito, quer a saúde, quer a educação ou outros serviços devem ter a disponibilidade e devem ter mecanismo de estabelecer para que efetivamente todos os cidadãos incluindo este grupo de pessoas em condições de vulnerabilidade possam ter acesso a estes serviços. Para efeito precisamos de identificar e mapear as famílias que estão, que entregam ou que têm sob seus cuidados crianças com albinismo".


Na mesma ocasião, Ana Celeste Januário, secretária de Estado dos Direitos Humanos e Cidadania do Ministério da Justiça defendeu a aplicação da Constituição angolana, da Convenção Contra Todas as Formas de Discriminação e do Pacto Internacional dos Direitos Civis, Políticos, Económicos e Sociais na conceção das políticas públicas.

"Pensamos que são instrumentos importantes para ajudar na elaboração das políticas do Estado relativamente as pessoas com albinismo”.

Esta 1ª Conferência Nacional sobre Albinismo foi uma iniciativa do Movimento Pró-Albinismo em parceria com Associação Nacional de Ajuda ao Albino e discutiu temas como "albinismo e a dimensão sócio-psicológicas, lesões pré-cancerosas e cancerosas da pele em albinos” e "albinos em Angola – medidas de políticas do Estado” entre outros.

O evento enquadrou-se no âmbito das reflexões do 13 de junho, dia Mundial de Consciencialização do Albinismo, instituído pelas Nações Unidas e contou com a presença de mais de cinco secretários de Estados, entre eles Celso Malavoloneke, uma das poucas pessoas com albinismo no Governo angolano, académicos e jornalistas.

quarta-feira, 19 de junho de 2019

DIFERENTES MAS IGUAIS – “SER ALBINO EM ÁFRICA”

A Human Rights Watch (HRW) denunciou hoje casos de discriminação e estigmatização a crianças portadoras de albinismo na província de Tete, alertando para as consequências psicológicas da rejeição de albinos naquela província do centro de Moçambique. Em Angola, os albinos continuam a enfrentar “problemas e barreiras” que vão desde a dificuldade de inserção no emprego e no sistema de ensino, à falta de assistência social e medicamentosa.


“As crianças que vivem com o albinismo na província central de Tete são amplamente discriminadas, estigmatizadas e frequentemente rejeitadas na escola, na comunidade e, por vezes, pelas suas próprias famílias”, lê-se num relatório daquela organização não-governamental, divulgado hoje.

Além do estigma e discriminação, segunda a HRW, há casos de crianças albinas na província de Tete que não possuem material escolar adequado, principalmente os menores com problemas de visão.

“Os estudantes com albinismo que também têm baixa visão não têm acesso a materiais de aprendizagem apropriados, como livros escolares grandes, tempo extra para exames ou lugares junto ao quadro”, refere o documento.

Para a organização, apesar de os casos de raptos e assassínios de portadores de albinismo terem reduzido no país, entre as famílias das crianças albinas o medo ainda existe e algumas proíbem os filhos de frequentarem as aulas.

O relatório da Human Rights Watch lembra que o caso mais recente ocorreu em Maio, quando uma criança albina de 11 anos foi raptada e assassinada em Murrupala, na província de Nampula, e, dias depois, o seu corpo foi encontrado sem membros, numa mata.

A onda de ataques contra portadores de albinismo teve o seu pico em Moçambique entre 2014 e 2015. Durante aquele período, a HRW diz ter recebido relatos de pelo menos 100 ataques registados em 2015, casos cujas causas estão associadas à superstição.

“Ao tomar medidas para garantir que as crianças com albinismo possam receber educação enquanto continuam investigando e processando os responsáveis pelos ataques, Moçambique tem a oportunidade de demonstrar ainda mais seu compromisso em garantir a segurança, a inclusão e a dignidade das pessoas com albinismo”, lê-se no relatório, que destaca, no entanto, passos significativos do Governo na luta pelos direitos das pessoas com albinismo.

No relatório, elaborado entre Julho de 2018 e Maio de 2019, a Human Rights Watch entrevistou perto de 60 pessoas, entre portadores de albinismo, activistas sociais, directores de escolas e representantes de organizações baseadas em Moçambique, além de quadros do Governo moçambicano.
E como é em Angola?

Os albinos em Angola continuam a enfrentar “problemas e barreiras” que vão desde a dificuldade de inserção no emprego e no sistema de ensino, à falta de assistência social e medicamentosa, advertiu há um ano a Associação de Apoio aos Albinos de Angola.

A informação foi transmitida pelo presidente da Associação, Manuel Vapor, durante uma palestra realizada no dia 13 de Junho de 2018, em Luanda, a propósito do dia mundial para a consciencialização sobre o Albinismo.


De acordo com aquele responsável, ainda há casos de discriminação no país e grande parte dos albinos em Angola não tem emprego e encontra dificuldades para adquirir cremes de protecção da pele, pedindo por isso ao Ministério da Saúde a subvenção desses fármacos.

“Porque o protector solar nas farmácias, o preço, é elevadíssimo e então gostaríamos que também ficassem naqueles produtos a custo zero e subvencionados pelo Governo. Por isso é preciso que o ministério ponha a mão neste caso, porque principalmente os adultos que não trabalham têm grande dificuldade”, disse.

Manuel Vapor referiu, igualmente, que o país “carece de uma política virada à pessoa albina”, que no seu entender deveria ser superintendida pelo Ministério da Saúde, exemplificando que as consultas nos hospitais ainda são feitas “graças ao bom senso dos dermatologistas”.

As consultas, acrescentou, são feitas com recurso às “parcerias” que a associação criou junto dos dermatologistas, no sentido de responderem às “necessidades diárias” da pessoa albina.

Durante a sua intervenção, o presidente da Associação de Apoio aos Albinos de Angola, considerou também que a falta de informação sobre o albinismo faz persistir o preconceito na sociedade angolana.

“Porque se desde tenra idade e sobretudo nos manuais escolares do ensino de base se começar a ministrar matérias sobre o albinismo, essas situações não deveriam colocar-se e a criança já não veria o albino como um fantasma e haveria melhor familiarização”, realçou.

No capítulo do emprego, aquela associação defende que o Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTESS) encontre mecanismos que “pelo menos reservassem vagas exclusivas” para a pessoa albina.

“Reconhecemos que o emprego no país está difícil, mas é possível o ministério adoptar esse mecanismo, porque muitos associados estão vulneráveis e isso agrava ainda mais a sua condição de saúde, devido à falta de cuidados”, adiantou.

A consciencialização à pessoa com albinismo e o albinismo no campo científico foi o tema desta palestra, animada pelo dermatologista e director do serviço de Dermatologia e Venereologia do Hospital Américo Boavida, Juliano Isaías.

Na ocasião, o responsável lamentou a situação de carência de albinos para aquisição de cremes de pele, tendo revelado que a unidade hospitalar acompanha regularmente cerca de 300 doentes albinos, na sua maioria com cancro de pele.

“E os nossos serviços ambulatórios continuam a registar novos casos, sobretudo ligados a lesões de pele em crianças e adultos”, explicou.

A Associação de Apoio aos Albinos de Angola conta com cerca de 600 associados e tem representações em seis das 18 províncias do país.
Nada pior do que ser africano e albino

ATanzânia viveu nos finais de 2016 uma onda de ataques contra albinos, considerados por alguns a cura de doenças e, por outros, o símbolo do azar, da maldição e da bruxaria.

Said Abdallah, uma menina de 10 anos, teve os braços cortados depois de ser tacada por homens que a acusaram de ser uma “bruxa amaldiçoada”. Mas o real motivo pela qual Said foi agredida foi ser albina. A Tanzânia é o país de África com o maior número de albinos.

