Roberto Rillo Bíscaro
Já daria pra fazer disciplina de pós-graduação apenas
sobre slasher films. Dividiria o curso tipo, a) antecedentes; b) Halloween;
(fase áurea 78-84); c) Pânico e, daí, por diante, daria pra discutir cada
convenção slasher usando um filme contemporâneo que as expusesse ou subvertesse
ou zombasse. O que Scream fez no atacado, roteiristas têm esmiuçado à ponto de
crer que não há mais pedra alguma a ser virada.
Todo semestre, saem uns 2 filmes divertidamente enfocando
algum lugar comum slasher. Hell Fest é sobre o anonimato do assassino; Terror Nos Bastidores problematiza a final girl e olha que nem lembro mais quantos já
resenhei.
No finalzinho do ano passado, saiu You Might Be The Killer,
resultado de uma série de tweets entre os escritores Sam Sykes e Chuck Wendig,
que discutiam convenções dos filmes slasher. Brett Simmons, com mais duas mãos,
escreveu roteiro em cima da ideia e acabou dirigindo a película. Não é à toa
que boa parte da exposição em You Might Be The Killer (YMBTK) é feita por
conversa telefônica entre as duas personagens centrais Sam e Chuck. Até aí a
metalinguagem predomina.
No acampamento Camp Clear Vista, supervisores começam a
morrer como moscas nas mãos de um serial killer mascarado. O chefe dos
monitores, Sam, liga pra Chuck, sua melhor amiga e experta em convenções
slasher, e os dois chegam á conclusão de que o próprio Sam pode ser o
assassino. Desta vez, a convenção enfatizada é a da identidade secreta do
maníaco mascarado.
Subverter/Trazer à berlinda uma convenção não significa
abandonar outras e YMBTK é enciclopédia de referências. Chuck explica cada um
dos lugares-comuns slasher e a trama, nomes das personagens e produção aludem a
tudo quanto é slice’n’dice digno de nota, especialmente os passados em
acampamentos, dois quais Sexta-Feira 13 é a matriz.
Nesse jorro autorreferente e paródico, há personagens
chamadas Fred, Nancy e Jamie, que, para espectador leigo pode não significar
nada, mas para fãs slasher são Freddie Kruegger e sua final girl mais famosa e
Jamie é, claro, a Lee Cutis, de Halloween. Aliás, Laurie Strode é citada
nominalmente, bem como Nancy. Só não espere individualidade; a maioria está no
roteiro apenas pra ser morta. É desculpa pra morte slasher e não gente, o que
não seriam mesmo, anyway, porque é só um filme.
Só não há alguém chamado Jason, mas nem é necessário,
porque a máscara, roupa, modo de caminhar e matar e até o característico
kikikiki mamama estão na composição do assassino, que, então, desde logo
sabemos quem é.
Visualmente, YMBTK remete tanto ao ápice oitentista desse
tipo de filme, como aos vídeos de body counts, encontráveis aos montes no
Youtube. A cada personagem morta, aparece o número na tela. Será que hoje não
dá mais pra fazer slasher que não explicite sua autoparódia?
Há mortes bem legais e gruesome, como amamos, mas, a
ênfase na forma e nas convenções, como sempre, tira o suspense e o terror. Como
levar susto se há alguém prevendo o que acontecerá? Por mais divertidos que
sejam esses metaslashers sempre dão a impressão de masturbação mental de
conhecedor enciclopédico.
You Might Be The Killer
serve pra se entreter numa tarde/noite, com amigos ou, como prefiro, com
saquinhos de amendoim ou queijo nozinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário