quinta-feira, 25 de julho de 2019

TELONA QUENTE 298


Roberto Rillo Bíscaro

Tantas trilogias fizeram-me recordar de uma, perdida nos recônditos B dos anos 1950. Não foram 3 filmes com aventuras em sequência, porque o conceito Star Wars ou Desejo de Matar ainda estava um quartel de século distante. Aventuras seriadas restringiam-se aos agonizantes serials ou à engatinhante TV.
A trilogia rememorada foi a do produtor independente Ivan Tors, que fez trinca de baixos-orçamentos estrelados pelo Office of Scientific Investigation (OSI), grupo de cientistas que usava geringonças, conceitos e ideias altamente tecnológicos pra salvar o planeta. Talvez nem à época o público se tocou que havia elo entre The Magnetic Monster (1953), Riders To The Stars e Gog (ambos de 54). Mesmo Richard Carlson tendo estrelado os 2 primeiros, seus respectivos cientistas tinham nomes distintos.
The Magnetic Monster otimiza seus ínfimos dólares de produção, de maneira espetacular, porque o Monstro Magnético, conforme título no Brasil, não precisa aparecer e uns 15 minutos dos 76 de duração são imagens de arquivo ou reutilizadas de produção sci fi alemã dos anos 30. Demonizar personagem alemã ainda era comum no cinema, mas usar coisas de lá sem que o público soubesse tudo bem.
Os doutores do Escritório de Investigações Científicas recebem chamado duma loja de ferragens, onde mercadorias estavam misteriosamente magnetizadas. Investigações concluem que isso foi obra dum cientista que brincou demais com radiação, por isso, além de morrer, criara monstrengo radioativo, que transformava energia em matéria ao comer a primeira e crescia em progressão geométrica, mas ainda cabia num container qualquer. Mas, se não fosse detido, destruiria o planeta. O único local onde havia esperança de detê-lo era num laboratório sob o mar, na Nova Escócia.
The Magnetic Monster é repleto de diálogos pseudocientíficos e boa parte de sua exibição é gasta em mostrar em operação, máquinas complexas pra época, além de muita imagem de espectrômetro ou seja lá como se chamam essas maquininhas físicas. Também abundam os barulhinhos tecnológicos, já aludidos pelo narrador como “música da nova era tecnológica”. A então molecada do Kraftwerk e os nem nascidos synthpopers inspirar-se-iam nesses sons. E olhe que The Magnetic Monster nem tem musiquinha ainda, são apenas bips e blips de vários tons. Mas é tudo bem legal, hoje curiosidade de arqueologia cibernética, mas nem por isso menos fascinante pra fãs de ficção-científica e vida vintage.
E como não aplaudir a criatividade do roteiro, que cria monstro sem precisar gastar dinheiro confeccionando-o, porque é energia ainda baby, então dá pra mostrá-lo como luminosidade em visor dalgum aparelho.
Malgrado o estratagema malandro pra fazer filme sem grana, The Magnetic Monster acaba demonstrando a relação quase de fetichização erótica para com o maquinário high tech da década, que inundou os lares afluentes da classe-média ianque com aparelhos domésticos fabricados a partir de avanços do esforço de guerra quarentista.
A molecada nerd e geek da época deve ter amado tanto botão e papo cabeça de ciência de botequim.

Em Riders to the Stars, o Office of Scientific Investigation sequer é mencionado, apenas aparece numa placa. Anos 50 definitivamente ainda não era tempo de franquias.
Riders é bem menos fascinante hoje do que The Magnetic Monster, porque seu roteiro precisaria de mais verba. Talvez se ficasse na casa dos 70 minutos e não nos 81 ajudasse também.
Pra poder estabelecer uma base orbital, era necessário compreender como os metais se comportavam, quando extraídos diretamente do espaço, sem a interferência da fricção causada pela brutal entrada na atmosfera terrestre dos meteoros, até então única maneira de coleta de minerais submetidos às condições espaciais. Monta-se então programa supersecreto que mandará 3 foguetes pro espaço, numa rápida missão pra colher asteroides. Mandar mais de um é bom pro roteiro, porque dá pra explodir um e dramatizar algo com outro. Quantos vocês acham que conseguem retornar à Terra?
Mais de dois terços são gastos na seleção dos candidatos e em treinamento de astronautas, tornando Riders bem lento, mas também avô dos atuais docudramas. Como no monstro magnético, engenhocas de treinamento são mostradas, além de telescópios e afins.
Apesar de na equipe selecionadora dos candidatos a pegar asteroides haver uma cientista, apenas homens são escolhidos. Isso, porque na convenção desses filmes sci fi dos 50’s, a participação feminina na ciência era quase ilusão de ótica. O que o roteiro necessitava mesmo era duma mulher pra parear romanticamente com o galã-protagonista. Ser cientista apenas facilitava encaixá-la na trama.
Com imagens de arquivo dos famosos ratinhos desesperados pela falta de gravidade e enorme pressão a que foram submetidos, também usadas em Spaceways, e sem mostrar o momento em que a espaçonave abocanha o asteroide, Riders to the Stars só vale se você quiser constatar algumas técnicas de treinamento usadas no programa espacial nos 50’s. 
O que melhor equilibra exposição de maquinário tecnológico com ação é Gog, que deve ter saído por uns 250 mil dólares, então deu pra caprichar um pouco mais.
Mortes misteriosas pela tecnologia sofisticada começam a ceifar cientistas e funcionários duma base militar subterrânea ultrassecreta, onde estação espacial está sendo construída pra vigiar o planeta mediante satélite com câmera. A conclusão do porquê as mortes ocorrem, não apenas justificam o big-brotherismo do projeto, mas fazem de Gog vovô simplificado de Black Mirror.
Em cores, hoje a gente dá risada de quando o temido robô ataca, porque a rigor ele fica parado apenas mexendo os braços, mas na época deve ter sido absolutamente divertido ver mortes tão “científicas”, sem contar os experimentos e cientificices da exposição da trama, que ocupa boa parte do filme. Pra molecada que devorava quadrinho sci fi e o público que se cria cientista lendo revistas como Popular Science, Gog deve ter sido o máximo.

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