Principalmente nas áreas rurais, acredita-se que a ausência de melanina na pele, no cabelo e nos olhos, principais causas que levam ao albinismo, são sinais de maldição e azar. A intensificação dos problemas de intolerância fez com o que o governo da Tanzânia passasse a abrir centros de acolhimento a albinos por todo país. Muitos são expulsos de suas próprias casas porque as suas famílias têm vergonha de criá-los.

De acordo com a Associação de Albinismo da Tanzânia, foram registados em 2016 oito mil albinos no país, entre homens, mulheres e crianças. Acredita-se, contudo, que essa população é muito maior já que a maioria dos albinos se esconde ou não se declara albina com medo da repressão.

“Muitos albinos fogem das suas vilas com medo de serem esquartejadas e terem os seus órgãos vendidas por traficantes”, explicou a jornalista Ana Palacios ao jornal britânico “Metro”. De acordo com a jornalista, alguns acreditam que “os órgãos de albinos podem ser usados em poções mágicas”.

Enquanto para alguns a doença é vista como uma maldição; para outros, os albinos são milagrosos. “Eles são estuprados porque alguns acreditam que eles carregam a cura da Sida. Eles são alienados da sociedade por serem considerados mágicos”, enfatiza Ana Palacios.

Algumas famílias africanas acreditam que as crianças brancas são um “estigma” e, dessa forma, eles passam a ser “maltratados” e “menos alimentados”. Muitos, inclusive, não recebem o tratamento necessário e acabam como vítimas do cancro de pele.

terça-feira, 18 de junho de 2019

TELINHA QUENTE 365


Roberto Rillo Bíscaro

Lavoisier dizia que no mundo nada se cria, tudo se transforma. O apresentador de rádio e TV, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, afirmava que na TV nada se cria, tudo se copia.
Lembrei do Velho Guerreiro, enquanto via os oito capítulos de Gidseltagningen (2017), internacionalmente conhecida como Below the Surface, produção do Kanal 5. Séries com reféns estão de moda, como atestam Hostages e La Casa de Papel, pra ficar nas resenhadas aqui.
Desde que o conteúdo seja bom e/ou divertido, não há problema nessa transmigração cultural. A minissérie dinamarquesa usa um sequestro de passageiros no metrô de Copenhague de forma eficaz e dá seu toque de originalidade ao problematizar de leve o papel que países ditos centrais e amantes da paz desempenham no terrorismo internacional. Isso sem perder o suspense, que é porque escolhemos ver esse tipo de produção.
Quando 15 pessoas são mantidas reféns no subterrâneo da capital dinamarquesa, imediatamente assumimos que os captores sejam de determinada etnia/religião, mas reviravolta em meados da trama põe esse estereótipo em xeque.
Gidseltagningen não decepcionará fãs de Scandi Drama, mesmo nós meio enfezados com a internacionalização: pra incorporar diversas nacionalidades e se tornar mais atraente pros mercados anglohablantes, produções escandinavas cada vez mais se apoiam no inglês, produzindo atuações abaixo da média, porque os pobres atores não estão operando em suas línguas nativas. Em Below the Surface, há motivo intraenredo pro idioma ser utilizado e assim mesmo, de vez em quando. Não se trata de botar um policial da Lapônia trabalhando com uma do Burundi num caso forçado.
Há tensão; há empatia com alguns passageiros devido a suas histórias pregressas; há bem-intencionado fazendo caca; há policial com problema pessoal sobrepondo-se ao caso e há certa noção de que nem na equitativa Dinamarca a lei é pra todos.

