Illy Cruz de Almeida Gouveia Santos, ou artisticamente,
Illy, cresceu vendo shows de seu tio Ray Gouveia, na sua nativa Bahia. Ele era
membro da Confraria da Bazófia, então a sobrinha sempre teve acesso a muita
música, principalmente a MPB dos anos 70. Casada com um sobrinho-neto de
Caetano Veloso e Bethânia, Illy já abriu shows pra Gal e Djavan, o que lhe
conferiu visibilidade suficiente pra que a imprensa apostasse nela como
“próxima grande da MPB”. Que os laços famosos de parentesco e amizade não
ofusquem o talento e qualidade de Illy, cuja doce voz encanta nas treze faixas
de Voo Longe (2018), seu álbum de estreia.
Alexandre Kassin e Moreno Veloso dividem a produção, que,
embora moderna, sobrevoa várias regiões da música dos anos 1970, tornando Voo
Longe gostável para diversas gerações, desde modernetes que curtem o folk pop
de César Lacerda, até os mais maduros, que cresceram ouvindo Novos Baianos, Caê
Velô e Roberto Carlos.
Por vezes lembrando uma Gal Costa bem jovem, ainda do
estreante Domingo (1967), Illy canta bem diversos ritmos. Tem baianidades
(Sombra da Lua e Afrouxa); blues djavaneado (Que Foi My Love?); frevo liberado
(Fama de Fácil); clima bossa-novista de calçadão de Ipanema (Olhar Pidão);
samba manso (Enquanto Você Não Chega); samba-canção semidisfarçado de bossa,
com toque sincrético de batuque afro (Devagarinho); zouk (Ela) e pops
românticos (Só Eu e Você e a faixa-título) e a deliciosa piada caribenha
maconhada de Dijanira.
Tudo muito discreto e de
bom gosto. Oxalá, o voo de Illy a leve realmente muito longe.
Ilya atua na cena independente de Fortaleza, desde 2014.
Compositora, cantora, performer, que já cantou ao lado de gente como Chico
César. Em setembro do ano passado, lançou seu primeiro álbum como cantautora:
Doces Náufragos.
As nove faixas muito bem produzidas e de melodias
marcantes indicam trabalho que não descarta ritmos tradicionais do
Norte/Nordeste, como o ijexá e o carimbó, mas processando-os pelas linguagens
mais modernas como Mangue Beat ou antecessoras famosas, como Daniela Mercury (A
Cidade é Pequena é superela).
Sereno Doido tem guitarra
grave à Dire Straits e Nada é uma espécie de ijexá meio psicodelizado. Doces
Náufragos jamais afunda, porque navega sempre seguro em sua mistura de
influências. Canções de Mar abre com palmas e nananana, dando impressão que
será ciranda folclorizada, mas logo a melodia indica coisa contemporânea.
Sorriso do Menino ameaça ser sambinha minimalista pós-industrial, mas metamorfoseia-se
em psych com noise domado. Muito moderna.
Letícia Fialho cresceu nos subúrbios de Brasília,
empinando pipa e, mais madura, começou a curtir rolês noturnos, boemia, enfim,
Fialho gosta, vive e observa a rua. Compositora, cantora e instrumentista, essa
paixão pela vida e a consciência de seus prazeres e delícias perpassa a dezena
de canções de Maravilha Marginal, lançado ano passado, com a Orquestra da Rua.
Não é à toa, que no álbum da moça rueira, haja canções chamadas Nessa Rua e Rua
Afora. Sem contar o nome da orquestra...
E que orquestra! A riqueza dos arranjos garantirá que fãs
da MPB dos 70’s e 80’s aprecie demais este trabalho calmo, fincado na tradição
da MPB, mas que não deixa de soar contemporâneo. Vem/Fumaça é exemplar: parece
partido alto esparso, minimalista, mas tem cornetinha de jazz anos 20, vocais
em eco e ambientação meio psych, de leve. E que fã de MPB 70’s não ama versos,
como “já calejei as mãos de tanto te tocar”?
Diversas vezes, Maravilha
Marginal soa como espécie de afro-jazz, porque integra ijexices com algum
elemento jazzístico. Mas, tá tudo muito bem integrado, soando mesmo como MPB
“tradicional”. Ouça a delícia caetânica de Corpo e Canção e me diga.
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