Roberto Rillo Bíscaro
O Gryphon nunca atingiu status de primeiro time do rock
progressivo em termos comerciais, mas seu início folk-renascentista, com fagote
e tudo, tornou os britânicos uma banda muito amada por fãs da ala mais melódica
do subgênero.
Com formação erudita, os membros sabiam tocar seus
instrumentos muito bem, compuseram para peça shakespeariana, e até tentaram
virar prog sinfônico, quando foram descobertos pelo Yes, que os convidou para
abrir seus shows na turnê norte-americana. Mas, já era meados dos 70’s e o prog
rock caíra em desgraça crítica e descenso comercial. Exceto pela longa Spring
Song, quase nada no derradeiro álbum Treason (1977) lembrava a proficiência de
Red Queen to Gryphon Three (1974), que, a propósito, já encarnara banda bem
distinta do combo neomedieval do início.
Exceto por um ou outro show, os ingleses permaneceram em
silêncio de estúdio por quatro décadas e um ano. Ano passado, saiu o
apropriadamente intitulado Reinvention. Nessa encarnação um sexteto, metade do
Gryphon é da formação original: Brian Gulland, Graeme Taylor e Dave Oberlé.
Junto com Graham Preskett, Andrew Findon e Rory McFarlane, o Gryphon trouxe
onze canções, que combinam instrumentos tradicionais do rock com fagotes,
instrumentos renascentistas de sopro e tecla, além de flautas e saxofones. É
uma celebração sônica digna dos quarenta anos silentes.
Reinvention prova ser título adequado, porque o som está
realmente reinventado. O álbum de estreia, por exemplo, era tão medieval que só
faltava vir com cultura de vírus da Peste Negra. Em 2019, o clima é
medievalizado, como prova Ashes, uma das raras faixas com vocal. Além disso, a
produção está atualizada para a cristalinidade sonora atual. Faixas como a
instrumental Rhubarb Crumhorn mantém o fervor pelo folk do medievo, mas atualizam-no,
como elemento predominante, e não como tentativa de clonagem, como dantes.
A reinvenção ghryphoniana é mais radical, porém. Os
britânicos sintetizaram em um só álbum, quase todas as fases por que passaram
nos 70’s e ainda atiraram brindes na barganha.
Pipe Up Downsland Derry Dell Danko abre com floresta de
flautas de empalidecer Ian Anderson; percussão de feira medieval e tudo mais,
mas atente como o breve cantar tem quê de Canterbury. A Futuristic
Auntyquarium, além do trocadilho, representaria título perfeito também para o
álbum: o antigo da Renascença vira free jazz no meio da faixa, com instrumentos
“de época” tocando música contemporânea, para novamente se recompor em alegoria
de cravo. Os onze minutos de Haddocks’ Eyes constituem-se em microuniverso de
estilos: erudito contemporâneo, pop folk setentista, Canterbury, quase-virada
hard-Crimsoniana, som de bandinha de fanfarra marcial. Como não perceber o
clima jazz na medievalidade de Hospitality
At A Price... Anyone For? Sailor V eruditamente escancara as semelhanças entre
celta, música de hino anglicano e certo tipo de country music.
A hora de música contida nas onze faixas de Reinvention
não apresenta defeito e faz desejar que o Gryphon não demore tanto para lançar
material.
Muito interessante mesmo! um álbum pra prestar bastante atenção em 2019. Ótimo texto, abraços! Ronaldo (Caravela Escarlate)
ResponderExcluir