FOMENTO BAIANO

Ação visa fomentar políticas públicas para pessoas albinas na Bahia

A urgência na elaboração e criação de uma política sistemática integrada de assistência e atenção às demandas e necessidades de albinos no estado pautou a “Ação pelo Dia Mundial de Conscientização do Albinismo” promovida hoje, dia 13, pelo Ministério Público estadual na sede da Instituição no CAB. Ocorrido em uma data simbólica para a população albina, o evento se insere em uma atuação mais ampla e estratégica do MP baiano para promover os direitos da comunidade albina em todas as áreas sociais, principalmente nas de educação e saúde. Segundo dados da Associação das Pessoas com Albinismo da Bahia (Apalba), existem pelo menos 540 albinos no estado. 
O albinismo é uma condição genética caracterizada pela ausência total ou parcial de pigmentação da pele, dos pelos e dos olhos, que afeta com maior frequência a população negra. Por conta disso, os albinos possuem limitações físicas: têm dificuldade de enxergar e são sensíveis à exposição solar, sendo mais suscetíveis ao câncer de pele. Mas o principal obstáculo é o preconceito e a falta de políticas públicas especificamente voltadas a essas pessoas. Foi o que destacou a diretora-executiva da Apalba, Maria Helena Machado. “Esse dia vai ficar marcado para nós. Pela primeira vez, concretizamos esse sonho de fazer nossa campanha de conscientização”, disse em referência ao material de divulgação elaborado e produzido pelo MP, incluindo cartazes, vídeos e peças para redes sociais online. “A qualidade de vida de um albino não é somente o cuidado com os olhos e a proteção da pele. Queremos nos sentir parte da sociedade. É muito difícil para o albino. Muitas vezes, ele vive com medo, escondido, por conta do preconceito”, completou. 
A atuação do MP é conduzida pela promotora de Justiça Lívia Vaz, coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis). Ela destacou a necessidade da construção de políticas de assistência aos albinos. “Vários obstáculos se colocam quando não há políticas públicas específicas. Os albinos têm dificuldades de acesso à educação e à saúde, o que implica também no acesso ao mercado de trabalho. Em última instância, está em jogo o direito de ir e vir”, afirmou. Ela explicou que o MP tem o objetivo de impulsionar a articulação entre o órgão, a sociedade civil e o Poder Público, sobretudo para que esse se engaje na efetivação dos direitos desse público. Lívia Vaz lembrou que os albinos não são contabilizados no censo do IBGE e o INSS não viabiliza a distribuição gratuita de protetores solares por considerá-los um produto estético. 
Lívia Vaz informou que já foram expedidos ofícios às secretarias de Saúde do Estado e do Município para diagnosticar a situação dos programas e políticas públicas para albinos. Segundo informações de representantes do Estado da Bahia e do Município de Salvador, há distribuição gratuita de protetor de solar à população albina no interior e na capital. Em Salvador, há uma unidade de saúde, localizada no Vale das Pedrinhas, que faz atendimento especializado aos albinos. Mas existem dificuldades estruturais, incluindo o desconhecimento oficial da população albina no estado, em razão da falta de uma notificação sistematizada nas redes de saúde e de educação.
O evento foi realizado no gabinete da Procuradoria-Geral de Justiça, com a participação da procuradora-geral de Justiça Adjunta Sara Mandra Rusciolelli. Ela destacou a iniciativa. “Essa ação passa agora ser mais efetiva, porque envolve a parceria de pessoas engajadas, com articulação do Poder Público”, afirmou. A coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Direitos Humanos (Caodh), promotora de Justiça Márcia Teixeira, ressaltou que a articulação inaugura um “novo ciclo” (ela contribuiu para a constituição da Apalba, há dez anos) em defesa dos direitos dos albinos na Bahia. “Vamos avançar ainda mais”, disse. Participaram também o secretário municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre), Léo Prates; o coordenador de Centro de Apoio Operacional de Defesa da Educação do MP (Ceduc), promotor de Justiça Valmiro Macedo; o coordenador de Promoção da Equidade em Saúde da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), Antônio Purificação; o assessor do superintendente da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, André Luís Effigem; o coordenador da Diretoria de Atenção à Saúde, Bruno Viriato e coordenadora da Atenção Especializada, Anne Larissa Maia, ambos da Secretaria Municipal de Saúde.