Roger Corman é um daqueles cineastas B, que qualquer
culturete deslumbrete pode gostar, porque desde os anos 60, a Cinemateca
Francesa e o Instituto de Cinema Britânico incensam seu talento, também
reconhecido pela Nouvelle Vague e que iniciou diretores e atores famosos, de
Jonathan Demme a Diane Ladd. Mestre em fazer filmes interessantes com orçamento
baixo, Corman fez as adaptações mais climáticas de Edgar Allan Poe.
Como todo mito – Corman sim o é! – tem um início, resolvi
checar o primeiro filme produzido pelo norte-americano, Monster from the Ocean
Floor (1954), que na melhor das hipóteses teve orçamento de 30 mil dólares. O
empreendedorismo do cinema como indústria de linha de produção braçal, começou
dando certo economicamente. O filme foi vendido pra Lippert Pictures por 110
mil dólares e já apresenta todos os elementos da fileira de filmes
independentes, baratos, oportunistas (no bom e mau sentido) e com gente
desconhecida, que enfeitam a longa carreira de Roger.
“Quickie” e/ou “cheapie” designavam filmes baratos feitos
nas coxas (quickie também é uma foda
rapidinha) bem velozmente. Monster from the Ocean Floor durou menos de uma
semana pra rodar e tem apenas 64 minutos de duração. Exato pra não gastar muito
na produção e pra poder passar em sessão dupla nos drive ins.
O monstro do título não aparece nem por 4 minutos; o
resto do tempo fica em conversas e gente nadando. Corman fez parceria com o
fabricante dum minissubmarino individual, que pôde ser usado grátis em troca da
publicidade. É a geringonça que mata a ameba gigante, inclusive. Ah, não
reclame de spoiler! Você não acha que
nos 50’s o monstro não morreria, né? Ou que já havia o difundido conceito de
deixar possibilidade de sequência....
A trama é o usual. Uma veranista norte-americana no
México ouve histórias sobre monstro marinho que atacava a comunidade. Ela
conhece um biólogo marinho também norte-americano (ajudar latinos até vai, mas
o herói tem que ser ianque, mesmo fora dos EUA, yeah!), que não crê no
sobrenatural. Mas as investigações de Julie a levarão a ficar cara-a-olho com a
criatura. Cara-a-olho, porque o monstro é tipo uma superbola com um baita
olhão, sustentada por tentáculos pequenos. Supostamente isso seria uma ameba
agigantada pelos testes atômicos no arquipélago de Bikini, em 1946. Tudo isso
deduzido em segundos.
Dá pra perceber claramente que os diálogos foram dublados
em estúdio, o monstro é pífio e o roteiro é sutil como um trator: a moça que
jamais mergulhara, em 3 tomadas já está investigando pistas de
monstros-marinhos em recife de corais! E claro, apesar de ajudados, os
mexicanos são supersticiosos, esses “primitivos”, viu!
Mesmo não tendo sido
dirigido por Roger e certamente por sermos deslumbrados pelo paparico crítico
de seu trabalho, Monster From The Ocean Floor já apresenta aquela “estranheza”
minimalista de seu trabalho, que, claro, é pura falta de dinheiro, mas que ele
sabe administrar tão originalmente bem.
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