Tantas trilogias fizeram-me recordar de uma, perdida nos
recônditos B dos anos 1950. Não foram 3 filmes com aventuras em sequência,
porque o conceito Star Wars ou Desejo de Matar ainda estava um quartel de
século distante. Aventuras seriadas restringiam-se aos agonizantes serials ou à engatinhante TV.
A trilogia rememorada foi a do produtor independente Ivan
Tors, que fez trinca de baixos-orçamentos estrelados pelo Office of Scientific
Investigation (OSI), grupo de cientistas que usava geringonças, conceitos e
ideias altamente tecnológicos pra salvar o planeta. Talvez nem à época o
público se tocou que havia elo entre The Magnetic Monster (1953), Riders To The
Stars e Gog (ambos de 54). Mesmo Richard Carlson tendo estrelado os 2
primeiros, seus respectivos cientistas tinham nomes distintos.
The Magnetic Monster otimiza seus ínfimos dólares de
produção, de maneira espetacular, porque o Monstro Magnético, conforme título
no Brasil, não precisa aparecer e uns 15 minutos dos 76 de duração são imagens
de arquivo ou reutilizadas de produção sci
fi alemã dos anos 30. Demonizar personagem alemã ainda era comum no cinema,
mas usar coisas de lá sem que o público soubesse tudo bem.
Os doutores do Escritório de Investigações Científicas
recebem chamado duma loja de ferragens, onde mercadorias estavam
misteriosamente magnetizadas. Investigações concluem que isso foi obra dum
cientista que brincou demais com radiação, por isso, além de morrer, criara
monstrengo radioativo, que transformava energia em matéria ao comer a primeira
e crescia em progressão geométrica, mas ainda cabia num container qualquer.
Mas, se não fosse detido, destruiria o planeta. O único local onde havia
esperança de detê-lo era num laboratório sob o mar, na Nova Escócia.
The Magnetic Monster é repleto de diálogos
pseudocientíficos e boa parte de sua exibição é gasta em mostrar em operação,
máquinas complexas pra época, além de muita imagem de espectrômetro ou seja lá
como se chamam essas maquininhas físicas. Também abundam os barulhinhos
tecnológicos, já aludidos pelo narrador como “música da nova era tecnológica”.
A então molecada do Kraftwerk e os nem nascidos synthpopers inspirar-se-iam
nesses sons. E olhe que The Magnetic Monster nem tem musiquinha ainda, são
apenas bips e blips de vários tons. Mas é tudo bem legal, hoje curiosidade de
arqueologia cibernética, mas nem por isso menos fascinante pra fãs de
ficção-científica e vida vintage.
E como não aplaudir a criatividade do roteiro, que cria
monstro sem precisar gastar dinheiro confeccionando-o, porque é energia ainda baby, então dá pra mostrá-lo como
luminosidade em visor dalgum aparelho.
Malgrado o estratagema malandro pra fazer filme sem
grana, The Magnetic Monster acaba demonstrando a relação quase de fetichização
erótica para com o maquinário high tech da
década, que inundou os lares afluentes da classe-média ianque com aparelhos
domésticos fabricados a partir de avanços do esforço de guerra quarentista.
A molecada nerd e geek da
época deve ter amado tanto botão e papo cabeça de ciência de botequim.
Em Riders to the Stars, o Office of Scientific
Investigation sequer é mencionado, apenas aparece numa placa. Anos 50
definitivamente ainda não era tempo de franquias.
Riders é bem menos fascinante hoje do que The Magnetic
Monster, porque seu roteiro precisaria de mais verba. Talvez se ficasse na casa
dos 70 minutos e não nos 81 ajudasse também.
Pra poder estabelecer uma base orbital, era necessário
compreender como os metais se comportavam, quando extraídos diretamente do
espaço, sem a interferência da fricção causada pela brutal entrada na atmosfera
terrestre dos meteoros, até então única maneira de coleta de minerais
submetidos às condições espaciais. Monta-se então programa supersecreto que
mandará 3 foguetes pro espaço, numa rápida missão pra colher asteroides. Mandar
mais de um é bom pro roteiro, porque dá pra explodir um e dramatizar algo com
outro. Quantos vocês acham que conseguem retornar à Terra?
Mais de dois terços são gastos na seleção dos candidatos
e em treinamento de astronautas, tornando Riders bem lento, mas também avô dos
atuais docudramas. Como no monstro magnético, engenhocas de treinamento são
mostradas, além de telescópios e afins.
Apesar de na equipe selecionadora dos candidatos a pegar
asteroides haver uma cientista, apenas homens são escolhidos. Isso, porque na
convenção desses filmes sci fi dos 50’s, a participação feminina na ciência era
quase ilusão de ótica. O que o roteiro necessitava mesmo era duma mulher pra
parear romanticamente com o galã-protagonista. Ser cientista apenas facilitava
encaixá-la na trama.
Com imagens de arquivo dos
famosos ratinhos desesperados pela falta de gravidade e enorme pressão a que
foram submetidos, também usadas em Spaceways, e sem mostrar o momento em que a
espaçonave abocanha o asteroide, Riders to the Stars só vale se você quiser
constatar algumas técnicas de treinamento usadas no programa espacial nos 50’s.
O que melhor equilibra exposição de maquinário
tecnológico com ação é Gog, que deve ter saído por uns 250 mil dólares, então
deu pra caprichar um pouco mais.
Mortes misteriosas pela tecnologia sofisticada começam a
ceifar cientistas e funcionários duma base militar subterrânea ultrassecreta,
onde estação espacial está sendo construída pra vigiar o planeta mediante
satélite com câmera. A conclusão do porquê as mortes ocorrem, não apenas
justificam o big-brotherismo do projeto, mas fazem de Gog vovô simplificado de
Black Mirror.
Em cores, hoje a gente dá
risada de quando o temido robô ataca, porque a rigor ele fica parado apenas
mexendo os braços, mas na época deve ter sido absolutamente divertido ver
mortes tão “científicas”, sem contar os experimentos e cientificices da
exposição da trama, que ocupa boa parte do filme. Pra molecada que devorava
quadrinho sci fi e o público que se cria cientista lendo revistas como Popular
Science, Gog deve ter sido o máximo.
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