Até hoje, cinéfilos cultuam Billy Wilder, que tem no
currículo pérolas como Se Meu Apartamento Falasse (1960), Quanto Mais Quente,
Melhor (1959) e Crepúsculo dos Deuses (1950). Está sempre nas listas dos
melhores filmes já realizados.
Seu irmão, o produtor/diretor W. Lee Wilder, também
aparece em seleções, de vez em quando, quando se elegem os piores, embora eu
ache injusto botar Killers From Space (1954) no mesmo saco de vômito em que
flutuam Mesa of Lost Women ou Robot Monster (ambos de 1953), porque nesses
casos o roteiro e/ou a montagem não faz(em) sentido, ao passo que o que
empesteia o filme de Wilder é o orçamento mendigo.
Produzido pela Planet Filmplays, do próprio W. Lee, e
distribuído pela RKO, Killlers From Space (KFS) começa com avião soltando
bomba-nuclear no deserto. Ao verificar clarão desconhecido após a explosão –
que por si só produziu claridade cegante, então porque ele estranharia ou mesmo
veria o tal brilho? – o piloto desce pra verificar, mas perde o controle e se
espatifa contra o solo. Seu companheiro, um cientista nuclear, miraculosamente
aparece vagando pelas redondezas da base-militar, apenas com cicatriz na região
do coração.
Após atitudes suspeitas, o Dr. Douglas Martin (Peter
Graves; só por ele KFS escaparia de lista de piores!) é hipnotizado e aprendemos
que fora mesmerizado por ETS com olhos de bola de pingue-pongue (sério!), que
estavam criando insetos gigantes, que devorariam toda a espécie humana a fim de
que 1 bilhão de alienígenas se refugiasse na Terra, já que seu planeta se
extinguia.
A ideia duma civilização agonizante, que toma medida
drástica pra tentar não morrer, tão comum em filmes sci fi dos 1950’s, nasceu
do livro do astrônomo amador Percival Lowell. A partir de 1895, o milionário de
Boston escreveu 3 livros “científicos” sobre Marte, difundindo a crença nos
canais, que teriam sido construção de vida inteligente pra bombear água dos
polos pro resto do planeta, que secava inexoravelmente. A Guerra dos Mundos,
que oferecia resolução simbólica diferente pro dilema, além de metaforizar a
empáfia colonialista da Inglaterra, apareceu apenas, em 1898.
Com meros 70 e poucos
minutos, KFS consegue ser bem estranho no segmento em que, através de sua
hipnotização, conhecemos a caverna onde se escondem os invasores. Com a
fotografia fantasmagórica em preto e branco e o telão datado já pra 1954 –
parecia serial do Flash Gordon, dos
anos 30 – ouvir e ver os planos bobos (mas divertidos) dos aliens não desapontará fãs de ficção-científica vintage. Como o plano de conquista
envolve agigantar bichos escrotos, a produção poupa bastante a grana que não
tem, porque bastava sobrepor imagens de aranhas pra fazê-las parecerem
gigantes. Mas a sequência hipnotizada na caverna consegue um efeito meio
surrealista, que eleva Killers From Space da lista de piores, deixando-o apenas
na de obscuridades pra públicos restritos.
Filmes sobre o Abominável Homem das Neves, Yeti, Bigfoot
ou Sasquatch constituem sub-subgênero independente, como filmes sobre aranhas
ou tubarões, vampiros, lobisomem e múmias. Um ranking no site Slash Film mostra
quase 50 títulos, mas deve haver pelo menos o dobro de fitas sobre macacões das
neves.
Há algumas décadas, a referência primeira quando se
pensava em clássico sobre o Abominável Homem das Neves, era o filme homônimo de
1957, da britânica Hammer, estrelado por Peter Cushing e dirigido por Val
Guest. Felizmente, as novas gerações têm fartura pra escolher seu primata
vintage favorito, mas prum 50tão como yo –
mesmo sem achar graça no filme de Guest – esse era o deflagrador da presença
peluda no cinema falado (cine mudo nunca foi minha praia, nem sei se houve)
Surpreendi-me, pois, ao descobrir que em 1954 houvera um
The Snow Creature, portanto, pai dos Yetis e afins, inclusive o da Hammer.
Não-imune a teorias da conspiração, quando os muitos nativos se amotinam e
tiram das mãos dos dois míseros brancos o controle da expedição aos píncaros do
Himalaia, julguei ser esse um possível motivo pro apagamento da película. Não
demorou pra perceber o erro; é que The Snow Creature é tedioso e gambiarrento;
só vale como nota de rodapé mesmo, num estudo sobre O Homem das Neves.
O que Billy Wilder tinha de genial (e de verba, há que
reconhecer) é inversamente proporcional ao de seu irmão W. Lee e sobrinho
Myles, responsável pelo roteiro decalcado de King Kong. Uma expedição descobre
um Yeti que gostava de raptar mulheres. Capturado, a criatura é levada a Los
Angeles, onde escapa e foge pro subterrâneo e mais fresco sistema de drenagem
de chuva (mesmo ambiente final de Them! e tantos outros filmes). Claro que lá é
morta.
A sublevação colonial acaba exatamente, quando o
mal-ajambrado monstrengo é capturado. Quando, mesmo que simbolicamente, é hora
de desfrutar de lucros e fama, os caucasianos (re)tomam o comando. Essa é a
coisa mais interessante duma produção que, por falta de dinheiro, gasta muito
mais segundos do que o necessário mostrando uma porta de farmácia ou o passo a
passo duma jornada de avião: avião decolando desde a pista até o voo, vários
quadros da aeronave voando e aterrissagem também detalhada, com trem de pouso
descendo e tudo o mais. Pura encheção de linguiça. As mortes poucas são off camera e até um close do Homem das
Neves é reutilizado mais duma vez.
Apenas pra completistas,
arqueólogos de celuloide e aficionados que tais.
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