quinta-feira, 8 de agosto de 2019

TELONA QUENTE 299


Roberto Rillo Bíscaro

Originalidade é um dos traços pra que uma produção seja considerada “clássica”, termo tão criticado, quanto banalizado. Qualquer coisa velha já vai sendo chamada de clássico...
It Came From Outer Space, lançado em maio de 1953, pela Universal, é uma daquelas ficções-científicas obrigatórias da década, não apenas pela relativa boa produção, mas pela novidade na representação dos alienígenas.
Com seu orçamento de 800 mil dólares e envolvimento de RayBradbury no roteiro (daí sua qualidade superior), Veio do Espaço ainda é B, porque horror e sci fi eram subgêneros “menores”, basta ver o elenco. Apesar disso, o filme em preto e branco já utilizava tecnologia 3D!
As narrativas de despersonalização ou desumanização foram marcos do cine cinquentista. Forasteiros do espaço apropriavam-se de corpos e mentes terráqueas pra conquistar nosso planeta, muito como os frios e ateus soviéticos supostamente faziam com inocentes cidadãos pra convertê-los ao comunismo. Era a era “Red Under the Bed”, pilhéria rimada mais ou menos traduzível como “comuna embaixo da cama”. 
It Came From Outer Space (ICFOS) tem ETs tomando mentes também, mas seu intuito é bem mais mundano. E foi feito antes que essa invasão de corpos e cucas virasse modinha. Embora poder-se-ia problematizar o roteiro com um par de perguntas, ICFOS se destaca da fornada paranoica da época, por colocar como causa dos problemas o medo destrutivo do ser humano pelo desconhecido e diferente. Nesse sentido, a narrativa funciona até hoje.
É essa outrofobia generalizada que provoca respostas letais, que o diretor Jack Arnold concretiza, quando o protagonista usa uma aranha do deserto como exemplo da alteridade que tememos ou temos nojo. Fãs de cine sci fi/catástrofe não deixarão de pensar que a Tarantula (1955), do mesmo Jack Arnold, está vingando a amiga esmagada em ICFOS.
Daria pra questionar, porque os extraterrestres – se são afinal tão mais inteligentes – não foram direto ao cara que criam o único capaz de compreendê-los. Pouparia um monte de problema, mas também um filme.
Os ataques feitos a partir do ponto de vista dos ETs, o barulho de sua respiração, a trilha-sonora irada de Teremin, a tecnologia 3D e a própria “feiura” dos extraterrestres devem ter causado medo pra caramba no escuro do cinema, há 60 anos.

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